Entrevista | Charly Coombes e o universo espacial de Black Moon

15/07/2016

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Marília Feix

Por: Marília Feix

Fotos: Rayana Macedo

15/07/2016

Charly Coombes nasceu na California, mas ainda criança foi morar na Inglaterra. Vindo de uma família de músicos que colecionam realizações, é o irmão mais novo de Gaz e Rob da banda Supergrass. Além de multi-insturmentista, compositor e cantor, Charly também é cineasta e fascinado por histórias espaciais e ficção científica desde a infância.

Na música, começou profissionalmente com a banda 20-20s, depois substituiu o irmão Rob nos teclados de alguns shows do Supregrass em 2006, quando em uma vinda ao Brasil conheceu sua esposa, a fotógrafa Rayana Macedo. Em 2009 formou a banda Charly Coombes and The New Breed e após três EP’s se reuniu ao irmão Gaz para a turnê do disco Here Come The Bombs (2012). Em seguida fez seu primeiro álbum solo, No Shelter (2013), em que tocou todos os instrumentos em coprodução com Gaz.

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Em 2014 Charly e Rayana Coombes se mudaram para Brasil e desde então vivem em São Paulo. A vinda da Inglaterra pra cá foi feita de navio, em quinze dias de reflexões, estrelas, céu e mar. Desse fluxo de mudanças e transições surgiu a inspiração para o mais recente disco do músico, Black Moon, produzido e executado inteiramente por Charly. Prestes a subir ao palco pela primeira vez com o álbum, ele nos contou um pouco sobre suas transformações, inspirações e planos para o futuro.

Sempre fui fã de Charly Coombes and The New Breed. Depois fiquei alguns anos sem saber de você. Quando escutei Black Moon pela primeira vez, foi uma ótima surpresa! Você mudou muito de lá pra cá.
A New Breed era muito mais direta, mais rock‘n’roll. Para o Black Moon, eu não estava tão preocupado em como ficaria ao vivo. Não tinha que decidir nada junto com a banda, nem pensar em como soaria com baixo, guitarra, piano e bateria. Tive a liberdade de decidir tudo por mim sem pensar no ao vivo. Pude incluir sons de orquestra, sintetizadores, loops.. Foi um disco mais livre. Talvez esse seja o grande desafio agora, transformar esse disco em um show.

E você produziu o disco sozinho, pela primeira vez, certo?
Sim, pela primeira vez. No meu primeiro disco solo, No Shelter, que é acústico, eu toquei todos os instrumentos, mas o Gaz produziu comigo. Já para Black Moon fiz absolutamente tudo sozinho. Toda a produção, mixagem, tudo. Foi um processo bem solitário, de introspecção mesmo.

Durante o processo de gravação você não chegou a pedir a opinião do Gaz ou de pessoas mais próximas?
Eu fui bem protetor com Black Moon. Até em relação ao meu irmão, minha esposa e a gravadora. Depois de um tempo comecei a mostrar um pouco. Mas só quando já estava no processo final mesmo. Eu queria que soasse o melhor possível antes de mostrar pra eles. Realmente tranquei a porta e me fechei para fazer este disco, mas claro, depois de um tempo comecei a perguntar. “Ok, você quer ouvir um pouco do que eu estou fazendo?” Mas isso foi bem no final. Ainda bem que todos gostaram, então acabei não mudando muita coisa (risos).

A sua mudança da Inglaterra para o Brasil foi em uma viagem de navio. Imagino que tenha tido muito tempo pra olhar para o céu e refletir sobre o álbum.
Foi uma sensação ótima passar esse tempo no navio, sem computador, sem estúdio, sem nada de equipamentos. Isso me deu muito tempo pra refletir, pra pensar mesmo no que eu queria dizer, em como esse disco iria soar. No barco, passamos seis dias sem ver a terra, só mar e céu. Isso foi muito valioso pra mim. Já que eu não posso viajar pelo espaço, tive essa experiência bonita e assustadora ao mesmo tempo, algo que deve acontecer também em uma viagem espacial.

Acho que o que me inspirou foi uma combinação do meu interesse pelo espaço e por ficção cientifica. São temas que sempre me emocionaram e eu sempre quis fazer algo relacionado a isso. Comecei produzir quando ainda morava na Inglaterra, nas primeiras sessions surgiram essas sonoridades espaciais, esse clima de trilha sonora mesmo. É um disco que fala sobre o movimento da vida, ao mesmo tempo em que conta histórias espaciais. Era como se fosse o meu espelho, dos desafios que eu estava prestes a viver, mudança de país, de casa, separação dos amigos, da família, mas ao mesmo tempo pensando que eu estava prestes a fazer novos amigos, ter uma nova família. Desafios que todo mundo enfrenta quando passa por mudanças. É sobre as mudanças humanas mesmo.

O quão importante você acha que é a conexão do ser humano com a o espaço e há quanto tempo você já vem pensando sobre isso?
Há muito tempo que eu me interesso por ficcção cientifica, acredito que há cerca de quinze anos eu venho pesquisando o assunto. No cinema sempre fui fascinado por Star Track, Star Wars e 2001 – Uma Odisseia no Espaço, por exemplo. Cresci assistindo esses filmes. E aos poucos comecei a estudar a realidade disso tudo e fiquei fascinado como a Missão Apollo e as viagens espaciais. Mas levando em consideração que há tantos problemas acontecendo aqui, como pobreza, doenças, racismo, fome, guerras… Porque olhar para o espaço? É da nossa natureza explorar o espaço. É algo que a gente sempre fez e sempre vai fazer. Não é uma questão de prazer ou entretenimento, é uma necessidade humana. Gosto de uma frase do astronauta Buzz Aldrin, que diz “Explore ou expire.” Porque vai chegar um dia em que esse interesse e fascinação se tornarão uma necessidade, algo que nós não poderemos mais ignorar, se quisermos pensar no futuro.

