Entrevista de quinta: Cut Copy, antecipando a mini tour brasileira

29/09/2011

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Por: Revista NOIZE

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29/09/2011

Agora é pra valer: o Cut Copy está chegando a terras tupiniquins. Depois de ter uma série de shows cancelados por conta de um vulcão de nome estranho, a banda encaminha três apresentações no Brasil durante o mês de outubro.

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A mini tour dos australianos começa por Porto Alegre, no dia 19. Os caras ainda passam em Sampa e no Rio. Todos os shows têm ingressos à venda.

Por aqui, já lustramos os dance shoes. E, pra comemorar, resolvemos liberar a entrevista que fizemos com os caras para a Noize #44. Na íntegra.

_por Tomás Bello

Apesar da estreia tupiniquim asfixiada por cinzas vulcânicas, o quarteto australiano se mantém firme em sua missão: chacoalhar esqueletos com “pequenos frames do mundo”

Era manhã de uma sexta-feira. No calendário, a nova página que acabara de virar estampava 10 de junho de 2011. Nos principais jornais do país, a mesma manchete: “Cinzas de vulcão fecham aeroportos do sul do Brasil”. Em princípio, a frase não deveria chamar a atenção de quatro australianos que respondem por Cut Copy. Mas saltou aos olhos. Dan Whitford, Tim Hoey, Mitchell Scott e Ben Brownning estavam em Buenos Aires, haviam se apresentado por lá dias antes. E de lá não conseguiam sair. Seu destino seria a ponte aérea Rio-São Paulo.

O passeio por terras tupiniquins não estava agendado à toa – serviria para coroar a tour de Zonoscope, o terceiro e mais recente álbum de um grupo que visita os 80’s para retornar aos anos 2000 com um synthpop delicioso, de chacoalhar o esqueleto de rockers e ravers sem distinção alguma. “Uma realização essencialmente conceitual”, garante o baixista Ben. Mesmo assim, um disco que bateu na 2ª posição das paradas dance/eletrônico da Billboard. Ou seja, um conceito de sucesso, talvez.

Uma pena que exista o chileno Puyehue, vulcão que deve detestar boa música – afinal, ao espalhar suas cinzas pelo sul da América impediu o quarteto de dar um abraço no Cristo e beber uma cerveja gelada nos botecos da Augusta. Os shows no Brasil não aconteceram, ficam prometidos para a próxima temporada de inverno sem nuvens vulcânicas. A Noize, porém, não precisou ficar atenta a precipitação de cinzas para bater um papo com Ben.

Sol, praia e as famosas ondas australianas? Ficam de fora da conversa. O mundo Cut Copy gira em torno de sintetizadores, samples, teclados e atmosferas sombrias. Como se Manchester de repente acordasse não com sua centena de indústrias, mas sim com um mar azul. Um mar repleto de ondas. Ondas que para Dan, Tim, Mitchell e Ben significam músicas ganhando vida em uma tela de computador.

O Cut Copy é uma banda que vem de Melbourne, na Austrália. É um país famoso por suas praias, surf, sol e calor. Onde entra o electro do Cut Copy nesse verão?

Bem, a Austrália é um país muito grande, e Melbourne é provavelmente uma das regiões onde mais faz frio. Quando gravamos o álbum Zonoscope era inverno, então definitivamente não havia sol, praia ou surf. Eu acho que essa é uma imagem popular da Austrália. Quer dizer, nós realmente temos um verão de muito calor e praias lindas em Melbourne, mas este álbum nós de fato fizemos durante o inverno, em um grande e velho depósito abandonado, muito longe da ideia de praia ou algo parecido.

Você diria que, ao lado de bandas como The Presets e Midnight Juggernauts, o Cut Copy tem pavimentado a estrada pra música feita em cima de samples e sintetizadores? Talvez vocês estejam fazendo os australianos abrirem seus ouvidos pra música eletrônica…

Eu acho que sim. Parece ter havido sim um grande número de bandas baseadas em sintetizadores saindo da Austrália nos últimos 5 anos. Tem também o Miami Horror, tem essa nova banda que logo mais está lançando disco, o Art vs. Science. O que eu acho é que a cena electro na Austrália estava mesmo no topo há uns 3 ou 4 anos. Agora talvez não esteja mais tão em alta assim. O que faz com que grupos como o Cut Copy, o The Presets e esses outros saiam e influenciem um público ainda maior mundo afora.

O Cut Copy começou como um projeto solo do Dan, certo?

É, foi por aí sim. Uma espécie de banda de um homem só, dentro de um quarto. Algo assim.

E assim foi gravado o primeiro disco, com Dan escrevendo e produzindo todas as músicas. Mas então veio você, o Mitchell, o Tim e o Cut Copy acabou evoluindo pra uma formação mais tradicional. Como funciona hoje, mudou a forma de vocês escreverem um álbum?

Muito ainda vem do Dan, em termos de composição principalmente. Mas nós definitivamente contribuímos e trabalhamos como uma banda quando estamos no estúdio. As ideias e opiniões vêm de todos os lados. Eu acho que nós ficamos em algum lugar no meio disso, de um cara em um quarto e de uma banda tradicional. Não acho que seja exatamente um ou outro. Nunca nos consideramos algo como “uma banda de rock tradicional”.

