Organizado pela musicista e socióloga Flavia Biggs, um grupo de voluntárias se dedica durante cinco dias a empoderar meninas de 7 a 17 anos de idade. O projeto pioneiro na América Latina Girls Rock Camp Brasil chega à sua 3ª edição em 2015 com as inscrições já totalmente preenchidas por garotas que querem incorporar a atitude rock’n’roll em seu dia a dia.
“A adolescência e a infância são fases difíceis da nossa vida e quanto mais empoderadas elas estiverem para lidar com as questões que podem aparecer, melhor ainda”, comentou Flavia, a diretora e coordenadora pedagógica do projeto, e também guitarrista e vocalista no The Biggs. A ideia não é moldar o comportamento das meninas, mas prepará-las para lidar com situações que irão enfrentar por serem mulheres. Além da aprenderem diferentes instrumentos musicais, oficinas como “Imagem e Identidade” e “Defesa Pessoal” ensinam as meninas a como filtrarem os padrões de beleza impostos pela mídia e a se defenderem de ataques físicos.
No meio de tudo isso está a música, o plano de fundo do Girls Rock Camp. “É o meio lúdico para fazer esse desenvolvimento humano nelas”, destaca Flavia. Foi ela quem trouxe o projeto ao Brasil em 2013. Em 2003 que a ideia começou a se desenvolver, quando Flavia participou do mesmo modelo de acampamento musical para meninas em Portland, nos Estados Unidos, que acontece desde 2001. Dois anos depois, ela deu início a uma oficina de guitarra para meninas que, mais tarde, evoluiu para o Girls Rock Camp, realizado em uma escola de Sorocaba.
Girls Rock Camp é um projeto independente, sem fins lucrativos e sem vínculo governamental. Assim, todos os equipamentos e instrumentos usados são emprestados pelas voluntárias e amigos. O dinheiro arrecadado das inscrições, doações e eventos beneficentes é revertido em material para as oficinas, comida e outros gastos que surgem no meio do caminho.
Mas a logística para reunir os equipamentos emprestados ainda é muito cara, complicada e demanda tempo demais. Pensando nisso, Flavia abriu um projeto de financiamento coletivo pela plataforma Catarse, a fim de reunir fundos para a compra do “grosso” do material: amplificadores, bancos de bateria, microfones, suportes e teclados. Você pode contribuir com o que puder para o projeto clicando aqui. O financiamento já atingiu R$ 13 mil até agora, mas é importante lembrar que o projeto só será financiado se chegar à meta de R$ 29 mil, ou todo o dinheiro será retornado aos contribuintes.
“É um projeto global, não é exclusivo sobre como aprender um instrumento. É um projeto de empoderamento, então o instrumento é uma das coisas que elas aprendem lá. Tem mais a ver com o ‘poder fazer’. Poder enfrentar as questões do cotidiano e lidar com os problemas que se apresentarem na vida. Não só com os problemas, mas também com a realidade social das mulheres”, conta Biggs.
O “acampamento” é apenas um conceito, pois até agora o projeto ainda não tem como alojar as meninas que nos dias 19 e 24 de janeiro terão uma agenda cheia atividades que envolvem também a formação de uma banda e a composição de uma música própria que será apresentada no final do projeto em um show ao vivo. O aproveitamento das garotas é tão completo que muitas vão participar pela terceira vez do projeto, grande parte incentivada por pais apaixonados pela música e por ver suas filhas como protagonistas.
As voluntárias são a parte mais especial do projeto. A maioria delas são musicistas e estão envolvidas em movimentos sociais. São elas que oferecem modelos de mulheres independentes e reais que ajudam a fortalecer a auto-estima das meninas. Mais do que ensinar a tocar perfeitamente um instrumento, elas desenvolvem a capacidade de livre expressão nas garotas.
“Nosso objetivo é mostrar pras meninas que existem mulheres de todos os tipos tocando e fazendo música. E fazer essa troca entre mulheres é uma coisa muito positiva, porque é um projeto de empoderamento feminino, então nada melhor do que mulheres trocando com mulheres experiências de vida sobre como ser musicista, independente e um ser humano completo”.
Vivendo no meio musical e sabendo da dificuldade de se encontrar uma banda formada por meninas, Flavia nos contou feliz da vida que algumas bandas formadas no Girls Rock Camp continuam na ativa e com a agenda cheia. Uma delas é o Power Girls, grupo de meninas que chegou até a lançar um clipe esse ano, “Go Go Power Girls”.
Chega a ser mágico. São cinco dias de atividades. Do primeiro ao quinto dia, é visível [uma transformação nas meninas]. No primeiro dia elas ainda estão um pouco acanhadas, com um pouco de vergonha, e no último dia elas já estão todas amigas, brincando, se solidarizando, formando grupos e é muito legal. Os pais poderiam responder melhor do que eu até, porque elas mudam até o comportamento no dia a dia, ficam mais confiantes, mais determinadas.
Saiba mais sobre o Girls Rock Camp:
girlsrockcampbrasil.org