Entrevista | Benke Ferraz fala sobre “Manchaca”, novo disco do Boogarins

08/09/2020

Powered by WP Bannerize

Isabela Yu

Por: Isabela Yu

Fotos: Valéria Pacheco/Divulgação

08/09/2020

Não é nenhuma novidade que o Boogarins, banda goiana formada oficialmente em 2013, está sempre em movimento. O novo disco do grupo, Manchaca Vol. 1 (A compilation Of Boogarins Memories Dreams Demos and Ottakes From Austin, Tx), saiu na última sexta-feira de agosto, e reúne 13 músicas gravadas entre 2016 e 2018, quando a banda esteve na cidade americana. Para a alegria dos fãs, a segunda parte do especial, batizado com o nome da casa em que os integrantes viveram, deve sair em novembro. 

Só para você ter uma ideia, a conexão do quarteto, formado por Benke Ferraz, Dinho Almeida, Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo, com Austin foi tão grande que, somente lá, realizaram 40 shows. No ano seguinte do lançamento do primeiro disco, As Plantas Que Curam (2013), o grupo fez 101 shows entre Europa e Estados Unidos, e tudo isso sem diminuir a frequência das apresentações no Brasil. 

*

Ou seja, Manchaca chega para celebrar essa trajetória cheia de conquistas, que em menos de dez anos de existência, alcançou marcas inéditas para bandas independentes, chegando a festivais como Primavera Sound e Coachella. Engataram o ritmo acelerado, saíram tocando, produzindo e colaborando com outros artistas. Por conta desse movimento, os processos dos dois últimos trabalhos “oficiais” se misturam com a história do Manchaca, visto que as gravações aconteceram entre turnês – e os músicos criaram o suficiente para discos completos. 

“Olha, acho que é praticamente tudo inédito, fora algumas faixas específicas que a gente mandou para os fãs, quando jogamos no grupo do WhatsApp para galera sacar. Do jeito que está apresentado, o material nunca esteve em nenhum lugar”, explica Benke Ferraz, guitarrista e produtor da banda sobre a seleção das músicas. 

“A versão de ‘João 3 Filhos’ é uma das coisas mais legais do disco, remete o Lá Vem a Morte (2017), me lembra ‘Polução Noturna’ por ser acústica mas com ruídos eletrônicos. Tem momentos oníricos, paisagens sonoras que levam você a um outro lugar, mas de um jeito suave”, comenta Benke sobre a composição de Dinho, que também foi registrada no último disco da Ava Rocha, Trança (2018). Outra canção do vocalista, “Make Sure Your Head Is Above”, presente em Manchaca, já havia sido cantada por Céu em APKA! (2019). As composições “Inocência” e “Tanta Coragem”, de Raphael Vaz, o Fefel, sairam apenas no Bandcamp em formato de EP, o #fefel2020

Foto: Valéria Pacheco/Divulgação

O álbum segue desprendido como sua proposta, algumas músicas aparecem em versão estúdio, outras em versão demo, lo-fi, assim como também é possível encontrar um ao vivo – “Sai de Cima – Live At Hotel Vegas”, registro do período em que a banda fez residência em um dos palcos mais famosos da cidade. Conversamos com o Benke sobre o processo que envolveu os discos Lá Vem A Morte, Sombrou Dúvida e agora a compilação Manchaca Vol 1

Como vocês dividiram os períodos das gravações em Austin?
A gente fez três no total, durante dois meses em 2016, na casa Manchaca, lugar onde produzimos o que virou o Lá Vem A Morte (2017). Na segunda vez, quando tocamos no SXSW, tivemos duas semanas no estúdio Space (Rehearsal and Recording Studios), e onde surgiu o restante do Sombrou Dúvida (2019). Em 2018, quando a gente foi ao Coachella, passamos em Austin e ficamos duas semanas produzindo de um jeito mais livre para finalizar o disco, caso da própria “Sombra ou Dúvida”. Todo o material era para ser aproveitado, tentativas em inglês ou partindo de improvisos. Então, cada sessão foi bem diferente. 

