Entrevista | Black Rebel Motorcycle Club vence monstros no inédito “Wrong Creatures”

29/11/2017

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Reprodução

29/11/2017

Não foram fáceis os últimos anos do Black Rebel Motorcycle Club. Em 2010, Michael Been, o pai do baixista e vocalista Robert Levon Been, que também era engenheiro de som do BRMC, morreu vítima de um ataque cardíaco durante o festival belga Pukkelpop, onde a banda do seu filho estava tocando. Já em 2014, a baterista Leah Shapiro foi diagnosticada com Síndrome de Arnold-Chiari, um raro problema de formação do sistema nervoso central, e precisou fazer uma cirurgia cerebral, da qual já se recuperou plenamente.

Considerando esses episódios, é compreensível que a banda ainda não tenha lançado nenhum disco desde Specter at the Feast (2013). Também é bem compreensível que o novo disco da banda, Wrong Creatures (previsto para sair dia 12 de janeiro de 2018), fale de tópicos obscuros. “Eu me vejo escrevendo muito sobre a morte”, afirmou o guitarrista e vocalista Peter Hayes no comunicado à imprensa que anunciou o lançamento do novo álbum. “Me vejo tendo uma discussão com a morte, o que soa obscuro. [Mas] pra mim, é humor negro”, declarou.

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O novo álbum foi produzido por Nick Launay (que já trabalhou com Nick Cave e Arcade Fire) e será lançado em CD, vinil e formatos digitais (pré-venda aqui). Nesse momento, o BRMC está no meio de uma grande turnê pela Europa, mas tivemos a chance de conversar com Leah Shapiro sobre o momento atual da banda. “Nós demoramos mais do que o normal [para lançar o novo disco] porque estivemos envolvidos em várias circunstâncias, coisas fora do planejado aconteceram”, disse Leah. “Quando chegamos ao fim do ciclo de um disco, em geral entramos direto na fase de novas composições. Mas, nesse caso, foi um pouco diferente porque eu tive algumas questões de saúde. Logo depois saímos em turnê e só então começamos a escrever. E aí fizemos outra turnê enquanto estávamos compondo, então foi um processo que foi indo pra frente e pra trás”, explicou.

– Quando você sai em turnê, precisa assumir uma postura diferente. Gravar um disco e fazer uma turnê exigem muito foco e muita energia, mas de formas muito diferentes, então leva um tempo até conseguir voltar ao “modo compositora” e lembrar das músicas em que estávamos trabalhando no meio da turnê. “Ok, onde nós estávamos mesmo?”, sabe? Sempre tínhamos que pegar do ponto em que havíamos parado. Por isso, tentamos voltar [das viagens] o mais rápido possível.

Por enquanto, saíram quatro singles do novo álbum: “Little Thing Gone Wild”, “King of Bones”, “Question of Faith” e “Haunt”, cuja letra diz: “Acenda outra melodia / e mergulhe dentro do som / eu enterrei cada coisa viva / mais abaixo que o chão”. A sonoridade de ambas faixas é pesada, mesmo para a banda, e as letras também. Mas, pelo jeito, essa atmosfera não deve ser encarada literalmente. Conforme Leah, há de fato um humor estranho nas composições deles, é esse o jeito com que lidam com as coisas. “Não é como se estivéssemos amedrontados pela escuridão”, disse. Além disso, a força do grupo reside na confiança e no vínculo que há entre seus membros.

– Nós trabalhamos tão intensamente juntos que é quase como se estivéssemos em uma família, sabe? Isso pode nos levar a experiências muito lindas, mas, como são pessoas com quem você está constantemente, também pode levar aos desentendimentos mais grosseiros. Nós tentamos ser respeitosos o suficiente para que a música seja o mais importante. Depressões acontecem… Muita gente no mundo lida com isso, não é diferente conosco do que com qualquer outra pessoa. Qualquer pode passar por isso, mas é uma parte da vida.

O objetivo, ao compor o material de Wrong Creatures, era deixar com que a música apenas fluísse. O plano era não ter um plano. “Não começamos o disco com um plano fechado, não tínhamos em mente um conceito sobre como gostaríamos que o disco fosse. Tentamos fazer com que isso não se tornasse, em nenhum sentido, algo limitador”, disse Leah. Pessoalmente, ela disse que sua busca no álbum foi trabalhar com elementos que lhe “tirassem da zona de conforto”: “Eu só não queria que o processo de composição ficasse inerte”. Se teve algo que a banda buscou, foi refletir no álbum os sentimentos que estão tomando conta do grupo nesse exato momento.

– Tendências vêm e vão e parece que tudo está se mexendo muito rápido, mas mesmo quando não sei qual é a melhor coisa a se fazer, eu prefiro não ser pressionada por cada tendência que sobe e desce a cada semana. As pessoas parecem descartar os discos e as músicas de forma muito rápida e parece que você tem que se movimentar muito rápido, você é recomendado a lançar logo um álbum, um single, um EP, o máximo possível o mais rápido possível: “Vai, vai, vai” (risos). Mas nós preferimos despender esforço e tempo pensando sobre o que estamos trabalhando para criar algo que possa existir por um tempo maior. Em relação ao que está acontecendo com a indústria da música no mundo, eu não posso me concentrar nisso, é algo que me distrai e que pode ser estressante. Eu quero é poder olhar pra trás e ver o que fizemos e sentir que, a cada vez que fizemos algo, botamos de verdade nossos corações e almas naquilo e que aquele disco refletia quem éramos enquanto banda naquele momento, ao invés de refletir o que era “legal” naquele momento. Eu realmente não me importo com coisas como as casas noturnas onde vão os garotos legais.

O Black Rebel Motorcycle Club tem um caminho próprio para percorrer e, pode ter certeza, eles estão no caminho. Com dezenas de shows marcados até julho do ano que vem em vários países da Europa, América do Norte e Oceania, 2018 promete ser agitado para o grupo. “Esperamos tocar o máximo possível e talvez achar tempo para irmos a lugares onde nunca estivemos”. Uma volta ao Brasil, quem sabe? “Queremos visitar vocês logo e tocar aí!”, disse Leah garatindo que as plateias da América do Sul são “as mais legais”, mas não, não há nenhum plano concreto de shows deles pelo Brasil.

Enquanto isso, assista ao clipe de “Little Thing Gone Wild”:

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29/11/2017

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Ariel Fagundes

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