E como é esse Cut Copy em estúdio?

Quando fazemos um álbum brincamos muito, não temos algo do tipo ‘eu toco baixo’ ou ‘eu toco guitarra’ e tenho que estar com esses instrumentos e esses precisam estar em todas as músicas. Nós tratamos cada música como se ela tivesse vida própria, algo que pode virar algo em torno de si mesmo.

É uma espécie de território livre, então?

Sim, sem dúvida! O estúdio é um lugar onde você pode tentar de tudo, jogar ideias, fazer música da maneira que você acredita que ela deva ser feita. É um lugar onde você pode levar a produção até onde você consegue, fazer o que você acha que precisa para deixar a música interessante, sem ficar restrito ao fato de ser ou não uma banda, ou até mesmo ao fato de ter que apresentar aquilo ao vivo mais tarde.

Mas essa música pode virar algo em torno de si mesmo como também beber em outras fontes? Porque o Cut Copy é geralmente incluído na onda “revival 80’s/pós-punk”, o que significa reiventar algo que já foi feito. Além disso, lança seus álbuns pelo Modular Records, mesmo selo que assina lançamentos de Klaxons, MSTRKRFT e Chromeo, outros nomes que passeiam bastante por décadas passadas. É o que resta na música, reiventar?

Eu acho que a música ainda evolui, muda a cada dia. Talvez de maneira um pouco mais sutil atualmente. Nós sempre tentamos criar algo novo com nossa música, da forma que podemos. Somos definitivamente influenciados por música de outros tempos, ouvimos muitos álbuns antigos, das décadas de 60, 70 e 80, assim como música de hoje. Por outro lado, o que sempre tentamos fazer é acrescentar novos elementos em nossas músicas. Mesmo se alguma música nos faz lembrar de algo dos 60, 70 ou 80, nós geralmente tentamos combinar aquilo com elementos de décadas diferentes, algo que nos possibilite criar um novo mundo.

Você acha que esse novo mundo foi alcançado em Zonoscope?

Eu acho que o que nós sempre queremos e procuramos fazer é: um álbum melhor do que o anterior. Um álbum diferente, pelo menos, que signifique uma progressão.

Existe algum tipo de pressão nessa busca que, ao que parece, é constante na vida do Cut Copy? Pressão no sentido de o disco se dar bem nas paradas, quem sabe?

Não penso que sentimos pressão por sucesso nas paradas. Creio que nunca sentimos. O tipo de pressão que sofremos vem de nós mesmos, no sentido de fazer algo que a gente possa se orgulhar de ter feito. Acho que se você faz um disco que agrade a você mesmo, que você goste de fazer e ouvir, as pessoas vão provavelmente agradecer. Elas vão gostar.

Artistas passam meses e meses em estúdio, gravam um disco, tentam criar esse novo mundo, mergulham nele até cansar, avaliam sua criação e então chega o momento de levar tudo isso à pessoas que eles nem conhecem. Ou seja, é o momento em que o público avalia o que foi criado pelo artista. Parece ser um ciclo, interminável, e que não pode ser evitado. É este o sentido de fazer música?

Hmm.. É uma questão complexa. Fazer um álbum é um momento isolado, uma experiência em que você entra em sua própria cabeça, em que você tenta focar em todos os detalhes, nas micro partes de cada música. É o momento em que você tenta criar essa imagem que você tira de pequenos frames do mundo. E então quando você sai para tocar essas músicas ao vivo é algo completamente diferente. Você tenta encarnar essas músicas com as quais você tem uma espécie de relação física, busca aproximar o público daquilo que você está fazendo. Acaba se tornando uma nova etapa. É um ambiente totalmente diferente e, com sorte, essas músicas funcionam nesses dois ambientes.

Existe algum segredo pra essa fórmula dar certo?

Nós sempre tentamos fazer discos que sejam interessantes pras pessoas ouvirem em seus quartos, talvez ouvindo em seus headphones, mas também quando elas estão no carro, estão na pista de dança em um club ou mesmo num festival. Talvez seja esse o segredo.

E você considera essas experiências e ambientes algo que vai e volta? Se o Cut Copy faz música pras pessoas, quando sai pra tocá-las ao vivo essas mesmas pessoas podem dar uma resposta de tal maneira a influenciar vocês em um próximo disco ou mesmo pro show seguinte…

É, eu acho que.. Eu acho que você tem razão sim. Acho que a reação das pessoas em um show pode influenciar um próximo disco, mas acho que é algo que acontece de uma forma inconsciente. Porque nós sempre tentamos conceber nossos álbuns a partir de um ponto de vista artístico, conceitual. Nós sempre procuramos fazer músicas que funcionam umas com as outras, que possam fazer parte de um todo, como uma grande peça. O disco é uma realização essencialmente conceitual.

Mas eu definitivamente penso que sim, que há uma relação entre como você toca as músicas ao vivo e a resposta que você tem do público, respostas diferentes para músicas diferentes, e isso afeta a maneira como pensamos e fazemos nossa música.

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29/09/2011

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