Exclusivo | O monstro psicodélico do Defalla no novo clipe de “Zen Frankenstein”

05/05/2016

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação/Raul Krebs

05/05/2016

O Defalla sempre foi uma banda que rompeu as fronteiras do tempo e, hoje, faz isso mais do que nunca. O recém lançado Monstro (2016) chegou pagando uma dívida com os fãs do passado, mas não há dúvidas de que esse é um disco do presente que mira o futuro. O álbum distribuído pela Deck será lançado em São Paulo amanhã (6/5), no Sesc Pompeia, a partir das 20h30 (mais informações aqui) e a NOIZE lança hoje com exclusividade o primeiro clipe do álbum, “Zen Frankenstein”, que você assiste abaixo.

– Cada vez mais as pessoas se preocupam com alimentação orgânica, yoga e meditação, por exemplo, mas ainda vivem nas cidades e ainda precisam passar horas no trânsito e ainda têm vontade de socar a pessoa do lado na fila do banco. É uma incongruência muito grande, por isso surgiu o conceito de Zen Frankenstein. Queremos viver melhor, mas vivemos numa sociedade brutal. A gente tá nesse momento de transição, que é muito interessante – explica o vocalista e produtor Edu K na entrevista que você lê abaixo do vídeo.

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Como uma síntese da violência psicodélica dos tempos atuais, o clipe de “Zen Frankenstein” foi dirigido e editado pelo próprio vocalista da banda com o objetivo de expandir a consciência do espectador. Composto a partir de uma técnica chamada “frame by frame”, o vídeo foi todo captado com um celular e, posteriormente, suas imagens foram tratadas quadro a quadro, criando um resultado tão caótico e avassalador quanto as mentes de Edu K, Castor Daudt, Carlo Pianta, e Biba Meira.

Assista (de preferência, em 1080p | HD):

“A música precisa voltar a ter esse poder espiritual e político de amenizar a dor das pessoas e trazer questionamentos. O Defalla é ponta de lança nisso”, diz Edu K

Monstro é um disco auto biográfico?
Ele se enquadra nisso também. Ele é um álbum conceitual, temático, que fala de monstruosidades humanas e da maneira como as pessoas tentam fugir disso também, tentando ser um pouco mais humanas de novo. Isso faz parte da minha história. Fui um cara educado em casa com uma filosofia zen pra caralho e, nesse disco, o Defalla fala pela primeira vez de espiritualidade. Fala de uma busca por uma certa luz interna. Isso tem a ver comigo, mas tem a ver com uma história que todos nós estamos vivendo. Cada vez mais as pessoas se preocupam com alimentação orgânica, yoga e meditação, por exemplo, mas elas ainda vivem nas cidades e ainda precisam passar horas no trânsito e ainda têm vontade de socar a pessoa do lado na fila do banco. É uma incongruência muito grande, por isso surgiu o conceito de Zen Frankenstein. Queremos viver melhor, mas vivemos numa sociedade brutal. E a gente tá nesse momento de transição, que é muito interessante. O Monstro vem pra fazer um comentário sobre isso.

É curioso ouvir você falar isso, soa como uma maturidade inédita no discurso da banda.
Com certeza, o Defalla sempre foi uma banda irônica, sarcástica, violenta, agressiva, e não deixamos de ser. Só que a ironia hoje é muito mais fina, afiada e entra muito mais profundamente. O disco mostra essa evolução da banda. Não viramos um bando de velhos chatos, resmungões, pregando um monte de coisa. A gente está comentando o que está acontecendo. Somos uma banda de 2016. Começamos em 1985, mas nosso som é de 2016 e nosso discurso é de 2016. Estamos numa busca por um mundo melhor com todo mundo. Todas as pessoas estão, mesmo as que não sabem, faz parte da nossa função no planeta. Vivemos num mundo caótico de dor e sofrimento e as pessoas não estão mais aguentando isso. E o artista deve estar sintonizado pra ajudar o questionamento e ajudar dando um alívio pras pessoas. O entretenimento é importante também, só acho que ele acaba cegando as pessoas em geral. Quando isso vira uma arma contra a tua evolução, aí tu tá fodido. A música precisa voltar a ter esse poder espiritual e político de amenizar a dor das pessoas e trazer questionamentos.

Por exemplo, tem a participação do Humberto Gessinger no disco. Essa é uma participação contundente pra boa parte dos fãs porque eles são preconceituosos, na verdade. As pessoas em geral são preconceituosas e a gente vive numa época de caretice e de direita desenfreada muito louca, que eu nunca pensei que ia ver, então é legal gerar essa discussão. “Como assim, Humberto Gessinger?”. Ele é um gênio do pop, um cara que a gente admira, que faz parte da história da banda desde o início. Sempre fizemos uma brincadeira meio Stones X Beatles e eu gosto dessas coisas sutis que o Defalla faz e trazem essa discussão. O artista precisa fazer isso. Essa indústria cresceu e ficou tão brutal que nós acabamos esquecendo de algumas funções sociais de ser artista. Isso é importante, a gente tá numa hora de buscar isso de novo. O Defalla é ponta de lança nisso.

