Carlinhos no Porão #3: 1º dia

02/09/2013

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

02/09/2013

Meu primeiro dia de Porão do Rock começou com uma aula introdutória essencial que, mal sabia eu, seria primordial para a experiência do festival em si. Às 15h, fui com outros jornalistas à uma sessão extraordinária do filme “Geração Baré-Cola – Usuários de Rock”, do diretor Patrick Grosner, sobre a leva de banda brasilienses do final dos anos oitenta e começo dos 90 (Raimundos, P.U.S., Little Quail and The Mad Birds, Maskavo Roots, D.F.C., Os Cabeloduro e mais umas quatrocentas outras – isso mesmo, 400, tá no filme). O documentário intercala vídeos de shows da época e clipes com depoimentos dos personagens e suas histórias divertidas sobre essa galera que veio depois do boom de bandas da capital e apostou mais pesado em hardcore, rockabilly e misturebas sonoras típicas das bandas dos 90.

Esse espírito, durante a noite, andando entre palcos e shows, é o espírito que rege o Porão. Aquela galera, os públicos e as pessoas que apareciam no filme, em imagens de 92, por aí, músicos incluídos, parecem ser os mesmos que circulam pela superestrutura que é o Porão do Rock. Até nas roupas parece que a galera ainda está em noventa e poucos. Roqueiros de camisetas pretas em sua maioria, como manda o acordo tácito dos metaleiros, alguns de capote preto em visual meio gótico anos 80, inovando, quando muito, nos patchs punks costurados nas jaquetas de couro. Eles pogueavam como no filme e carregavam uma rebeldia irreverente, semelhante à que o filme mostra ter inspirado aquele pessoal nos seus começos de bandas.

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The Galo Power

The Galo Power

Já na chegada, antes de me acostumar ao local e tomar a primeira cervejinha, tinha no palco uma banda demais, com um vocalista magrelinho, calça de brim, cinto marrom e sem camisa, pirando ser o Iggy Pop com toda fé do mundo – e eu vi ali um respingo de milagre brasileiro. Enquanto achava a sala de imprensa, falava com a produção e reconhecia o ambiente, eles saíram do palco e eu acabei nem vendo direito. Com pesar. Se chamavam Dualid. Em seguida veio a Goiana The Galo Power (melhor nome, combinado?) com um repertório stoner, em inglês (ou eu não tava entendendo a língua) que quase no finalzinho embalou umas duas em português e uma levada mais anos 60, diferente de como tinha começado. Uma delas ficou na cabeça e provavelmente tenha sido o meu hino da noite. “Eu sou Psicodélico” era cantado em uma melodia que lembrava um pouquinho o “Admirável Gado Novo” do Zé Ramalho. Coisa bem louca e boa. Achei que era uma versão de algo (por ser tão diferente do que tava rolando antes) e, sim, era. O mestre da pansexualidade Serguei a gravou em 68. Belo resgate!

Daí o trago começou a fluir mais doidamente e a prestação de atenção nas coisas degringolou. No Palco Budweiser, onde rolam as bandas de metal e pogos lindos, encontrei a personagem mais legal da noite: Lilith Dias Ferreira, uma guriazinha de 3 anos que estava pogueando com o pai, enquanto a banda Falls of Silence chamava num metal extremo lindo de se ver.

Lilith Dias Ferreira, Bruno Ferreira e Luana Dias. Foto: Carlinhos Carneiro

Lilith Dias Ferreira, Bruno Ferreira e Luana Dias. Foto: Carlinhos Carneiro

A Lilith tem 3 anos recém feitos, na segunda feira, dia 26/8 – e eu segurei o choro mas não a emoção ao lembrar da minha filhinha Sofia, que também fez os mesmos três anos essa semana, na quinta feira, 29 – e eu nem consegui abraçá-la e presenteá-la ainda! Buá!? O Bruno é de Brasília mesmo, a Luana é de Roraima. Eles se conheceram em Brasília, se apaixonaram e fizeram juntos a Lilith. É assim que nascem os bebês. Mesmo os metaleiros.?Catêga: eles chamavam a atenção com a pequena pogueando e curtindo pacas o death metal que comia solto no palco, e ninguém deixou de perceber a camiseta do Bruno: “Pagode Nem Pensar”. A Lilith adora ir aos shows de metal e som pesado com os pais e não era a sua estreia, em junho ela já havia ido a um show do Matanza com eles.

