DOSSEL, em parceria com Àbáse, solta remix para “Ijexá de Fevereiro”

17/03/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Bel Lins/ Divulgação

17/03/2020

Em 2019, Roberto Barrucho pôs no mundo sua empreitada mais ousada: Ouvindo Vozes, disco inaugural de sua carreira enquanto DOSSEL. Da trama imersiva e contemplativa formada por nove faixas, ele faz nascer novas potencialidades através de parcerias que, ao longo de 2020, lançarão versões remix das canções do disco. Quem abre essa série é a envolvente “Ijexá de Fevereiro”, com remix assinado pelo produtor húngaro Àbásé. Você ouve abaixo com exclusividade para a NOIZE.

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Sobre a pesquisa nos timbres da música africana, Roberto pontua o respeito redobrado que seu lugar exige: “Como um homem branco, é importante ter muita clareza e responsabilidade para reverenciar com respeito a cultura negra no país diante do contexto histórico vivido. Estes toques, trazidos de África pelos negros escravizados, foram e ainda são a conexão com suas divindades, seus orixás e suas raízes ancestrais, sendo também uma forma de resistir ao colonialismo cultural imposto, uma vez que os candomblés, a capoeira, o samba e a cultura negra, de forma, geral, foi marginalizada, e em muitos contextos isso privou o povo negro de suas práticas culturais e religiosa. Sendo assim, com muita devoção e admiração, começo pedindo licença para saudar Iemanjá, a mãe de todas as cabeças”, declara.

A conexão entre DOSSEL e Àbáse, projeto do produtor e pesquisador de música africana Szabolcs Bognár, se deu através das ondas do rádio. Ao ouvir “Ijexá de Fevereiro” em uma rádio, o húngaro entrou em contato com o artista brasileiro e, assim, começou a desenrolar a parceria.

Na sequência, batemos um papo breve e direto com Roberto sobre o processo de gravação da faixa e sobre da onde vem a vontade de fazer um remix. Dê play em Ouvindo Vozes e desça para ler.

Como surgiu a vontade de fazer um remix de “Ijexá de Fevereiro”? 
Inicialmente, eu não tinha essa intenção, até por perceber minha música numa linha mais contemplativa do que dançante, mas, depois que saiu o disco, surgiram algumas pessoas que manifestaram vontade de remixar algumas faixas, o que me deixou surpreso e animado com a ideia. Algumas conversas ficaram só na intenção e não avançaram, mas serviram de centelha para amadurecer e pensar que, de fato, algumas daquelas músicas poderiam ganhar uma nova roupagem. Quando Szabolcs Bognar entrou em contato, por ouvir uma música minha na rádio, fui ouvir o trabalho dele e achei incrível a maneira com a qual ele trabalha os timbres e parte rítmica, além das flautas, etc. Rolou uma afinidade musical muito grande e uma admiração mútua que logo trouxe a vontade de fazermos algo junto. Então, ele me pediu uma música para remixar; pela época do ano e também por ser uma das faixas que o pessoal mais tem ouvido, logo veio a ideia de [ser] “Ijexá de Fevereiro”, além de saber do trabalho de pesquisa que ele faz e assina como ‘Àbáse music’, que do Yorubá quer dizer justamente colaboração, eu não tive dúvida de que era a escolha certa. 

O que você acha que um remix permite para o trabalho de um artista? 
Antes de tudo, penso que a remixagem de uma track é algo que precisa ser como uma casamento perfeito, é preciso sintonia entre o autor/compositor e o artista que vai trabalhar a nova versão da música. Essa nova ‘mistura’ que surge a partir deste encontro pode se tornar algo incrível e grandioso, assim como pode ser um desastre. Dessa forma, o remix possibilita ao artista reapresentar uma música com uma nova roupagem, normalmente um pouco mais enérgica, mais iluminada, ensolarada, convidativa para celebração e uma escuta que reverbera no corpo, que gera movimento. Claro que nem sempre segue-se essa lógica, mas penso que é uma chance pra mexer em detalhes que podem deixar o som ainda mais interessante

E como foi o processo de gravação? 
Eu havia composto esse tema há uns bons meses antes de definir o repertório do disco, foi a primeira vez que consegui desenvolver algo com a divisão rítmica do ijexá e ele ficou me acompanhando, ainda sem letra, voltando sempre à tona. Até que, ainda em uma primeira gravação mais simples, pedi que a amiga e escritora Carolina Turboli escrevesse algo já em cima da melodia. O que recebi foi lindo e de cara tive a certeza que tava nascendo ali a música “Ijexá de Fevereiro. Convidei, então, alguns músicos que já transitam nesse universo da música afro-brasileira, trazendo em sua bagagem vivências religiosas e musicais que seriam peça importante na interpretação dessa criação. Rodrigo Maré fez as percussões e trouxe a sonoridade que deu chão e condução para a construção da faixa, amarrada pelo violão afrocentrado do João Sasmana, que já havia gravado o último single antes do disco. Estava ali estruturado o Ijexá, que só ganhou as vozes da autora, curiosamente, no seu último dia morando no Brasil.

17/03/2020

Brenda Vidal

Brenda Vidal