Entrevista | Carne Doce fala do disco novo, palcos gringos e próximos passos

18/09/2019

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Natália Arjones/Reprodução

18/09/2019

Tocar, tocar, tocar e… tocar. Essa tem sido a rotina do Carne Doce ao longo de 2019 e agora, pela primeira vez, a banda está com as malas prontas para se apresentar no exterior. Há 13 apresentações marcadas para os próximos meses, incluindo uma turnê que irá marcar a estreia deles na Europa (confira no fim do texto a lista completa). Antes de ir para Portugal e Inglaterra, a banda irá tocar no Festival Marreco (MG), em Porto Alegre (RS), em Goiânia (GO), em Belo Horizonte (MG) e em São Paulo (SP).

Lançado em 2018, Tônus chegou consolidando o espaço conquistado pelo Carne Doce (sua versão em vinil saiu com a revista NOIZE #80 no kit exclusivo do NOIZE Record Club). Presença obrigatória entre as listas anuais de melhores discos nacionais, indicado ao prêmio de Melhor Capa de Disco de Música Popular pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), foi um material decisivo para ampliar o já aquecido público que havia se formado antes, com o lançamento do também elogiado Princesa (2016).

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Hoje, após cerca de um ano rodando com Tônus, a banda goiana vive o momento de digerir a intensidade que pautou sua trajetória até aqui. No intervalo de poucos anos, começou a tocar regularmente em festivais por todo Brasil. A vocalista e principal compositora, Salma Jô, passou do anonimato em Goiânia para ser idolatrada como um ícone por muita gente. No meio de tudo isso, o grupo ainda enfrentou questionamentos de parte do público perante uma acusação de estupro feita contra o ex-baterista da banda – afastado no ano passado -, assim como contou com o apoio massivo dos fãs perante essa situação.

Tanto a vida na estrada quanto a idolatria e a rejeição têm servido de matéria prima para os processos criativos de Salma, conforme ela mesmo explica. Segundo a artista, já está nascendo o material que dará corpo ao quinto disco da banda e Salma adianta também que o novo disco está previsto para sair em 2020. Seu primeiro single, inclusive, está sendo gravado, como ela afirma na entrevista que você confere abaixo.

Faz pouco mais de um ano que saiu o Tônus, é possível dizer que o disco e o show de vocês se transformaram nesse período? Se sim, como?
Não sei se o disco se transformou, mas eu ainda estava digerindo aquelas letras quando lançamos o álbum, ainda estava aprendendo o que o conjunto daquelas canções significava. E sentir a reação das pessoas, e como elas ressignificam as letras, ensina a interpretá-las melhor. O show se transformou porque naturalmente melhorou, porque estamos tocando melhor agora do que antes. Fazer uma música soar bem ao vivo exige experiência de palco, saber como ela soa em vários espaços, como ela emociona vários públicos, e como ela funciona no set. 

Através da dança, do figurino e da iluminação do palco, o show do Tônus traz uma carga cênica e estética muito forte. Comente, por favor, como a dimensão visual do espetáculo foi ganhando importância para a banda. Essa preocupação é algo que vocês sentem que chegou para ficar ou é uma busca pontual do Tônus?
Sim, foi algo consequente. Nós fizemos a capa e o visual ficou tão legal, e os recursos eram tão simples que foi automático pensar em levar isso pro palco. Por causa disso surgiu uma necessidade de aproveitar os momentos de luz negra, e daí dançar aleatoriamente não tinha um efeito tão bom quanto uma coreografia que realçasse as curvas das pernas, que deixasse os movimentos mais limpos e gráficos, então fui atrás de uma coreografia para “Comida Amarga”, e logo precisei de novas peças que remetessem à meia e então fui atrás de uma estilista. Foi uma coisa puxando outra, mas também parte de uma preocupação em aprimorar o show, em oferecer um espetáculo. Tocar em grandes festivais, grandes palcos, cobra essa postura, não vamos usar sempre os mesmos recursos, mas vamos continuar nos preocupando com isso.

