Entrevista | De volta ao Brasil, Camille Bertault afirma: “O jazz é uma música de liberdade”

10/04/2018

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Divulgação

10/04/2018

Explorando as possibilidades vocais do scat no jazz, a francesa Camille Bertault vem construindo uma carreira sólida desde que lançou seu disco de estreia, En Vie (2016). Seu recém lançado segundo álbum, Pas de Géant, vem recebendo críticas positivas ao redor do mundo e, agora, a cantora está de volta ao Brasil para apresentar o trabalho ao vivo.

Hoje, Camille toca em Brasília; no dia 12/4, em Porto Alegre e, no dia 13, no Rio de Janeiro. Aproveitamos a passagem da artista para trocar uma ideia sobre sua trajetória musical, sua relação de longa data com o Brasil e a posição que as mulheres ocupam no cenário do jazz atual. Leia abaixo:

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Como começou sua relação com a música?
Eu comecei a tocar piano com três anos de idade, meu pai me ensinou o piano e depois, com oito anos, fui para um conservatório. Meu pai é pianista de jazz, então ele me ensinou tudo isso e ele me acompanhava na minha infância e adolescência quando eu estava cantando. Eu comecei com a música clássica, desde o início já gostava do jazz que meu pai tocava no piano.

Como você entendeu que a voz funciona como um instrumento musical?
Não sei, não é uma coisa que eu pensei, não é cerebral. Eu apenas tinha vontade de cantar o que eu queria cantar. Acho que a voz, sim, é como um instrumento e você pode fazer o que quiser. Pode imitar outro instrumento, pode dizer letras, pode fazer o que você quiser. Somente é preciso trabalhar. Mas pra mim nunca foi uma coisa cerebral, eu somente gosto muito de cantar.

Em relação à gravação de sua voz, você sentiu necessidade ter algum cuidado específico para conseguir registrar os efeitos vocais com os quais você trabalha?
No meu primeiro disco, que se chama En Vie, que gravei quase três anos atrás, eu tinha a vontade de fazer um disco de jazz, de ser uma vocalista de jazz, isso era muito importante pra mim. No segundo álbum, Pas de Géant, que saiu dois meses atrás, eu não tinha esse medo. Eu entendi que eu não preciso ser uma jazz vocalist, não é uma necessidade pra mim, então eu não tenho mais medo de nada. Eu só tenho que cantar o que eu quero cantar e ser o mais sincera que eu preciso ser. Todo resto não é importante.

Você ficou conhecida muito por causa dos vídeos que postou no YouTube. Em outra entrevista, você comenta que chamou atenção por não ser muito comum ver mulheres fazendo transcrições de jazz. Como você vê a posição que as mulheres estão tendo no cenário do jazz hoje?
Claro, eu acho que não tem muitas mulheres. E a maioria das mulheres no jazz são cantoras. E a maioria das cantoras não faz coisas muito complicadas. Mas acho que está mudando… Porque o jazz nasceu em um mundo de homens, era uma música da noite, era uma música para pessoas que estavam saindo na noite, então não era para as mulheres. Não era um mundo de mulheres e as mulheres que participavam das coisas eram consideradas prostitutas. Então, é preciso de tempo pra mudar tudo isso. Está mudando, mas precisamos de um pouco mais de tempo pra entender que é uma música de liberdade, que é pra todo mundo, que os homens e as mulheres são capazes de fazer essa música. E que é pra todas culturas também, todo mundo pode fazer essa música. Apenas precisamos de tempo pra nos acostumarmos à mudança.

Você tem uma relação antiga com o Brasil, como isso começou?
Cinco anos atrás, eu vim pela primeira vez porque eu recebi uma bolsa pra contar contos e lendas do Brasil fazendo teatro para crianças. Eu fiz muito teatro também. Então, vim pro Brasil e fiquei três meses, aprendi a falar português. Cheguei no Rio e fui pra Salvador, Belo Horizonte, Belém, São Paulo, muitos lugares. Encontrei um diretor de festival em Minas Gerais e ele programava um ano depois pra tocar e eu voltei muitas vezes. Descobri que tenho uma proximidade com a cultura, com a música do país. Eu acho que o país me escolheu, eu escolhi o Brasil e o Brasil me escolheu.

O que você aprendeu com o Brasil?
Eu acho que aqui tem uma coisa que é a generosidade, não sei como explicar, mas vejo que é uma questão de educação mínima aqui você ser gentil, isso é uma coisa que não existe em todos os lugares. E é muito importante aqui você estar aberto ao outro. Claro que tem problemas como todos os lugares, mas acho que aqui no Brasil tem uma generosidade natural nas pessoas. E a generosidade da cultura está em todos lugares, na música, na comida, na natureza. Em todos lugares.

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10/04/2018

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Ariel Fagundes

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