Entrevista Camarones Orquestra Guitarrística | “Somos uma banda de turnê”, diz Foca

15/05/2015

Powered by WP Bannerize

Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

15/05/2015

Criar uma banda é fácil, difícil é manter ela viva. Ainda mais por oito anos seguidos. Se fizer só som instrumental então…

É por essas e por outras que é preciso tirar o chapéu para a Camarones Orquestra Guitarrística. Nascido em Natal, o grupo incendia a cena do rock instrumental brasileiro desde 2008 com riffs ardidos que grudam na cabeça do ouvinte e fazem qualquer um querer se mexer.

*

Com centenas de shows no currículo, a banda está se preparando para voltar à Europa, dessa vez para divulgar seu novo disco, Rytmus Alucynantis, lançado em fevereiro de 2015. Entre o fim de maio e o começo de junho, a Camarones passará pela Espanha, Portugal e Inglaterra; em setembro, eles vão pra França, Suíça, Áustria e Alemanha. Para que você entenda o tamanho da coisa: a Camarones Orquestra Guitarrística vai tocar nos festivais Primavera Sound, em Barcelona, Liverpool Sound City, em Liverpool, e Setalight Festival, em Berlim.

Hoje, eles lançam seu disco novo em São Paulo, no Sesc Pompéia, às 21h30, em um show junto com o Far From Alaska. Conversamos com o guitarrista e principal compositor da banda, Anderson Foca, sobre o bom momento que a banda vive. Veja abaixo.

Fale um pouco sobre a história da banda, como tem sido esse tempo todo tocando juntos?
Somos uma banda de 2008 que começou como um projeto que se reuniu pra tocar temas de filmes, de desenhos animados… Mas aí a gente começou a fazer músicas nesse processo. Esse formato durou até 2009, quando recebemos o convite pra tocar no festival Rec-Beat, em Recife. Logo depois disso, vimos que não dava pra continuar como um projeto porque começamos a ter três, quatro shows por semana e os músicos tinham outros compromissos… Então, em 2009 paramos como tava e montamos uma banda fixa, que foi nossa primeira formação. Atravessamos o Brasil tocando por dois, três anos com ela e fizemos nossos dois primeiros discos, o homônimo de 2010 e o Espionagem Industrial (2011). Fizemos uns 300 shows somando essas duas turnês. Quando começou o processo de gravar o terceiro disco, O Curioso Caso da Música Invisível (2013), saiu o nosso baterista orginal e entrou um outro, que gravou o disco. Esse é também um disco de rock, mas ele tem outras influências, tem muito rocksteady, muita percussão, umas levadas mais Rolling Stones… Esse batera tinha uma pegada mais psicodélica, funk… Logo depois desse disco, passamos por uma reformulação maior: esse batera que entrou, saiu, e dois dos nossos membros saíram porque passaram em concursos públicos e não podiam mais viajar. E o Camarones é uma banda de gigs, temos mais de 500 shows na carreira. Aí mudamos de formação de novo e ficamos com a que está até hoje, eu na guitarra e teclado, a Ana Morena no baixo, que também tá desde o começo, o Fausto Alencar, outro guitarrista e o Yves Fernandes, na bateria. Estamos há quase dois anos assim. Agora mesmo estamos na turnê do disco novo, tô falando de São Luis do Maranhão.

Como as mudanças na formação mudaram o som de vocês?
Acho que demos uma guinada meso no terceiro disco. Ele tem naipe de metais, percussão… Nesse novo disco, a gente pensou só no show: “Se for bom pra show, vai entrar no disco. Se não for, não vai”. Por isso que ele tem esse nome, Rytmus Alucynantis. Ele é uma reunião dos ritmos dançantes que a gente vem pesquisando nesses anos todos. Tem surf music, rocksteady, rockabilly…. Ritmos pras pessoas se divertirem. O conceito desse trabalho tá em cima de um mosquito, lá em Natal tava com muito mosquito da dengue, e Rytmus Alucynantis é como se fosse o nome científico de um mosquito que pica as pessoas e faz elas saírem dançando felizes. Mas a guinada mesmo demos no terceiro disco. Nesse novo, a gente fez um back to basis, pensando mesmo em tocar ele ao vivo.

