Porto Alegre foi uma das cidades brindadas pela passagem de Criolo com o show da turnê “Boca de Lobo” em 2018. No dia 6 de dezembro, ele comandou mais uma noite daquelas no palco do Bar Opinião.
O que nem todo mundo sabia, até agora, é que essa passagem foi documentada em um registro fotográfico de tirar o fôlego. A fotógrafa e amiga de Criolo, Tulia Radaelli, aproveitou a curta estadia do rapper para realizar um ensaio inédito com ele no interior da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, na rua Riachuelo, no Centro Histórico da cidade.
Abaixo, com exclusividade para a NOIZE, você poderá conferir as fotos de Tulia, um breve relato dela sobre o ensaio e também um trecho de uma entrevista inédita que fizemos com Criolo e que estará na íntegra na edição da revista NOIZE #091 que acompanha o vinil de “No Voo do Urubu” (2016) de Arthur Verocai, que os assinantes do NOIZE Record Club receberão no final de agosto. Para não perder as próximas edições, assine aqui.
“Eu já tinho ido até à Biblioteca antes, sabia que tinha umas paredes lindas lá, uma janelas grandes, várias salas, uma escada…, enfim, era um lugar no qual ele poderia interagir e que não exigiria grandes produções”, rememora. O ensaio é resultado de uma dinâmica orgânica com direcionamentos da fotógrafa, propostas do próprio rapper e ideias que rolavam na hora. “A gente foi caminhando, às vezes ele parava para observar e eu já tirava foto. Foi pensado, eu levei alguns itens, mas também trabalhamos muito com o que rolou na hora. Foi incrível!”, declara Tulia.
Trecho da entrevista “Criolo, só no sapatinho”, publicada na íntegra na revista NOIZE #091.
Você está se dedicando às datas na Europa da turnê “Boca de Lobo”, que vem trazendo uma roupagem híbrida entre o orgânico e o eletrônico. Como tem sido a construção dessa experimentação sonora?
Olha, isso aí a gente esperou um tempão também para começar a fazer. Isso é muito legal, é muito bom, cara, porque pra mim vai de que a gente está conversando aqui, embora eu esteja lendo as perguntas, eu tô imaginando vocês aqui comigo nesse momento. Que nem a gente conversou lá na outra pergunta que vocês fizeram, era um prazer muito grande porque naturalmente deságua essa memória afetiva de adolescente, de criança, de primeira fase adulta, de curtir os bailes, de escutar os sons. É demais cara, é muito bom, tem sido muito bom. A música te promove um bem estar assim. Tem sido bem gostoso. A gente também está vivendo esse, eu não sei descrever para você… a gente está no calor da construção. Tem essa memória afetiva, esse retornar a determinado momento da sua vida, mas também tem o ineditismo de você estar construindo também do zero uma nova história musical.
Em setembro, você participará do Congresso Europeu de Samba na Alemanha. Como rolou esse convite, qual será exatamente a sua participação e qual é a expectativa?
Eu vou fazer uma apresentação, vamos cantar muitos sambas juntos. Tem uma banda espetacular montada lá, que também vem de uma alegria muito grande, de um dançarino internacional, reconhecido internacionalmente, o Irineu [Nogueira], que está envolvido nesse processo de construção desse Congresso. É uma pessoa que eu respeito muito. Fica aqui meu salve ao Irineu, que eu tenho certeza que, de alguma forma, essa entrevista de vocês alcança outros países, e tenho certeza que ele vai ter contato com isso. Irineu, muita gratidão pelo convite! E também muito desse processo é de um músico esplendoroso, que é o Maurício Badé. Ele acabou de lançar seu álbum de produção dele, da Batucada Tamarindo. Essa turma vai estar lá. Então, não tinha como não aceitar esse convite de poder trabalhar mais uma vez com o mestre Maurício Badé. Eu escutei o disco (homônimo, 2019) da Batucada Tamarindo e é espetacular, maravilhoso. Esse convite junto do Irineu, Luciana Mello, cantora maravilhosa, vai estar também, Fabiana Cozza também estará participando desse congresso. Eles estão fazendo lá uma construção muito carinhosa e muito respeitosa! Uma honra muito grande.
Quais são os novos caminhos musicais que você tem percorrido ou está sentindo vontade de percorrer?
Nunca sei, viu. Quando eu estou compondo uma coisa assim e a gente vai entender o que é aquilo, e daí é a canção que acena, o caminho que foi. Eu nunca faço assim “vamos fazer agora uma música eletrônica”, “vamos agora fazer um rap” ou “ vamos agora fazer um reggae”. Nunca é assim. Quando deságua a canção é do que jeito ela está vindo. “O que é isso?”. Aí, a gente tenta decodificar a música, o que diz o caminho dela. E a gente corre atrás para tentar não estragar o assunto.
E tem disco novo em breve? “Boca de Lobo” e “Etérea” são pistas do que vem por aí?
A vontade é sempre de dividir. A gente está sempre vivendo música, pensando música, respirando música e espero um dia, mais uma vez, ter a honra de ter um tanto de coisas que valha a pena dividir com todo mundo. A vontade é sempre de estar produzindo. Vamo gente, vamo junto! Obrigado pelo espaço, muito axé, alegria, felicidade, sorriso no rosto, muita música para a gente. Bora, vamo junto!
