Exclusivo|Ontem, hoje e amanhã com o Circo Motel

29/01/2016

Powered by WP Bannerize

Por: Fabiano Post

Fotos: Divulgação

29/01/2016

Cinco são as cabeças que formam a sentença da banda paulistana, Circo Motel. Eventualmente rolam uns membros-adendos-irmãos, em ocasiões especiais, podem virar 6,7,8…10…, como na festa de esquenta do auê, o novo rebento dos caras, no dia 26/01, na Casa do Mancha, em SP. Em verdade estamos aqui por causa dele, auê. O álbum é ponto culminante da maturação do Circo Motel. Abaixo segue a sua saga!

Há muitos caminhos para se contar uma história. Para mim, o começo sempre é o melhor caminho. O Rafael Gregório (guitarra e voz), láááá em 1998, “numas quebradas da zona norte de sampa”, segundo ele, conheceu Rodrigo Machado a.k.a Rodrigão (guitarra). Juntos queriam formar a maior banda do planeta Terra. Se a tarefa de fomentar uma bandinha já é suficientemente difícil; dificulte ainda mais. Exacerbar, esse é o lema dos fortes e resolutos e às vezes dos megalomaníacos, brincadeirinha.

*

Os membros embrionários do que anos mais tarde viria a se tornar a Circo Motel, tramparam em vários pequenos e perrenguísticos projetos juntos. Esse “pequeno apogeu” se deu em 1999 quando abriram um show para os Titãs no icônico Via Funchal.

Daremos um salto quântico para o novo milênio. Já em 2004 conheceram o terceiro elemento, Felipe Seabra (baixo). Durante os próximos quatro anos, o que nos conduz até 2008, foram testando formações no intuito de formarem uma banda autoral. Rafael tinha na manga uns sons para o repertório inicial. Ainda em 2008 gravaram, não perde a conta, Rafael, Rodrigo e Felipe, com mais dois fellas o EP Circo Motel, que se tratava de um hard rock chumbão daqueles bem pegados para o delírio dos head bangers de plantão. Mas a história desse início hard da banda zicou. Assim que a gravação do EP findou-se, a “chinela” piou a treta comeu e a banda acabou!

Na mesma época da zica, Rafael G., sempre ele, conheceu Thiago Coiote (batera), que trampava em um estúdio. Rafa foi até o estúdio num dia qualquer, mas não em qualquer dia, já que no dia, a banda de rock Siete Armas, formada somente por minas, fazia um ensaio. Rafael chamou o Coitote para fumar um cigarrão, trocaram umas ideias e remarcaram a regravação do EP, micado, com o Thiago na cozinha e o Rodrigo fazendo as duas guitas.

Eis então que na aurora de 2009, com a chegada de Rafael Charnet (guitarra), após uma trajetória épica de praticamente 11 anos, o Circo Motel finalmente deu as caras no horizonte como banda. O clube dos cinco, fechô! É o começo da maior banda do Planeta, pelo menos do planeta dos caras. Demorô! Deixo aqui devidamente creditado os músicos que unem forças para o “Circo pegar fogo”, são eles: Lucas Joly (trompete); Jorge Cirilo (saxofone); Ademílson Guarú (trombone); Irina Bertolucci (teclados) e Décio 7 (percussão).

Seguindo firmes e fortes rumo ao auê, que é nosso goal. Antes é preciso fazer um pit-stop no ocaso de 2010, reparem que se passaram dois anos da formação oficial do CM. E foi justamente em 2010 que o Circo Motel, fadado ao gigantismo, manufaturou seu primeiro rebento, Sobre Coiotes e Pássaros. Sete faixas foram gravadas no estúdio Lamparina, produzido por Rafael Chicão e mixado por Guto Gonzales. Nele o rock do Circo Motel já era uma infindável ramificação de possibilidades. Aliás, a melhor definição para som dos caras foi a sacação do Rafa Charnet: “Rock Soul Tropical”, e toda a família CM concorda. Rafael Gregório o define como “um disco pouco coeso, uma imagem borrada, como se tivessem fotografando a gente a correr, porém transparente e divertido”. E diz que a faixa “Sunshine” foi um norte para o futuro da banda.

