Entrevista | Antonio Carlos e Jocafi a mil por hora

21/05/2024

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Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

21/05/2024

Com mais de 50 anos de carreira, a histórica dupla baiana Antonio Carlos e Jocafi segue em plena atividade. Recentemente, os músicos (que iniciaram no final da década de 1960), renovaram seu público de maneira extraordinária, popularizando sua obra com as novas gerações.

Entre as parcerias que ajudaram nessa missão, estão Russo Passapusso, com quem a dupla gravou o álbum Alto da Maravilha (2022) e prepara um novo disco, chamado Dupla de Três, e Curumim. Com este último, Antonio Carlos e Jocafi apresentarão o show Afro Funk Brasil, no Sesc Pompeia, em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de maio (mais informações aqui).

Trocamos uma ideia com Antonio Carlos sobre a série de apresentações e outros assuntos, como as inovações musicais propostas pela dupla e os novos projetos, que incluem um álbum já gravado produzido por Adrian Younge e Andrew Lojero, do Jazz Is Dead. Confira a entrevista completa abaixo.


Afro Funk Brasil, o show que vocês estão levando para o Sesc Pompeia, tem a direção musical do Curumin. Como começou essa parceria, como é a relação de vocês? O que vocês bolaram para esse show?

*

A nossa relação com Curumin começou há uns 5 anos atrás, quando fomos convidados para participar em uma apresentação do show Paraíso da Miragem, de Russo Passapusso, na Concha Acústica, em Salvador. Daí pra frente, não paramos mais de trabalhar juntos. Não só com ele, mas com toda a banda, assim fizemos o disco Alto da Maravilha, com arranjos dele e de Zé Nigro, que acabou ganhando o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) como melhor álbum de 2023. Este show é uma mistura gostosa de músicas que marcaram nossa história (“Você Abusou”, “Desacato”) e dos álbuns Afro Funk Brasil (2022) e Alto da Maravilha.

Nos últimos anos, houve uma grande renovação no público de vocês, a música de vocês alcançou novos ouvintes, inclusive de gerações muito mais novas. A que vocês atribuem esse processo e qual é o sentimento de ver isso acontecendo? 

Sem dúvidas, esta é uma das coisas que nos deixa muito felizes. Infelizmente nossa geração dos anos 70 não conseguiu entender aquele tipo de música ligada a nossa afro-baianidade, e foi então que nos rotularam de sambistas. Mas sempre que tínhamos oportunidade, colocávamos no álbum alguma música ligada ao “afro”. Pra nós, foi uma grata surpresa ver as nossas músicas cantadas pela juventude, lembrando que devemos isso a Russo Passapusso, BaianaSystem e a produtora Márcia Melchior. Sem esquecer de Marcelo D2, que deu o pontapé inicial com o sample de “Kabaluerê” em “Qual É”.


Ainda hoje, músicas como “Kabaluerê” são celebradas por serem tão inovadoras, tão inventivas. Comenta mais sobre como o público geral recebeu os experimentos de vocês na época em que as músicas foram lançadas?

Como disse anteriormente, pra ser sincero, essas músicas foram totalmente ignoradas, não só pelas mídias da época, mas também pelo público. Os críticos preferiram cair em cima dos sambas, que tinham uma estrutura totalmente baiana. Como disse meu amigo Russo: “Nós saímos da Bahia, mas a Bahia nunca saiu da gente”.

Há poucos dias, a Anitta lançou um clipe em homenagem ao candomblé e, por causa disso, suas redes sociais perderam mais de 200 mil seguidores em um dia. Vocês, que homenageiam a música e a religiosidade afro-brasileiras há tanto tempo, já passaram por alguma situação como essa, no sentido de sofrer alguma represália por esse motivo? Como vocês avaliam o racismo religioso no Brasil ao longo dos seus 50 anos de carreira? Algo mudou ou não?  

Lamento profundamente estas pessoas que negam a importância da mãe África em nossas vidas, seja na religião, na culinária  ou nos ritmos. Me solidarizo com a Anitta, e digo com muito orgulho, que além de ser criado dentro do candomblé, todas as minhas influências musicais vieram dos tambores. Eu respiro África, desde que me entendo por gente. Fui criado no Rio Vermelho, em quatro casas de mãe Carmen, filha de Mãe Menininha, e hoje Ialorixá do Terreiro do Gantois! Posso afirmar que fui um dos primeiros compositores brasileiros dos anos 1960 a cantar a religiosidade do povo africano, com músicas como “O Enterro de Yalorixá”, cantada pelos Tincoãs, “Festa no Terreiro de Alaketu”, no Festival da Record em 1967, e “Presente da Mãe D’água”, no Festival Nacional Música Popular Brasileira – O Brasil Canta No Rio, interpretadas por Maria Creuza. Complementando a resposta, se sofri represálias por ser do candomblé? Adianto que não. Pois nasci em uma terra onde o sincretismo religioso faz parte do nosso cotidiano, basta ver a Lavagem do Bonfim e a Igreja dos Pretos, onde a missa é rezada ao som do atabaque. É a coisa mais linda do mundo, todo brasileiro deveria assistir.


Como andam os planos de Antonio Carlos e Jocafi para 2024? Existe chance de ouvirmos novas gravações em breve?

Os planos e projetos andam a mil por hora. Neste ano de 2024, já lançamos “Batukerê” com BaianaSystem, estamos gravando o Volume 2 do Afro Funk Brasil e está previsto o lançamento de um álbum gravado em Los Angeles com os produtores Adrian Younge e Andrew Lojero, do Jazz Is Dead. Também estamos compondo com Russo nosso novo álbum, chamado Dupla de Três.


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21/05/2024

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Ariel Fagundes