O grupo que melhor representa a nova geração da música portuguesa está de volta ao Brasil. Com dois shows marcados no SESC Pompeia, nos dias 3 e 4 de maio, o The Gift vai ter mais uma oportunidade para mostrar ao vivo os seus dois últimos trabalhos, “Explode”, de 2011, e “Primavera”, lançado no ano passado.
O pop eletrônico/alternativo do quarteto já rendeu prêmios pela Europa, uma apresentação no Rock in Rio 2011 e shows com o Flaming Lips pelos Estados Unidos. E foi para fazer um apanhado da trajetória do The Gift que a NOIZE conversou com o baixista da banda, John Gonçalves, às vésperas da terceira passagem do grupo pelo país.
Vocês estiveram pela primeira vez no Brasil em 2006. De lá para cá, tocaram por aqui em outras duas vezes. Como vocês avaliam a relação da banda com o mercado e os fãs brasileiros?
A nossa relação com o mercado brasileiro é de proximidade e de investimento, a relação com os fãs é a melhor possível. Desde 2006, já estivemos várias vezes em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Natal e no Rock in Rio. Sempre fomos muito bem recebidos por todos e sentimos que há um novo público brasileiro muito atento ao que de melhor se faz por aqui e lá fora.
Por falar no Brasil, vocês estão confirmados para se apresentar no Rock in Rio, em setembro. O curioso é que o The Gift já tocou no mesmo festival, em 2011. Mas, mesmo assim, a banda ainda é uma novidade para muita gente. Como vocês lidam com isso?
Nós seremos uma novidade para muita gente sempre. Em Portugal, Espanha, Estados Unidos, Canadá, Brasil, em alguns países da Europa ou até na Austrália, onde fomos agora, haverá sempre mais gente que não nos conhece do que pessoas que já ouviram falar no The Gift. Isso é a história de todas as bandas independentes. Lidamos com naturalidade e com uma clara noção do nosso lugar na música portuguesa, europeia e mundial.
Acredito que seja bastante diferente se apresentar em grandes festivais e em lugares pequenos, com o SESC Pompeia. O que é mais desafiador: tocar para milhares de pessoas ou em um local menor, mas muito mais próximo do público?
Nós sempre gostamos muito de fazer todas as opções. Tocamos há 19 anos em festivais, praças, teatros grandes, teatros pequenos, pequenos clubes e sempre queremos uma proximidade com o público, mesmo nos festivais. Nós gostamos de palcos grandes e dos pequenos da mesma maneira, e o que mais nos motiva é exatamente esse espírito de conquista. Saber que no SESC Pompeia vão estar pessoas que nunca nos viram antes, que vão estar pessoas que já nos conhecem e que queremos surpreender, nos motiva. O mesmo se passará no Rock in Rio, para milhares de pessoas. O nosso ponto forte é a versatilidade com que encaramos cada espetáculo e quem nos conhece sabe que damos sempre o máximo em cada concerto.
O The Gift está prestes a celebrar os seus 20 anos de carreira. O que mudou na sonoridade de vocês ao longo de todo esse tempo?
Mudou muito em 20 anos e muda muito em 20 meses. Para ter uma ideia do que digo, o álbum “Explode”, editado em abril de 2011, não tem esteticamente nada a ver com o álbum “Primavera”, que foi lançado em janeiro de 2012. Nós sempre nos demos bem com os ambientes mais calmos e íntimos, ao mesmo tempo que exploramos a música eletrônica, o pop, as guitarras e o rock. Conhecer o The Gift a fundo é entender que em 19 anos temos uma voz única e versátil, um compositor muito aberto a vários estilos e estéticas, e músicos que querem sempre reinventar a própria sonoridade.
“Explode”, de 2011, foi lançado no Brasil. O mais recente trabalho de vocês, “Primavera”, está sendo muito elogiado por aqui também. Podemos dizer que o The Gift está vivendo hoje o melhor momento da sua carreira?
A verdade é que estes últimos 24 meses lançamos dois discos, tocamos centenas de veza na Europa, nos EUA, no Canadá, na Austrália e no Brasil. A Sónia, nossa vocalista, deu à luz um menino lindo, a banda cresceu muito e podemos dizer que estamos sim no nosso melhor momento, apesar de eu achar que 2014 poderá ser um marco na nossa carreira. Produzir um disco com Ken Nelson como “Explode”, um álbum muito ambicioso e para mim dos melhores que já fizemos, e passado pouco tempo podermos estar dez dias num teatro e gravar um disco detalhista, até artisticamente mais desafiante, é algo que mostra a vitalidade da banda.
O The Gift é apontado por muitos como uma das bandas responsáveis pela renovação da cena musical de Portugal. Como vocês veem esse momento atual do cenário português?
Nós somos otimistas por natureza e achamos que a música portuguesa está bem artisticamente. Há vários projetos, muito abertos, esteticamente evoluídos, cantados em português e em outros idiomas, mas a verdade é que é complicado ter uma carreira de muitos anos devido a vários problemas da nossa indústria. Nós fomos um exemplo de “faça você mesmo” num momento em que isso não era normal, mas agora é muito usual ver as bandas trilharem seu próprio caminho, definirem o que querem. Mas, em termos estéticos, a diversidade é a principal característica da nova música portuguesa.
“Primavera” tem praticamente um ano de vida. O que vocês pretendem fazer daqui para frente? Há ideia de gravar um novo disco em breve?
Agora queremos fazer a melhor tour possível no Brasil. Vamos voltar a Portugal e Espanha, onde vamos fazer um verão com muitos concertos. Em setembro, vamos voltar ao Brasil para o Rock in Rio e temos já marcados concertos em Nova York em outubro. Talvez façamos França e Inglaterra antes de pararmos para preparar um novo disco, que queremos que seja editado em 2014, ano em que celebramos 20 anos de carreira. Nunca temos muito tempo para parar e nem gostamos, mas daqui para frente seguramente a tendência é continuar a levar a nossa música ao maior número de pessoas. Exatamente o que definimos como prioritário há 19 anos, quando começamos nessa aventura musical.
(Fotos: Shervin Lainez)