O disco foi lançado em um show lendário da banda, no Apê 80, em 2011. Foi um tremendo sucesso, tinham umas 140 pessoas espremidas no apartamento e mais de 100 numa lista de espera no térreo.

“Nessa época foram nossos primeiros experimentos com arranjos de teclas e sopros. Nunca mais largamos essa formação estendida de banda de rock, um lance meio Otis Redding, meio Jorge Ben, meio Stones 1972.”, completa Gregório. Em suma, Sobre Coiotes e Pássaros foi um grande aprendizado e a grande prova de fogo do Circo Motel. Pode se dizer que foi seu big bang artístico e rumo à maturação musical. “Divulgamos esse álbum na raça. A gente ainda estava aprendendo a nadar nessa sopa de produção cultural que se tornou o lance até-então-só-artístico de ter uma banda autoral.”, crava Rafa Gregório. Rafael Charnet, conclui: “O mais legal de olhar pro Sobre Coiotes e Pássaros hoje, é que conseguimos identificar o trabalho de guitarras que iniciamos lá e se consolidaram no auê. Há uma preocupação com o diálogo entre as duas nos arranjos, deixando de lado aquela parede sonora de guitarras, bem característico no rock. De lá pra cá, esse exercício de tirar notas e limpar os arranjos se intensificou e ajudou a valorizar os outros elementos, como as teclas e os instrumentos de sopro”.

A vida por vezes arma umas presepadas cabulosas. E esse parece ter sido o mote do final agourento de 2012 para os caras do Circo Motel. Mortes, divórcios, vícios, doenças, tensão, e todo tipo de desventura, recaiu como uma névoa densa e negra sobre os caras. Vá de retro urucá! Mas o que não te mata te fortalece!
“Cada um ao seu modo passou por momentos muito tensos. Na época parecia que a gente estava se desmobilizando enquanto banda, mas na verdade estávamos nos unindo como nunca como músicos e amigos.”, relata Rafael G.Essas atribulações ferradas foram fucks, mas foi nesse período de negritudes que os caras forjaram a ideia do que viria a ser o auê. A tenacidade transforma latão em ouro!

O ano seguinte, 2013, foi para arrumar a casa. Voltar para o essencial, se despir, se entocar em uma garagem, tocando, fazendo, escrevendo e ouvindo música. Nada de shows.“A gente queria: som minimalista orgânico vivo dançante. Letras honestas, menos metafóricas. Tudo nascendo mais direto e a partir das experiências do cotidiano, sem condicionamentos.”, diz Gregório. Nessa linha “volta às aulas”, reaprender o beabá, abraçar a humildade, ou se deixar abraçar por ela. Rafael Gregório disse ter escrito uma porrada de músicas que tiveram como destino o latão de recicláveis. Confidenciou que precisou aprender “outras formas de compor”.

Lógico que em meio ao caos sempre há um fio condutor de luz buscando redenção, e daí surgiram várias novas canções que não mereciam o lixo como destino. Na verdade o Circo Motel estava passando por um período extremamente fértil e criativo. Oxalá!

Já em 2014, com as águas turbulentas de 2013 no passado, com a casa arrumada, o sol brilhando e os pássaros cantarolando, testaram seu novo repertório, manufaturado durante o internato auto imposto, em uns 347 gigs, naquele ano. E foi massa!

A essa altura, auê já estava pronto só aguardando o ano de 2015 abraçá-lo! “Feijoada” foi à última faixa, de auê, a ser escrita. É prova cabal de quê os últimos serão os primeiros, já que se tornou o primeiro single lançado do álbum. Fala aê Gregório como foi essa manufatura: “Eu e Rodrigão, malucos, acidentalmente presos numa balada horrível com gente *moderna*; lembrando um riff de guitarra do Rafa Charnet, mas pensando no contratempo do que seria se fosse rockão, costurando frase em cima de frase.”

Eis que 2015, seu lindo chegou, e já passou, e foi no ano de sua graça que auê foi produzido por Cris Scabello, guitarrista do Bixiga 70, no estúdio Traquitana, em SP. Para Rafael Gregório, Scabello foi decisivo na produção de auê: “O grande lance do Cris foi justamente à sutileza, a delicadeza, a seletividade pra escolher o que falar e o que deixar quieto e principalmente a forma como nos encorajou a acreditar nas respostas que já tínhamos”.

A mixagem fodona é do Victor Rice e a masterização ficou a cargo do Fernando Sanshes. As onze faixas de “auê” vem recheadona com a suingueira do funk e do soul que são a verve do Circo Motel, o rock é a ponte que une todas as ramificações e faz um belíssimo embrulho.
Durante a chamada para ordenar as faixas do novo álbum, os caras tiveram a sacada de imprimir além dos CDs uns bolachões – para a gurizada nova, é o velho e amado vinil.

Aí eu perguntei: – De onde veio essa sacação? E o Rafa Charnet, responde: “Cara, ele tem um lado b, bem “lado b”, que mostra outras facetas além do groove e resgata algumas raízes nossas. É uma preocupação conceitual que acabou se perdendo nesses tempos de música digital e streaming, mas que achamos importante resgatar. É aquele prazer de colocar o bolachão na vitrola, ter uma relação mais contemplativa com o disco e não fazer milhões de coisas ao mesmo tempo.

Pensa que acabou, not yet…o auê continua! O din para a manufatura do auê findou-se e a banda optou pelo financiamento coletivo para prensar as bolachas e os CDs. Ainda faltam 14 mil reais para botar o auê na rua. Sendo assim, vamos falar de crowdfunding.

Os caras pensaram no crowdfunding desde o começo. Optaram em se jogar inteiros na elaboração de auê. Fazer simplesmente o que dava, com o money que tinha, não era uma opção para o projeto já que escolheram trabalhar com profissionais de altíssimo nível. Além do mais, é chegada a hora de recompensar todos os músicos-brothers e colaboradores que deram sangue e amor nesse trampo.

É isso aí, os pilas encurtaram, então vamos fortalecer aí galera, a economia tá foda, bem sei eu, mas sempre tem um troco para ser usado de forma edificante. A hora é agora, a oportunidade dourada é o auê! Hora de liberar uns reais que te serão recompensados em dobro, não pelo todo poderoso, mas pelo Circo Motel.

A premiação tá massa. Tem CDzão, vinilzão, compactozão versão dub do Victor Rise, camisetão, e ingressão para o showzão-almoção-feijoadão. Corre lá que faltam poucos dias! A campanha se encerra na terça-feira dia 2 de fevereiro!

“Apesar de toda a metafísica do mundo pós-moderno-diferentão, ainda precisamos superar a etapa de botar um disquinho físico na rua para alçar desafios maiores.
É um tanto constrangedor abordar as pessoas pedindo grana, mas tenho esperança que vão compreender e mais que isso, pirar sinceramente quando receberem seus discos e botarem pra tocar. A viagem foi longa, encerra Rafa Gregório!

Crowdfunding na regressiva e a boa ansiedade bateu na porta dos caras do Circo Motel que não seguraram a onda e liberaram com exclusividade para Noize a faixa “Coração Tropical”, o segundo single do “auê”, que logo logo vai ganhar sua versão videoclíptica!

Boa sorte na finaleira dessa longa jornada Circo Motel; que o seu, o nosso, tão aguardado auê chegue ao mundo faceiro e iluminado! Enfim, para todo fim um recomeço!

Tags:, , , , , , , , , ,

29/01/2016

Gaúcho, de Porto Alegre, vivendo a 15 anos no Rio de Janeiro. Colaborador da Vice Brasil e autor lusófono do portal de mídia cidadã Global Voices.

Fabiano Post