Carlinhos, vodka e Jägermeister

Carlinhos, vodka e Jägermeister

Daí chegou a hora de explorar as variedades de drinques e rangos do festival. Vodka com Jägermeister. E a caixa preta foi parar em Porto Rico, num bar de beira de estrada com uma jukebox onde ouve-se o melhor da seresta local e os frequentadores ouvem cantando junto e chorando. Acho que isso aconteceu mais ou menos na mesma hora em que percebi a chegada dos Abutres, os Hell’s Angels brasileiros, e inevitavelmente pensei em Altamont e “Gimme Shelter” dos Stones. Gordo preconceituoso. Eles não tem nada a ver com aquilo – por mais que tenha achado estranho que eles não deixavam ninguém entrar na Cidade dos Banheiros (aquele condomínio de banheiros químicos, saca?!), quando um deles lá, provavelmente o líder, estava lá dentro.

E o Dead Fish subiu no palco. E a roda punk foi linda de ver, tão emocionante que uma das minhas companhias, o Beatificado Toscani, resolveu ir pro pau. E aí o Milagre Brasileiro se fez presente.

Marcelo Toscani no show do Dead Fish. Foto: Carlinhos Carneiro

Marcelo Toscani no show do Dead Fish. Foto: Carlinhos Carneiro

Marcelo Toscani, o Beatificado.?Por que Beatificado? Não sei, só achei que seria preza chamá-lo assim. Mas o fato é que ele era uma espécie de herói da minha época de faculdade, ídolo da galera, que o seguia como se segue a um santo. Pronto, explicado.? No meio da roda punk, o Toscani deixou cair o seu iPhone. Entre milhares de pessoas se chutando. Ele deu mais uma volta na roda olhando pro chão e o achou, praticamente intacto (só com um rachadinho na tela, bem de boa). Milagre.? Ele veio pro Porão pra ver o Soufly e o Suicidal Tendencies, que toca hoje. ?Currículo: O Toscani é metaleiro dos bons, vocalista, cheio das técnicas, canta uns Iron Maiden e Helloween e tal, mas também apresenta-se como cantor erudito, em óperas e recitais de música clássica. Um cara massa, vai dizê?!

Aí eu já não sei mais a ordem das bandas, e se olhar na programação vou só me confundir e ficar triste por não lembrar. Só sei que quando subiu no Palco BRB a banda Nem Liminha Ouviu, me emocionei. Não só com o repertório (eles fazem covers das bandas mais lado B do rock brasileiro – Inocentes, Replicantes, Fellini, Violeta de Outono e muito mais), mas com o guitarrista, o ex-Toy Shop Gabriel Weinberg, que tocou com a Bidê quando moramos em São Paulo. Invadi o camarim pra abraçá-lo, trocar uns papos e filar um trago. Depois invadi o camarim do Capital Inicial para cumprimentar o batera Fê Lemos, que é meu bróder. O camarim deles era um clima boate, com luz vermelha e umas cangas de rock na parede, garotas sentadas conversando com membros da banda e um som próprio (acho que tinha até DJ – ou eu to viajando nisso). Fiquei um tempinho por ali e comecei a achar que eu estava transformado oficialmente no chato que invade camarins e aproveitei a deixa de que eles iam para o palco e saí fora. Não sem antes dizer ao Dinho Ouro Preto que ele decepcionaria meus leitores, para quem eu havia prometido que ele estaria de camiseta e com cavanhaque. Nem um nem outro, tirou a camiseta e tava sem cavanhaque. Que gafe a minha!

Capital Inicial

Capital Inicial

O show do Capital foi uma comoção. Era a primeira vez que eles tocavam nesse que é o principal festival de rock da cidade deles e a curtição disso era visível. O repertório foi cheio de músicas antigas, do primeiro disco, como “Veraneio Vascaína”, e o público os recebeu com a mesma preza que estava recebendo qualquer banda. Pogo e tudo.

E daí eu já não lembro mais nada mesmo. Sei que vim pro hotel mais cedo e nem assisti os últimos shows, do Soulfly e do Matanza. Mas se assistisse não lembraria. Fogo total. E eu me lembrei do Cabeção da “Malhação” dizendo “eu sou eterno aqui nessa BRASILA”.

Diz que quando eu cheguei eu liguei pra minha namorada e a pedi em casamento. Ela que me contou. Mas não disse se aceitou.

Me despeço com mais uma frase do mestre Sergio Hondjakoff (o Cabeção da “Malhação”): “Fiquem ligado nas fitas de alta periculosidade que estão rolando nessa festa que foi, pô, vai se… tá sendo. É nóis. Sapinhooow!

(Fotos: Gerdan/Porão do Rock)

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02/09/2013

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