Em 2016 foi essa de gravar em uma casa com todo mundo morando junto, fizemos muito mas muito material que ficou inacabado. Em 2017, a gente já foi com a cabeça de gravar várias canções em uma pegada mais estúdio. E essa de 2018 foi bem mais aberta. Acabou que a seleção das faixas do primeiro volume foram as que vieram no começo desse processo. O que sobrou ali da casa, o som que vem da mesma leva do Sombrou Dúvida, com uma coisa ou outra dessa última sessão. Por exemplo, “Cães de Ódio” vem desse fluxo, onde refizemos canções que surgiram em improvisos mas dessa vez em estúdio.  Então tem muitas outras canções para o Volume 2, de quando a gente estava ali tentando adequar ideias que surgem do improviso, e a gente vê que o público gosta no show e pede para pôr nos streamings. 

Sobre processos criativos, como acontece o momento de edição das faixas?
O Manchaca é um exemplo de que a gente não sabe quando as coisas estão prontas, mesmo.  Escutando essa versão final, todas essas músicas juntas, a gente tem se sentido bem contemplado, bem contente, de poder mandar isso pra galera, de poder soltar isso pro mundo. Mostra o tanto que algumas das músicas já estavam prontas no mesmo período que saíram os discos “oficiais”, e que poderiam até ter entrado, apesar de a gente ter achado que não.

Então, as ideias vão sempre se formando na nossa cabeça e vão mudando. Por exemplo, “LVCO 4” entrou como extra do Lá Vem a Morte porque ela era lo-fi demais pro Sombrou Dúvida. Esse processo varia muito, pode surgir uma canção que o Dinho já tem toda no violão ou uma do Raphael, e a gente vai adicionando as coisas, como se faz na produção eletrônica, adicionando elementos que podem dialogar de outra maneira, como uma banda ao vivo. Há também muitas ideias que surgem do improviso e são levadas a diante. No caso das gravações do Manchaca, não tem como traçar uma regra, vai ter uma “João 3 Filhos”, voz e violão do Dinho, mas que tem toda a visão, o gosto pelo Milton dos anos 1970, uma coisa orquestrada, mas natural e percussiva de um violão, palmas e tudo mais. A gente vai pelo instinto.

Quais musicas do Manchaca teriam entrado nos discos anteriores? 
Pois, é! Então, “João 3 Filhos” teria entrado no Lá Vem a Morte. “Sai de Cima” a gente chegou a ter ela pronta para ele, assim como “Espera Fala de Novo”, uma das que a gente mais gostava. Ela é uma das que o Raphael canta, tem um balanço legal, algo que o Boogarins nunca chegou a fazer, uma levada meio de samba, uma coisa que só ele mesmo pra compor. No fluxo do Lá Vem a Morte virar um EP surpresa, que era um lançamento pra levantar a bola para o próximo disco de estúdio, deixamos muita coisa de fora. Quando a gente entrou para gravar o Sombrou Dúvida, vieram “As Chances”, “Dislexia ou Transe”, “Tardança”, “Desandar”, “A Tradição”, e o disco tomou um outro rumo, mais pesado, mais sério. Acho que aquele som parecia ser mais inocente, uma coisa meio Beatles, de ter aquele som bonitinho. Para mim, hoje em dia ele poderia dar uma outra cara pro começo do Sombrou.

Além do lançamento da banda, o que cada integrante está se dedicando no momento?
Todo mundo está em um momento de focar na vida pessoal, acho que a pandemia deu essa possibilidade pra gente. O Ynaiã foi pro Rio, onde a família dele mora, o Dinho e Raphael foram pra São Paulo. De projetos musicais, estou finalizando um disco com o Giovani Cidreira: a gente começou a gravar na Red Bull no ano passado, era um para ter saído antes da Mix$take (2019), a gente acabou invertendo as bolas e agora o Gui Jesus está mixando. 

O Raphael está com um disco pronto com a Alejandra (Luciani), a companheira dele, eles vão lançar um projeto novo muito legal, o disco tem músicas em espanhol, língua da Alejandra, em português e inglês. E o Dinho não dá para saber, ele faz música com todo mundo o tempo todo e não para. Os mais recentes: uma música com a Kalouv (“Talho”) e uma com a Betina (“Onda Errada”). No começo da pandemia saiu uma dele com o Tagore, “Drama”. Mesmo antes do Manchaca, a gente foi a banda que mais fez feat com os outros nessa pandemia, estamos sempre abertos para fazer parcerias com a galera que a gente acredita e confia no som.

Tags:, , , , , , , , , , , ,

08/09/2020

Isabela Yu

Isabela Yu