CypherLab une nomes como Sandrão RZO e Badsista à cena rap paranaense

08/05/2019

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Rafael Donadio

Por: Rafael Donadio

Fotos: Júnior Diaz/Divulgação

08/05/2019

O rapper TUTU (Arthur Castilho), de Maringá, já repete há algum tempo: “valorize a arte local, ela muda o mundo”. Quem realmente se interessa e enxerga a importância da arte em uma cidade de quase 400 mil habitantes do norte do Paraná, não duvida da expressão. Exatamente por isso que, nos últimos meses, o projeto CypherLab, contemplado pelo Prêmio Aniceto Matti, da Prefeitura Municipal de Maringá, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semuc), colocou a cena hip hop do município para girar com mais intensidade que o habitual.

Nessa primeira edição, os MC’s Sandrão RZO, Clara Lima, Inglês e Slim Rimografia somaram com 20 MC’s de Maringá e região – que passaram por um processo seletivo com 120 artistas – para rimar em cima dos beats de DJ Cia, Badsista, DJ Coala e Skeeter. A partir desses encontros, quatro cyphers foram produzidas (assista abaixo).

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“O objetivo principal é juntar pessoas com reconhecimento nacional com pessoas que estão começando, para que isso sirva como uma alavanca para esses novos artistas. Queremos realizar esse intercâmbio entre MCs, além da oportunidade de poder rimar com o beat dos quatro beatmakers convidados. Vamos projetar a cena do rap de Maringá e região para fora”, explica Diogo Correa, um dos organizadores.

Para quem acompanha a movimentação do hip hop nacional ou internacional mais de perto, a palavra cypher provavelmente não é estranha. Atualmente, ela é utilizada para denominar vídeos em que diversos produtores se unem para realizar uma obra audiovisual, desde sua concepção musical, estética e ideológica, até um vídeo clipe. O objetivo é reunir MC’s, sejam integrantes de grupos ou artistas solos, para rimas inéditas e com um DJ responsável pelo beat. Aproxima-se mais do freestyle do que do rap elaborado e construído sobre uma batida produzida em estúdio.

Durante quatro semanas, nos meses de março e abril, quatro cyphers foram produzidas. A direção, filmagem, edição e finalização dos vídeos foram realizadas por Jean Furquim, videomaker reconhecido nacionalmente no cenário hip hop, sócio da GiraMundo Filmes, de São José dos Campos (SP). As captações de vozes foram realizadas no Estúdio Drago, em Maringá.

E enquanto a correria acontecia, sempre em dois dias de gravações – um para compor a letra e captar as vozes e outro para filmar o clipe –, Max Miranda, da Fenda Produções (Maringá), registrava toda a movimentação dos bastidores, captando cada detalhe, para a produção de quatro episódios de um webdocumentário, que foram lançados junto com as cyphers. Junior Diaz assina as fotografias.

As produções começaram a ser lançadas no dia 12 de abril, uma por semana, até o último dia 6. Quase todos os vídeos já atingiram cerca de quatro mil visualizações, alguns já ultrapassaram esses números. Para uma produção de rap de um local com uma cena relativamente pequena, os passos estão largos.

“Essa primeira edição nos trouxe experiência. Eu acho que para os MC’s também foi muito bacana. Alguns estavam gravando o primeiro som e tiveram a oportunidade de fazer com MC’s e beatmakers de fora e ter esse nível de produção mais profissional. Para toda cena de Maringá, o CypherLab foi um projeto enriquecedor. Além do fortalecimento da cena e da gente se reconhecer como profissionais aqui na cidade, é legal também por a gente proporcionar esses conteúdos para a galera da região”, comenta, agradecido, Diogo.

“Eu acho que tudo isso vai ter um impacto cultural muito grande, um impacto muito forte em Maringá, porque é uma coisa que nunca aconteceu. Uma movimentação feita entre todos os artistas para que realmente os olhos não só do Brasil, mas do mundo todo, passem a enxergar com mais respeito o movimento do hip hop na cidade. É super importante que as pessoas estejam juntas, e nessa união forte, porque é uma oportunidade para os novos artistas terem mais firmeza nos seus passos”, comentou Sandrão RZO, um dos fundadores do grupo de rap RZO, criado na década de 1980, na Zona Oeste de São Paulo.