Você também trabalha como diretor de cena, certo? Talvez por isso Black Moon seja um álbum tão visual, cheio de texturas.
O álbum pra mim funciona como uma trilha sonora, isso acontece naturalmente. Os clipes de Black Moon também surgiram assim, as ideias imagéticas vem junto com a necessidade. Tenho limitações, não estou vendendo milhões de discos, então eu não tenho milhões de reais para fazer um vídeo, por isso penso cuidadosamente na ideia. Gosto muito do resultado que chegamos para esses clipes, ficou um clima meio lo fi, com texturas. Mostra um lado mais profundo do disco, não só uma colagem de imagens do espaço. Talvez textura seja a palavra certa, pois o álbum é bastante orgânico e cheio dessas texturas, é eletrônico mas também é orquestral, é quente e analógico. Acho que os vídeos trazem esse feeling.

Há uma boa mistura de referências também.
Sim acho que na época eu estava ouvindo muito Beach Boys, mas também Black Keys. Mas ao mesmo tempo eu estava ouvindo muito Debussy, Mussorgsky e Mozart. Muita trilha sonora também, caras como John Carpinter e John Williams, que fez a trilha de Start Track e Star Wars, que eu também cresci ouvindo. Sempre achei interessante a maneira como eles capturam os sentimentos através da música, é muito especial.

Você disse que produziu Black Moon sem pensar no ao vivo. E agora que o show está marcado, como vai ser?
É pior do que isso (risos). Porque como eu lhe disse antes, foi um álbum em que eu decidi não ter banda e não tocar ao vivo. Eu não queria ter uma banda, era só pra mim. Mas a realidade foi me mostrando aos poucos que na verdade tocar ao vivo seria uma boa ideia. O que é realmente desafiador. Mas o próprio álbum foi um desafio então tudo faz parte dessa trajetória, dessa viagem, desde a gravação até agora, pra transformar em um show. Isso é muito bonito mas muito assustador também (risos). De qualquer maneira tem sido uma ótima experiência, estamos ensaiando no momento e fazendo o melhor para que o show fique a altura do álbum. Estou acompanhado de grandes músicos e sem dúvida este show será muito especial.

E você pretende seguir em turnê com Black Moon?
É um passo de cada vez. É um álbum bem complexo que faz com que o show seja bem complexo também. A ideia é fazer esta apresentação bem especial em São Paulo e coordenar o lançamento de uma edição diferente do CD aqui no Brasil, pra só depois começar a pensar em mais datas. Definitivamente quero ir a Porto Alegre, Rio de Janeiro e outras capitais. Também há interesse pelo show no Reino Unido. Mas vamos ver como as coisas acontecem.

Morando em São Paulo você consegue ir a bastante shows? Alguma banda lhe chamou atenção?
Eu vou ao máximo de shows que eu consigo, mas recentemente tenho estado bastante ocupado com os ensaios e também com as gravações do meu próximo álbum que deve sair no ano que vem. Recentemente eu assisti a uma banda incrível chamada Lumen Craft. O show deles é ótimo, os caras são muito legais. Eles são da cena underground aqui de SP e fazem um som bem interessante.

E como vai ser o seu próximo disco?
Ainda estou escrevendo, eu tenho a maioria das músicas mas acho que ainda é um pouco cedo para comentar. Definitivamente é algo que eu estou bem animado a respeito. Em breve trarei mais notícias desse próximo álbum.

E você pretende ter uma banda ou fazer tudo sozinho novamente?
Por enquanto sou eu sozinho, gosto dessa liberdade. Mais uma vez eu estou dificultando as coisas pro meu lado, pois vai ser difícil de reproduzir ao vivo, mas quando for o momento, farei o meu melhor para que funcione.

Você gosta desse tipo de desafio?
De certa forma não (risos), mas talvez eu não consiga evitar. Gosto de me testar, de ver o que eu consigo fazer. Acredito que eu tenha as minhas expectativas do que eu quero ouvir. E tanto faz se é pra tocar ao vivo, ou se eu tenho algum tipo de restrição, de equipamentos e etc. Se eu quero ouvir um tipo de sonoridade, me foco nisso e trabalho duro para que aconteça. Talvez eu vá passar dois dias pensando em dois segundos de uma música, mas se é algo que precisa ser feito, então eu farei, pra ter certeza de que o resultado me deixou feliz.

Quem estiver em São Paulo já pode se programar para o show:
Charly Coombes apresenta Black Moon
Local | CCSP – Centro Cultural São Paulo / Rua Vergueiro, 100
Data | 24.07
Horário | 18h
Ingressos | R$20,00 – disponível na bilheteria em seu horário de funcionamento (terça a sábado, das 13h às 21h30; domingos, das 13h às 20h30), e no site Ingresso Rápido

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15/07/2016

Marília Feix

Marília Feix