Vocês já estão tocando músicas inéditas, correto? Já apresentaram algo novo nos shows? Como tem sido a composição do repertório ao vivo? 
Sim. Nós tocamos duas músicas novas nos últimos shows e a ideia é acrescentá-las a sets mais longos como este no Opinião. E aí muitas do Tônus, e algumas do Princesa (2016) e do Carne Doce (2014). É difícil montar um set com todas as que gostamos e que o público gosta, o que é bom sinal, né? 

Recentemente, você escreveu um texto dizendo que estão se sentindo “mais serenos com o exercício de compor”, que você está “menos ansiosa” e que “as próximas músicas apontam para um som mais leve”. A que você atribui esse sentimento?
À idade, rs. Mas também ao exercício de compor, que é pra mim sofrível (e prazeroso), mas cada vez mais tranquilo, não no sentido de que as ideias estão surgindo mais facilmente, mas de que eu estou mais paciente, menos ansiosa pra escrever, estou tranquila com essa “missão”. Também à nossa sintonia em banda cultivada nesses cinco anos juntos com o Aderson [Maia], João [Victor Santana] e Mac [Macloys Aquino]. A entrada do Fred [Valle] na bateria, que tem um estilo mais jazzístico, também inspira essa dinâmica mais suave. 

No mesmo texto citado antes, você afirma o seguinte: “Além da obra, ainda tem a experiência dos palcos, da idolatria e da rejeição”. De fato, houve um movimento de pessoas questionando a banda devido à acusação de estupro feita contra o ex-baterista do grupo, afastado da banda ano passado. Como vocês têm lidado com essa situação?
Já agimos, já nos pronunciamos, mas esse movimento de que você fala não se resume a questionamentos, envolve ataques caluniosos contra a banda e particularmente contra mim. Não é uma situação fácil, mas nós também tivemos muito apoio e incentivo, fizemos shows lindos e importantes esse ano, e estamos seguros das nossas decisões.

Já há alguma previsão para a gravação de um novo álbum? Se sim, o que podem adiantar sobre isso? 
Sim, queremos lançar um novo álbum ano que vem, seguir o ritmo dos nossos últimos lançamentos, já temos algumas composições e já começamos a gravar um single. 

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A banda está com uma agenda cheia que inclui uma turnê com cinco shows em Portugal. Como vocês vêm sentindo a receptividade do público europeu à banda? 
Muito positiva, mas estou muito curiosa pra saber se vamos funcionar lá ao vivo, para um público que não nos conhece, que vai nos conhecer através do show, estou otimista.

O Carne Doce foi incluído no catálogo do selo norte-americano Overseas Artists Recordings. Há uma busca por expandir sua entrada no cenário internacional?
Há interesse em fazer o que quer que estiver rolando, há tempos queremos ir a Portugal, desde sempre existe essa conversa, mas deu certo agora, de um jeito legal, num momento legal. Não estamos buscando o mercado estrangeiro, mas queremos tocar no máximo de lugares possíveis. É um pouco triste que seja mais viável tocar primeiro em Portugal do que em alguns estados do país onde nunca tocamos.

Confira abaixo a agenda completa do Carne Doce:

21/09 – Festival Marreco – Patos de Minas (MG)
26/09 – Bar Opinião – Porto Alegre (RS)
05/10 – CCUFG – Goiânia (GO)
10/10 – A Autêntica – Belo Horizonte (MG)
11/10 – Sesc Pinheiros – São Paulo (SP)
22/10 – Salão Brasil – Coimbra (Portugal)
23/10 – JUR, Musicbox – Lisboa (Portugal)
24/10 – Maus Hábitos – Porto (Portugal)
25/10 – Bang Venue – Torres Vedras (Portugal)
26/10 – GrETUA – Aveiro (Portugal)
30/10 – SET Dalston Lane (Carne Doce duo) – Londres (Inglaterra)
13/12 – Circo Voador – Rio de Janeiro (RJ)
14/12 – Goethe-Institut/Toca! – Salvador (BA)

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18/09/2019

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes