El Mapa de Todos

15/04/2011

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

15/04/2011

A posição sulina que Porto Alegre ocupa no Brasil sempre a relegou uma identidade à parte. É mais um território de transição, uma via por onde o Brasil e os vizinhos hispano hablantes conversam, do que uma continuidade do espírito brasileiro. Na América Latina, porém, a capital gaúcha está próxima do centro. Nada mais natural que o El Mapa de Todos tenha adotado Porto Alegre – e seu epicentro roqueiro, o Opinião – como ponto de encontro da música feita neste território, cujo mapa serve de logotipo para o festival.

Texto: Fernando Correa | Fotos: http://galeriapetrobras.com.br/elmapadetodos

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Durante três dias – 12, 13 e 14 de abril–, a audaciosa intenção de unificar e celebrar a música latina aqueceu as válvulas com 14 shows. Organizado pelo Senhor F, o El Mapa de Todos escala diversas bandas do selo e do parceiro argentino Scatter Records. Por isso, há uma boa parcela de guitarras roqueiras, papel cumprido pela argentina El Mato a un Policia Motorizado, pelas gaúchas Reino Elétron, de Passo Fundo, e Superguidis, de Guaíba, e pela mato-grossense Macaco Bong, de Cuiabá – só para citar algumas.

Andrio, da Superguidis, chegou respingar sangue na guitarra

As duas últimas fizeram os shows mais viscerais do festival. Superguidis arrombou ouvidos, sempre com muita melodia. Talvez pelo limite de tempo, tenha apresentado um show mais intenso que de costume: nos 30 minutos em que subiram ao palco, Andrio chegou a cortar o dedo, que respingava sangue no escudo branco de sua guitarra.

Macaco Bong fez o show mais longo, apropriado para suas músicas – exercícios instrumentais que passam por diversos estágios e climas. Ao vivo, ganham momentos de aparente improviso que são resposta direta à empolgação do público. Dois garotos pulavam eufóricos, sorrindo um na cara do outro. O sorriso também estava no rosto de Bruno Kayapy, percorrendo a guitarra com a languidez de quem tem mãos compridas demais para apenas tocá-la. Molestava seu braço, seu corpo, suas cordas. Às vezes, os grunhidos que o instrumento produzia soavam perturbadores.

O show do Macaco Bong fechou o El Mapa de Todos deixando a impressão de que, sozinha, a noite de quinta-feira (14) justificaria o festival. Watson, eles, Superguidis e El Mato un Policia Motorizado compartilham do rock, da pulsão destrutiva que, parece, é mais compatível com o ânimo de quem se dirige ao Opinião no meio da semana. Mas o festival não foi só isso. Abaixo, seguem mais alguns destaques dentre as bandas presentes nesta bela iniciativa de Fernando Rosa, o SenhorF, mas que teve amparo e acolhimento da Petrobrás, do Opinião e de mais um bom punhado de gente disposta a levar a música a patamares mais humanos.

Macaco Bong contou com cumplicidade e rodas punk do público

Terça-feira, 12 de abril

Rumando ao desconhecido íntimo, Arthur de Faria e Seu Conjunto fizeram um show de festival. Pela obra variada do porto-alegrense – discos pra criança, trilhas pra teatro, disco pra ouvir sentado, disco pra bater pezinho –, fica difícil uma apresentação curta e abrangente. Mas foi, sem dúvida, um repertório representativo de muito do que alimenta a música do continente. Deixou seu recado de Zappa dos pampas, com direito a xote mal humorado, o experimentalismo convidativo de “Água Podrida” e a presença ilustre de Edinho Espíndola, baterista da mítica banda porto-alegrense Liverpool.

O chileno Gepe subiu ao palco com uma formação atípia: ele tocando bateria, violão e cantando; uma menina ao violoncello e, eventualmente, ao notebook, em que acionava beats eletrônicos; e um guitarrista que, bem, tocava sua guitarra. Antes de ir embora, sem ver a reunião de Xoel Lopez, Pablo Dacal e Franny Glass, e Frank Jorge fechando a noite, pude curtir um pouco da música de Gepe. É difícil, eu sei, mas tente desentupir os ouvidos do ranço que carregamos nós, brasileiros. Gepe faz música criativa, com swing, com guitarras – elementos que os nossos vizinhos usam muito bem. E eu quero que, no mínimo, a MPB também me soe assim, latina.

Frank Jorge fechou a noite, com várias canções da fase solo, tantas outras da Graforréia. Alegria generalizada, pelo que dá pra perceber o twitter (use a hashtag #elmapadetodos).

Quarta-feira, 13 de abril

A Do Amor é FODA. Banda requisitada por muita gente boa do Rio, em seu trabalho solo eles esbanjam brasilidade. No show, que contou principalmente com músicas de seu disco autointitulado, de 2010, incitaram o público a suingar. “Mas dança dançando, acredita!” Do meio da gauchada tímida, houve quem não se intimidasse. Os outros ficaram observando aquele bicho estranho que é a música da Do Amor – o formato do rock servindo de base pra um monte de ritmos de um país distante chamado Brasil.

O Contra Las Cuerdas, do Uruguai, faz hip hop com acordeon, tem MCs de rima ligeira, que te deixam a todo tempo esperando por um refrão à la Orishas. Coisas de ouvido pouco apurado, e sinal de que os caras fazem bem feito. O Los Mentaz faz o legítimo punk rock venezuelano, vertente mais vermelha, quente e festiva que a variedade californiana.

Wander Wildner circulava sorridente pela casa, e fechou a noite com show elogiadíssimo. Depois de uma recente viagem a Berlim, diz que está inspirado.

Quinta-feira, 14 de abril

Além dos shows comentados acima, a quarta-feira teve ótimos shows de El Mato a un policia motorizado e Watson. A Watson é uma banda respeitável, a grande banda independente de Brasília, mas não tão conhecida fora do circuito do Centro-Oeste. Rock que cai muito bem ao lado de Superguidis, revela também traços de Legião Urbana. Tocaram uma versão espacialíssima (han-han) pra música do psicodélico Plato Divorak – que, embora porto-alegrense, não apareceu para gritar seu “CANAAAAALHA” ao microfone do El Mapa.

Fechando a trinca da canção ruidosa, o El Mato, de La Plata, levou o rock argentino para muito mais próximo do rock alternativo noventista. Um dos guitarristas lembra em tudo Johnny Greenwood, do Radiohead, e usa sua Telecaster com pompa e destreza. O El Mato é uma boa porta de entrada para esse mundo amplo e viciante que á o rock dos lados do Rio da Prata.

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15/04/2011

Revista NOIZE

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