Entre os MC’s da cidade e de alguns municípios vizinhos, é unânime o sentimento de gratidão e felicidade. Além do aprendizado e o prazer de dividir o microfone e as lentes com artistas que têm como referência.

“Eu comecei a fazer rap por causa de uma linha que Inglês escreveu na música ‘2012’, que na hora bateu forte: ‘Pôr a depressão no lápis é o que resta.’ Além da importância da caminhada, do trabalho, é muito louco eu estar conversando com o cara que me botou na parada que, hoje, é praticamente a minha vida”, conta Pedroca (Pedro Dantas), que acaba de lançar o disco Lusco Fusco.

Além de proporcionar essa vivência e passar os conhecimentos para os mais novos, os MC’s convidados também manifestaram admiração pelo projeto: “Experiência única. Poder conhecer tanta gente talentosa, de diversos lugares daqui do Paraná. Estar junto das pessoas, dos irmãos que fazem a coisa acontecer. Projeto único, de vivência, de crescimento. Aprender e ensinar”, elogia Inglês, que realmente foi tratado como professor, na relação com os outros MCs.

As duas últimas músicas têm um diferencial em relação às outras, que tiveram toda produção e finalização realizadas pelos próprios beatmakers. A mixagem e masterização foram assinadas por Jatobá (Patrick Liasch Marçal). Ele vem se destacando há algum tempo nos campeonatos internos e batalhas de beats dos alunos da Beatmaker PRO, da Academia de Beats, do DJ Coala, além de ter realizado produções com Projota, Akira Presidente, Gabriel ZioN e tantos outros. O produtor e beatmaker é inspiração também pela determinação e força de vontade, pois tem deficiência visual. Segundo o paranaense de Cornélio Procópio, sua ferramenta de trabalho são os ouvidos, não os olhos.

A pretensão dos organizadores, agora, é continuar com as produções e realizar uma segunda edição do CypherLab. “Sendo o saldo dessa primeira edição tão positivo, isso nos dá ânimo para continuar trabalhando juntos”, completa Diogo. Não se sabe ainda se vai ser feito no mesmo formato, se vão expandir ou mudar o tipo de produção de conteúdo, mas a segunda edição está cada vez concreta. Artistas e produtores cada vez mais próximos e engajados para mudar o mundo a partir da arte regional.

CypherLab #1

Já no primeiro vídeo, Sandrão RZO fez questão de mostrar a força feminina no rap, selecionando quatro mulheres entre cinco vagas. A última ficou para um rapper old school, como observou o próprio Sandrão.

A Cypher #1 tem participação de Sandrão RZO, Babilônia (Bárbara Ribeiro Samuel), SaraG (Sara Magalhães), JRM (Julia Marques), Natkym (Natália Koyama) e Felipe Index (Felipe Halison). Mixagem, masterização e produção musical de DJ Cia.

CypherLab #2

Clara Lima também selecionou um nome já bem conhecido no hip hop maringaense, Lubs. Além do MC mais novo de todas as produções, RChagax.

A Cypher #2 tem participação Chapeleiro (Lucas Barud Bacon), Lubs (Luisa Krauze), RChagax (Rafael Augusto Chagas), Lucas Loco (Lucas Marlon de Almeida Ribeiro) e Paul Jay (Paulo Sergio Luiz Junior). Mixagem, masterização e produção musical de DJ Coala.

CypherLab #3

Com beat de Skeeter, participaram da Cypher #3 os MCs Inglês, GH (Guilherme Henrique Cruz), Blackstage (Maurilio William Souza Borbora), Pedroca (Pedro Dantas), peJota (João Pedro de Almeida) e DropSDI (Pedro Eduardo Favero da Silva). Mixagem e masterização de Jatobá.

CypherLab #4

A última produção foi gravada por Slim Rimografia, TUTU (Arthur Castilho), Po$$el (Diogo Octavio Possel), TR (Gabriel Henrique Silva Santos), GARCIA (Gabriel Garcia Ferreira), AKAI (Paulo Ricardo Aparecido Teixeira de Souza). O beat é da Badsista e mixagem e masterização de Jatobá.

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08/05/2019

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Rafael Donadio

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