Como vocês lidam com o desafio de registrar num álbum a energia de um som tão voltado pra execução ao vivo?
Sempre pensamos nisso. É muito difícil gravar um disco de música instrumental que consiga passar a energia do ao vivo. Nesse disco, procuramos fazer um som o menos processado possível. Tem pouca mixagem, você ouve e sabe que ele foi feito sem ter muita interferência de processadores digitais. Foi a maneira mais fácil que encontramos de aproximar o show do disco. E também é um desafio gravar cinco álbuns de uma banda instrumental sem ser repetitivo. As ideias vão se diluindo, a banda já tem oito anos, umas 60 músicas compostas, é difícil não se repetir. É um exercício complexo, mas acho que tá funcionando. Essa é a nossa melhor turnê, sem dúvida.

E você é o principal compositor da banda, né?
Sim, mas a banda sempre dá suas pitadas. É que o processo de organização da banda passa muito por mim, eu faço a agenda, marco os shows. Então tô sempre pensando no que dá certo pro show. Mas nesse disco novo tivemos uma ajuda bem grande do João Lemos, guitarrista e vocalista do Molho Negro, que é uma banda de Belém. Ele gravou uma semana conosco, dividiu composições comigo e coproduziu algumas músicas. Foi bem massa.



Como você define os nomes das músicas, como se define a atmosfera das músicas?
Eu acho que a música do Camarones é bem visual, remete diretamente a um filme, a um lugar, a uma ação… “Tsunami”, por exemplo, tem uma guitarra que vem como uma onda. Assim, a gente vai nomeando uma a uma. Mas não é muito fácil, às vezes é por uma brincadeira que surge. “Terror em Burzaco” foi por causa de uma turnê na Argentina em que a gente se perdeu e foi parar nessa cidade, que é meio bizarra, é tipo o Bronx, em Nova Iorque. “Bronx” também é o nome de uma música porque a gente também se perdeu e foi parar lá.

O Rytmus Alucynantis tá cheio de convidados, né?
Sim, todos convidados são pessoas que já se relacionaram conosco em algum momento. Já falei do João Lemos, do Molho Negro, devemos ter feito uns 30 shows juntos pelo Brasil, aí ele tocou em “Apocalypso” e “Rytmus Alucynantis”. Mesma coisa com o Ynaiã Benthroldo, batera do Boogarins, ele já cobriu o nosso baterista em uns cinco shows e tá na faixa “Cat Friend”. E com o Móveis Coloniais de Acaju, é a mesma coisa, fizemos uns dez shows juntos. Aí, como tínhamos uma música que combinava com metais, “Ponta Negra Rocksteady”, chamamos ele pra ajudar. São participações meio óbvias pra nós, pessoas que já estão muito próximas e volta e meia fazem coisas junto com a Camarones.




E o disco novo vai sair em vinil, né?
Isso, lançamos em vinil em setembro na Europa pelo nosso selo europeu, o Setalight, de Berlim. No Brasil, vai sair pela Assustado Discos, lá de Recife, que tem vários artistas legais, tipo o Mundo Livre S/A.

Há quanto tempo vocês tão com o Setalight?
Começamos uma relação com eles no ano passado, recebemos uma banda deles aqui, fizemos shows juntos e, em setembro, vamos fazer uma turnê a convite deles passando pela Alemanha, França, Áustria. Lançaremos o disco novo nessa turnê. Tá sendo uma parceria bem frutífera, bem legal pra nós. Daqui a pouco vamos pra Europa pela segunda vez, tem show no Liverpool Sound City, onde vão tocar Vaccines, Flaming Lips, toda essa rapaziada. E também vamos tocar no Primavera Sound, que vai ter Black Keys, Strokes, essa galera toda.

E tem previsão de quando chega o vinil no Brasil?
Cara, acho que no final de setembro mesmo. Vamos voltar da turnê com eles. Mandamos fazer mil, o Setalight fica com 500 e nós trazemos 500 pro Brasil. O Curioso Caso parece que vai sair em vinil também, mas aí vai ser depois.

Quantos shows já rolaram em 2015 e quantos vocês pretendem fazer ainda?
Quando terminar a turnê europeia vamos ter feito 65. Devemos chegar em 100, 120 até o fim do ano. É mais ou menos a média que temos feito todo ano. Somos uma banda de turnê, né? Eu só acredito em banda nesse modelo. Eu não acredito em banda que não toca muito, fica muito em casa. Acho até um desperdício, tem muitas bandas legais que ninguém conhece porque não fazem muito show. Sei lá, nossa música faz mais sentido ao vivo.

Tags:, ,

15/05/2015

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes