Democracia rima com folia no Carnaval do Recife 2024

15/02/2024

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

15/02/2024

A cidade de Recife ficou ainda mais bonita com a presença de 3,4 milhões de foliões ocupando suas ruas durante o Carnaval. Apresentando o tema “Carnaval do Recife 2024: o maior em linha reta“, a programação cultural da prefeitura ofereceu seis dias de festa gratuita, com 3 mil apresentações artísticas – sendo 98% de artistas locais. 

As atrações aconteceram em 49 polos, 19 deles em áreas descentralizadas, incluindo bairros como Alto José do Pinho, Poço da Panela, Jardim São Paulo e Várzea. Trazendo artistas de projeção nacional sem esquecer das manifestações ancestrais pernambucanas, o Carnaval de Recife demonstrou o vigor de uma cidade que vive a festa e sabe promovê-la. Segundo estimativa da prefeitura, mais de R$ 2,4 bilhões foram movimentados em função do evento.

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A pluralidade de expressões culturais marcou a programação da cidade. “É uma gente tão forte, guerreira, criativa, com uma capacidade extraordinária. Nem em local de Carnaval, nem em local nenhum da vida, cabe preconceito. A gente está aqui não só pra falar, mas pra demonstrar isso”, declarou o prefeito João Henrique Campos em coletiva de imprensa na quinta, 8, o primeiro dia de evento.

De fato, havia atrações para todo e qualquer perfil de público. Durante o dia, as ruas do Recife Antigo ficavam tomadas de famílias, com presença significativa de crianças e idosos, por exemplo; mas conforme o avançar da noite, evidentemente a predominância da juventude se destacava. Quem viesse cedo poderia começar o dia em uma saída de afoxé e chegar à madrugada assistindo a um show de rap, tendo passado a tarde entre nações de maracatu, orquestras de frevo e blocos de caboclinhos. Para pais e mães a fim de curtir com seus filhos, havia 50 atrações infantis, em cinco polos voltados exclusivamente para o segmento, onde se apresentaram nomes como Pato Fu (com o projeto Música de Brinquedo) e China Ina, com sua banda infantil Mini Joia

Foto: Luana Tayze/Divulgação

Já a plateia ávida por uma programação de música mais alternativa podia contar com o festival Rec-Beat. Entre os dias 10 e 13, passaram pelo festival artistas como Letrux, Ana Frango Elétrico, Rico Dalasam, Urias, Ebony e Vandal, além de estrangeiros como Asna (Costa do Marfim), Loa Malbec (Colômbia), (Gana) e Niño de Elche (Espanha). Em sua 28ª edição, o evento foi consagrado em 2024 com o merecido título de Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. O Rec-Beat não é organizado como parte da programação da prefeitura, mas dialoga com ela de um modo muito interessante, uma vez que também é gratuito e acontece na mesma região do Recife Antigo, permitindo que o público que circula pelo bairro tenha a oportunidade de ver a sua curadoria provocante, conhecida por antecipar tendências.

“A gente tem muito essa coisa da aposta, de antecipar. A gente identifica as potencialidades e traz. O brega funk antes não tinha palco, a gente foi pioneiro em botar o brega funk pernambucano há cinco, seis anos atrás. Agora até o nosso prefeito está nevando [referindo-se à prática de descolorir o cabelo, típica do brega funk e que foi realizada por João Henrique Campos durante o Carnaval]. A gente tem essa capacidade de garimpo”, explica Antonio “Gutie” Gutierrez, idealizador do Rec-Beat, em entrevista à Noize.  

Foto: Sérgio Bernardo/PCR/Divulgação

A cerca de 500 metros do Cais da Alfândega (onde acontecia o Rec-Beat) estava a Praça do Marco Zero, o principal palco da programação de shows da cidade. Ali, milhares de pessoas presenciaram artistas como Gilberto Gil, Ludmilla, Matuê, Vanessa da Mata, Mart’nália, entre dezenas de outros. Na área dos bastidores desse palco, o pernambucano Geraldo Azevedo comentou à Noize: “Pra mim, é o melhor Carnaval do mundo. Ano passado eu fui o artista homenageado, fiquei muito feliz com essa homenagem, e hoje estou vindo aqui pra homenagear os colegas. Aqui, estamos no centro, é o Marco Zero do Carnaval, onde se centraliza nossa cultura de modo geral, com muita diversidade. É o maracatu, o frevo, o caboclinho, a ciranda… É um Carnaval muito democrático, tem criança, velho, até cachorro! É um Carnaval aberto à toda comunidade”.

Foto: Diego Nigro/PCR/Divulgação
Foto: Brenda Alcântara/PCR/Divulgação

Na quinta-feira, o Marco Zero recebeu homenagens muito especiais a dois nomes lendários da música pernambucana. Primeiro, o projeto Tumaraca – 80 Anos de Naná Vasconcelos Com as Nações de Maracatu de Baque Virado reuniu 13 nações de maracatu para festejar o legado do percussionista ao lado de convidados como o pianista Amaro Freitas e o bloco baiano Olodum. Naná se apresentou no carnaval recifense por muitos anos, e foi emocionante ver as nações lhe celebrando, espalhadas pela área da plateia enquanto eram regidas pelos mestres de cima do palco. Os encontros das diferentes matrizes percussivas, da Bahia e de Pernambuco, assim como a união das alfaias às teclas espirituais de Amaro, foram momentos de uma sublime e afroatlântica beleza.

Depois de Naná, foi a vez de Chico Science ser homenageado com o show Recife Cidade do Mangue, protagonizado por Louise, filha de Chico. A apresentação começou com um holograma de Chico, depois seguiu com Louise dividindo os vocais com diversas participações especiais, como Karina Buhr, Céu, Jorge Du Peixe e Maciel Salú

Na sexta, o Dia do Frevo, o gênero foi consagrado no show da Orquestra Frevo do Mundo, projeto de Pupillo, que reuniu artistas como Otto, Arnaldo Antunes e Uana para reler composições clássicas. Já o encerramento da noite ficou por conta do fenômeno Priscila Senna, cantora de Olinda com uma trajetória aclamada, especialmente em Pernambuco. No sábado, artistas de outros estados, como Marcelo Falcão e Luísa Sonza, estiveram no palco do Marco Zero, mas uma celebração ao brega funk do estado finalizou a noite com chave de ouro, reunindo nove artistas do movimento, como Os Neiffs, MC Tocha e MC Cego, no show Recife Capital do Brega. 

Depois de festejar o samba, no domingo – com Dilsinho, Mumuzinho e Thiaguinho –, e o rock, na segunda – com Pitty, Paralamas do Sucesso e Nação Zumbi (com Jéssica Caetana) –, o Marco Zero fechou sua programação na terça com mais um brinde à musicalidade carnavalesca nordestina. Elba Ramalho, Lenine e Spok e Alceu Valença estiveram entre os destaques da noite, que contou ainda com uma apresentação de Lia de Itamaracá. Ao lado de convidadas como Isaar, Nega Duda e Dona Totinha, a artista pernambucana de 80 anos mostrou a força de sua música. 

Lia, inclusive, foi uma das personalidades homenageadas em um show de drones realizado na sexta. Formados por 350 drones, os rostos da cantora e de Chico Science iluminaram o céu do Recife. A metáfora não poderia ser mais precisa: neste Carnaval, a música pernambucana realmente esteve nas alturas, voando, colorida e em constante movimento.

Foto: Marlon Diego/PCR/Divulgação

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15/02/2024

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Ariel Fagundes

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