Pra mim, tem dois pilares que marcam o som do Defalla: o experimentalismo e o pop que é descaradamente pop.
(Risos) E isso tá no novo disco. Com a idade, chegamos a um equilíbrio interno, amadurecemos bastante como pessoas, como produtores, como músicos, e isso se vê na música. Nesse disco acho que conseguimos um equilíbrio quase perfeito entre o experimentalismo e o pop. O experimentalismo tá ali, às vezes ele é grotesco, mas às vezes é só um subtexto, tu nem tá sacando e ele tá ali. Isso propicia que o lado pop aflore mais. E o Castor é muito um xamã do pop. Eu sou fã da minha banda! Sou fã do Carlo [Pianta], fico muito feliz que ele tenha voltado, apesar de que eu adorava o Flu, mas ele foi seguir o caminho dele então a gente chamou o Carlo. A Biba toca de um jeito que só ela toca e o Castor é pop, mas é meio pós-punk, eu acho isso do caralho. A gente faz um som muito característico, e no Monstro achamos um equilíbrio que certamente vai se manter daqui pra frente. Voltamos a tocar juntos pra tocar, não pra fazer um disco e desaparecer. Eu quero fazer como antigamente, cair na estrada e tocar e ver as pessoas na cara, não só pela internet. Acho que estamos em um movimento mundial que não é contra as novas tecnologias, mas quer adaptar o nosso lado humano a elas. Usufruir delas, mas não deixar de usufruir das coisas carnais.

O DeFalla se preocupa mais em chocar ou em agradar o público?
Na verdade, nem um nem outro porque a gente não se preocupa com nada. Fazemos o que a gente tá a fim. Só que a sintonia com os outros é muito importante. Jamais vamos sentar e dizer: ó, vamos fazer tal coisa porque isso vai agradar ou então desagradar. Hoje em dia a gente nem fala mais, vamos só pela telepatia psicodélica musical e as coisas vão acontecendo. Não temos um plano. Isso que falei do Gessinger eu só percebi depois, a participação dele no disco veio organicamente, a Pitty e o Beto Bruno, da Cachorro Grande, também. Assim como as músicas, entrávamos no estúdio e ficávamos tocando, disso saíram as músicas. Demoramos quase quatro anos pra fazer esse disco, mas as faixas não ficaram velhas porque o Defalla tem essa característica: nossa música é viva, ela nunca morre. O Monstro é uma ponte do Defalla dos anos 80 com o Defalla de agora, por isso que o prelúdio do início é um interlúdio, e o DeFalla vai continuar. Viemos com força pra nos manter. A gente é necessário pro mundo, pra música, pro entretenimento, mas também pra evolução que a arte deve puxar. Alguém precisa puxar o tremzinho, né.



Por que fazer um disco retomando esse passado ao invés de propor uma nova experimentação?
Aí é que tá. O disco novo é uma nova experimentação. Porém, aquilo que fizemos naqueles dois primeiros discos é a nossa essência. É um funk James Brown vitiligo, um soul Tim Maia com groove branco pós-punk e uma pegada pesada e, ao mesmo tempo, pop guitarreiro, Teenage Fan Club, Beatles, Jesus and Mary Chain. Tem todo um universo de influências que eu cito pra situar quem não conhece porque, na verdade, a gente nem fala sobre essas coisas, elas fazem parte do nosso DNA. A gente faz parte dessas coisas. E não é um disco retrô, não é um disco olhando pra trás. É um disco que faz as pazes com os fãs originais do Defalla e ao mesmo tempo abre portas pros fãs novos. O que o Defalla tem de melhor é esse universo pop e psicodélico, isso tá muito bem registrado naqueles discos. A gente pode ter mudado com os anos, mas a gente é isso. O Defalla, muito por minha psicopatia e esquizofrenia, experimentou coisas muito loucas. Chegamos a fazer sucesso com “Popozuda Rock N Roll”, mas aquele DeFalla original é uma música única que só a gente faz. Isso que é interessante, por isso que eu faço essa ponte.

Vocês estão pagando uma dívida com o público original?
A gente tinha dívida não só com esse público, mas com a gente mesmo. (Risos) Um tanto desse discurso todo aprendi participando d’A Fazenda. Ali, aprendi o quanto os fãs são importantes e o quanto a gente é importante pra eles. O Defalla sempre teve uma postura um pouco mais arrogante, avant-gard, tipo, “somos ponta de lança e estamos aqui pra mostrar o caminho”. Foda-se se vão entender ou não. Acho legal essa postura também. Mas agora eu vejo com mais carinho a devoção que as pessoas têm. Tem muita gente que é devota do Defalla e briga pelo Defalla, e briga com a gente dizendo “isso não é Defalla”, enquanto a gente acha que tudo é Defalla. Mas a pariticpação lá me abriu pra ver como funciona isso pras pessoas. Aí tô aplicando esse conceito na banda.

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05/05/2016

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

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