“A gente não pensa muito, por isso cada show é único!”, diz Aldo, The Band

10/06/2016

Powered by WP Bannerize

Joana Barboza

Por: Joana Barboza

Fotos: Divulgação

10/06/2016

Do armário da mãe para uma turnê na Europa, Aldo, The Band aparece como grande nome na cena eletrônica brasileira. Com estilo híbrido que busca não ser definido, os sobrinhos do Tio Aldo podem ter se tornados homens antes da hora, mas não deixam nada a desejar no quesito música. Os irmãos André e Murilo (Mura) Faria se uniram a Érico e Snake para formar o que hoje é a Aldo. As performances intensas e cheias de diversão contagiam a todos por onde passam. Fazendo até inglês dançar.

Nesta entrevista Mura nos conduziu pela rua Augusta da sua infância, cena musical europeia, processo criativo e quem sabe mais o quê. Coloca os fones e curte! Porque nós nos divertimos bastante.

*

O Aldo, existiu. Uma pessoa de carne e osso, que era mais do que um parente. O que levou vocês a colocarem esse nome na banda?
Então, na verdade, não é que o tio Aldo fosse um modelo de vida. É que foi um momento tão surreal na nossa vida, eu tinha 8 anos e o André uns 12/13. A gente não entendia direito, era tudo muito divertido. Mas, claramente para nossa família aquilo era um problema. Só que a gente não conseguia entender.

Se eu não tivesse meu irmão como testemunha, eu duvidaria da minha própria memória. Porque a gente começou “Você lembra das coisas que o Tio Aldo fazia com a gente? Como que os nossos pais deixavam? Eles sabiam? Não sabiam?” Enfim, a gente acabou dando tanta risada, que ao invés de fazer terapia resolvemos tirar nossos demônios fazendo música.

Era muito divertido. A gente não fazia nada, só observava, né?! Mas ele era um tio bem louco mesmo, levava a gente pela noitada de São Paulo, nos jogos do Morumbi (ele era são-paulino roxo)…Aprontava várias, desde brincar com as primas da rua Augusta – que naquela época era para poucos. Muito engraçado! Inclusive no nosso primeiro disco teve uma dedicatória para ele. Que ele nos transformou homem antes da hora. Acho que isso diz tudo!

O primeiro álbum tem muitas músicas com letras contando sobre essas vivências. O reflexo é bem visível. Vocês trazem esse “estilo Aldo” de ser para músicas de vocês?
O primeiro disco foi André e eu se descobrindo, tanto como produtor quanto músico. E foi quase um disco conceito sobre o Tio Aldo. Foi uma coisa muita despretensiosa, gravado no nosso quarto, entendeu? Os vocais foram gravados dentro do armário da nossa mãe. O meu irmão gravou lá e eu produzia, no meio de saia, calça…E o resultado acabou sendo muito espontâneo.

O segundo disco, a gente já tinha um estúdio mais preparado, mais profissional para gravar. Só que mesmo assim, a gente sentiu falta daquela coisa caseira, sabe? Então, a gente até buscou replicar o armário de roupas da minha mãe. Levamos as roupas dela pro estúdio para trazer essa espontaneidade.

Ser algo íntimo, digo vocês gravaram dentro do armário da mãe de vocês/ as letras falam sobre vivências reais de vocês, é algo que acaba trazendo o público mais pra perto?
Com certeza. Tanto que o grande desafio foi trazer para o nosso público isso, ao fazer o nosso show. A gente tinha show marcado e não tinha nada ensaiado. Primeiro era só eu e meu irmão, dai não deu muito certo. A gente chamou o Érico e o Snake, o baixista e o baterista…dai a banda se formou. Assim, a gente trouxe toda aquela energia do Tio Aldo para o palco. Acredito que isso trouxe uma proximidade muito legal com o público, temos muito orgulho do nosso show ao vivo.

A performance de vocês ao vivo é um grande diferencial. Na turnê na Europa, houve muitas reviews na mídia internacional e um ponto que se repetia era o grande destaque sobre o show no palco. Você acredita que essa “diversão” que vocês tem em fazer o show, acaba trazendo a galera pra junto? Como é essa troca de energia?
Não tem como não se divertir. A gente vê algumas bandas fazendo um som no mesmo estilo e sei lá, a galera meio séria no palco. As vezes não combinada, sabe? É o que a gente sabe fazer, basicamente. A gente não pensa muito, por isso que cada show é único! A gente faz o que sabe fazer e torce pelo melhor, sempre!

Uma das críticas do Liverpool Sound City até mencionou que quando vocês entraram no palco, o público não soube nem o que atingiu eles. Que o público estava muito emocionado, principalmente porque vocês estavam muito felizes por estar ali.
A banda inteira valoriza muito o fato de conseguirmos viver “de música”. É uma coisa muito difícil, principalmente no país que vivemos. Então a gente valoriza cada segundo, todo dia, a possibilidade de estarmos fazendo o que a gente gosta. Seja em Liverpool, seja no Bananada, seja no Meca, seja no Do Sol, seja no Primavera….a gente sempre está muito feliz de estar no palco, fazendo um som que a gente gosta, que a gente acredita. E principalmente, porque é um som dançante. Então, tendo essa correspondência…quanto mais próximo, mais direto, você vê a pessoa reagindo ao seu som mais feliz você fica. Dai não tem como não transmitir essa energia de volta para plateia. Acaba se retro-alimentando.

