Entrevista | Aos 19 anos, Arlo Parks é a nova aposta da música britânica

21/09/2020

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Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Charlie Cummings/Divulgação

21/09/2020

Se você ainda não conhece a Arlo Parks, nome artístico de Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho, prepare-se porque a jovem artista é a nova aposta da música britânica. O primeiro show oficial da cantora e compositora aconteceu no palco do tradicional festival The Greatest Scape, em Brighton. Enquanto trabalha no primeiro disco completo, trabalhou alguns singles ao longo do ano: “Eugene”, “Black Dog”, “Creep”(cover do Radiohead) e o recém lançado “Hurt”

Sobre a última composição, a inspiração da letra melancólica vem da celebrada escritora Audre Lorde, onde no livro Sister Outsider (1984) fala a seguinte frase: “pain will either change or end” (a dor vai se transformar ou deixar de existir). A canção existe desde janeiro, quando Arlo vivia o início do isolamento social e estava no home studio do produtor Luca, seu parceiro de criação desde o início, quando apresentaram a primeira música da artista, “Cola”, lançada em novembro de 2018. Desde então, trabalharam juntos nos outros singles e EPs que formam a curta, porém potente carreira de Arlo. 

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O colaborador, que também assina como Gianluca Buccellati, é o responsável por discos de artistas como Tei Shi, parceira frequente do Blood Orange. “Quis viajar para vários lugares nessa música, estava escutando muito hip hop, como Mf Doom, ao mesmo tempo que ouvia Beach House e The Cocteau Twins“, explica Arlo sobre “Hurt” à NOIZE. 

Mesmo com a pouca idade, apenas 19 anos, sua arte vem de um lugar afetivo e, ao misturar vivências e memórias, é capaz de criar narrativas emocionantes. Fã de literatura desde a infância, começou a escrever nos próprios diários aos 10 anos, quando buscava maneiras de se expressar. “Precisava processar e entender o que estava vivendo, isso se manteve com os anos”, explica Arlo sobre o hábito. 

Todas as anotações servem de material para suas músicas confessionais e cheias de referências, onde pode citar a escritora Sylvia Plath, assim como o cantor Gerard Way (do My Chemical Romance) e também a série Twin Peaks. A artista garante que suas letras são todas reais, partem de experiências pessoais ou surgem de conversas com os amigos. Depois de descobrir o poder da palavras, aos poucos foi entendendo para onde desejava ir com a sua arte. 

O momento de virada foi quando viu um show do rapper Loyle Carner: “Ele se apresentou em uma casa show perto de onde eu morava, então escutar todo mundo cantando as letras dele me fez perceber que era aquilo que eu queria fazer. Foi o maior momento para mim”. Na época, tinha 15 anos e decidiu investir no sonho de fazer música. Comprou uma guitarra, começou a entender processos de produção e gravação, e não demoraria muito para a estreia. 

Ao mesmo tempo em que se inspira em artistas contemporâneos, também bebe dos discos que os pais mantinham em casa porque, mesmo não sendo artistas, são grandes fãs de música. “Gosto de sons mais antigos pela textura analógica, como o que era feito na década de 60 ou 70, da funk music aos psicodélicos. Entretanto, me vejo nas letras da música atual. Por exemplo, gosto muito de King Krule, ele é de Londres e começou novo, consigo me conectar com o que ele está dizendo, com as paisagens, com a vulnerabilidade das letras, acho algo realmente único”, conta sobre sua formação musical. 

Assim como escuta a nova cena britânica, se vê na arte de nomes populares, no folk da Phoebe Bridgers e no pop avant-garde da Solange. Para Arlo, a música pode propor um lugar de acolhimento, assim como ser a trilha sonora de momentos tristes ou alegres. Seu trabalho surge da vontade de trazer esse lugar para outras pessoas: “Meu maior desejo é conseguir ajudar alguém a não se sentir tão sozinho, quero oferecer conforto a elas”. 

Sua sensibilidade radical foi rapidamente notada pelos fãs e pela crítica. Não demorou muito para assinar com a gravadora independente Transgressive Records, casa de artistas como Foals, Two Door Cinema Club, SOPHIE, Flume, Julia Jacklin e muitos outros. A revista NME a consagrou como a “voz da Geração Z”, assim como entrou no Dazed100, ranking anual de novos criativos para ficar de olho, e foi escalada pela BBC para se apresentar na versão gravada do festival Glastonbury

Ou seja, o mundo todo parece estar de olho no primeiro disco completo de uma artista que tem muito a dizer. Enquanto vive o momento sem shows, está se dedicando a essas canções, porém, assim como todo mundo, Arlo está tentando entender a nova realidade. Porque, além da música, futuramente, almeja reunir seus versos em um livro de ficção. As últimas obras que leu na quarentena foram Chelsea Girls (1994), de Eileen Myles, e Pale Fire (1992), do Vladimir Nabokov. Assim como os autores conseguem transportá-la para outro lugar, está aproveitando para revisitar alguns discos: “Com certeza, escutando muito Erykah Badu, Radiohead e Beatles, o tipo de música que me traz segurança”. 

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21/09/2020

Isabela Yu

Isabela Yu