Quais lugares em que vocês tocaram nessa Eurotour?
A gente tocou em Lisboa, Liverpool, em Madri fizemos uma sessão acústica num programa de rádio que até o Justin Bieber tinha passado há umas semanas. O programa de rádio mais ouvido da Espanha. Não tinha espaço e a gente teve que fazer uma versão acústica do nada. Ficou muito legal! E de Madrid fomos para Barcelona, no Primavera.

Rolou algum tipo de expectativa antes da viagem?
Para ser sincero, ninguém da banda pensou que fosse pisar em Liverpool, por exemplo. Por isso, para nós, só o fato da gente estar no festival já era muito legal. Principalmente, quando a gente chegou no festival e viu que toda aquele cena da década de 90 estava muito viva ainda. O pessoal dançando muito com a música eletrônica que a gente gosta, música eletrônica muito bem feita da década de 90. Pensando que Manchester está a 50 minutos de Liverpool e tudo surgiu ali. Só essa experiência já estava nos deixando plenos. E na hora do show, a gente só fez o que a gente sabe fazer.

Na verdade, a gente reverencia muitas dessas bandas, né! Por isso que eu achou que rolou essa identidade. A gente é fã alucinado de New Order, que é Manchester, da cena do Joy Division, do pós punk…então essa identidade rolou!

Portugal, Barcelona e Liverpool são lugares distintos desde maneiras culturais até dentro da própria música. Portanto, nada mais natural do que as pessoas serem diferentes. Como foi a receptividade do público nos diferentes países?
É louco, porque parece que receptividade foi a mesma. Todo mundo dançou muito. Dai, você vê que é uma linguagem universal mesmo. A nossa correspondência para gente é essa: se as pessoas estão dançando. E o ponto em comum de todos os lugares foi esse! Por mais distintos que pareça os lugares, a receptividade foi a mesma. Acho que a identificação foi mais forte em Liverpool, provalmente por causa da cena eletrônica, por exemplo. Talvez, no Primavera foi mais para o lado rock. Não dá para saber, na verdade! Foi possível ver uma correspondência como uma unidade de show.

Claro que o pessoal na Inglaterra é um pessoal mais frio. Por isso, o que espantou mesmo foi a recepção calorosa deles com a gente. Eles abraçavam e beijavam a gente depois do show. Algo que eu nunca imaginava que inglês fizesse.

Teve algum momento icônico na turnê? Aquele momento em a casa veio abaixo e você pensou “não queria estar em nenhum outro lugar, a não ser aqui”?
Vou falar o meu. Posso citar dois: um deles foi quando acabou o show de Liverpool e a gente viu que era missão cumprida. E que o nosso som funciona não só no Brasil e que funciona com um público muito difícil que é o inglês, que não sai aplaudindo qualquer coisa. A sensação de missão cumprida, mesmo com o Primavera pela frente, foi muito boa. Foi tipo UAU assim, todo mundo aplaudindo e abraçando a gente. Essa sensação foi sensacional.

E a sensação um pouco antes de subir de palco do Primavera (Sound). Que é um lugar que a gente já foi como público e que se eu falasse pro Murilo do passado que ele ia subir naquele palco, ele ia me dizer que estou muito louco. Deu um nervosismo, mas também deu uma sensação de felicidade e respeito por um festival que é muito bom, sério, que não faz concessões. Não aceita qualquer artista que esteja tocando. Sempre foi um festival muito sério em relação ao lineup dele.

A crítica especializada tem uma dificuldade muito grande em colocar a Aldo, The Band em um gênero musical. Então, pergunto pra ti: como enxerga o som de vocês?
Saiu um review super bom depois do nosso show em Liverpool, que era exatamente falando isso. Eles tem uma expressão que chama “pigeonhole”…é difícil de traduzir esse conceito. É basicamente “não importa o estilo que eles toquem, o que importa é todos os estilos estão ali de alguma forma e acaba criando um senso de unidade”. A gente tem muita dificuldade também! E nós ficamos muito felizes que na tour inteira não conseguiram definir nosso som. É muito difícil mesmo, até porque a gente não busca uma definição.

Todo mundo da banda gosta muito de música independente do estilo. Eu acho que esse liqüidificador de referências é o Aldo.

Na sua opinião, essas diferentes vertentes dos integrantes da banda acaba convergindo pra um som único?
Tomara que sim! Por isso, que ficamos muito felizes com esse texto do Liverpool. Exatamente porque eles gostaram, mas não conseguiram definir. A gente não pensa em fazer um som único, a gente faz o que sabemos fazer. Mas o que sai é realmente difícil de ser traduzido. Não sei explicar direito. A banda ajuda a definir o estilo, o que cada um toca e ouve. Tentamos não seguir muito as tendências, sempre buscamos ouvir coisas diferentes. O que de certa forma, ajuda a crescer nosso som.

Tags:, ,

10/06/2016

Joana Barboza

Joana Barboza