Entrevista | Céu degusta afetos em seu disco novo “Um Gosto de Sol”

12/11/2021

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Cássia Tabatini e Érico Toscano/Divulgação

12/11/2021

Em meio ao caos e à tristeza de uma pandemia global, Céu voltou-se ao que mais lhe dá chão: a família, os amigos e a música. No reencontro com discos que desenharam suas memórias afetivas, veio também o reencontro com várias partes de si mesma. Voltaram à tona as trilhas sonoras da sua infância e adolescência, como o pagode do Revelação e as vibes da Sade. Enfrentando tantas incertezas, ressaltaram-se ainda os seus laços sanguíneos com a história da música nacional, pois o pai da artista é o maestro e compositor Edgard Poças, que teve relações próximas com muitos músicos como grande sambista Ismael Silva. Trancada em casa, as conversas que ela teve e a escuta atenta dos discos ao redor foram provocando faíscas, que não demoraram para se tornarem uma chama.

Como uma fogueira, que aquece e ilumina sem esforço, vem ao mundo hoje o resultado desse processo: Um Gosto de Sol, o sexto disco de estúdio de Céu. Produzido por Pupillo, marido da artista, e contando com a presença de Edgar Poças e do seu amigo Marcus Preto como colaboradores na seleção do repertório, o álbum carrega uma afetividade literalmente familiar. Ainda assim, abre espaço para a presença ilustríssima de um parceiro inédito como o maestro Jota Moraes ou Andreas Kisser, guitar hero cultuado por seu trabalho com o Sepultura, mas que, aqui, assume o violão de nylon do disco da Céu. Também estão presentes outros diamantes da música nacional, como Emicida, DJ Nyack e Russo Passapusso, que já são amigos de Céu há mais tempo e, através de sua presença no disco, estreiam laços com outros momentos da vida da artista.

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Um Gosto de Sol, conta Céu na entrevista que você confere abaixo, é um álbum que busca reverenciar os elos – simbólicos, afetivos, discursivos ou mesmo práticos – que se estabelecem a partir do som. É um disco de resgate, em que a própria Céu conecta-se muito ao início de sua carreira, quando ainda não era a compositora que é hoje e estava descobrindo formas de se expressar ao mesmo tempo em que homenageava os seus ídolos. Compensando a aspereza dos tempos atuais, é um álbum confortável, caloroso. “Faz escuro mas eu canto”, já diria o tema da 34ª Bienal de São Paulo, e o contexto aqui vai na mesma direção: esse é um disco que ilumina.

Céu comenta a seguir o desafio que foi fazer um microrrecorte de suas referências, a responsabilidade que precisou assumir ao criar releituras para composições tão icônicas, e como foi o processo de criação do seu novo disco, que, com olhar eclético, reúne de forma coesa clássicos de Alcione, Beastie Boys, Antonio Carlos e Jocafi, Jimi Hendrix, João Gilberto, Rita Lee, e por aí vai.

Você sempre trouxe amostras de seu lado mais de intérprete. Já no primeiro disco tem uma versão de “Concrete Jungle”, no segundo tem “Rosa Menina Rosa”, e por aí vai. O que levou você a dedicar um álbum inteiro a isso agora? 

Então, Ariel, eu acho que é aquela história de que cada um pode acessar o que lhe dá chão, lhe dá segurança, dentro de um momento assim, sem precedentes, de mortes, de tristeza, de luto, de caos. Eu acho que cada um recorreu ao seu possível chão, a sua possível chama, e a música sempre foi esse lugar pra mim. Um lugar de segurança, de afeto, de elo, de chama, de “gosto de sol”, sabe? Então, eu voltei a escutar muito disco e som, e aí esse projeto se antecipou. Eu ia fazer esse projeto um dia, já tinha isso em mente, mas não sabia que ia ser agora. E no final das contas foi uma maneira muito boa de se sentir acessa por dentro. Não só eu, mas todas as pessoas envolvidas. Deu um calor. E assim a gente seguiu.

Esse disco está muito ligado a sua memória afetiva, né? Eu vi que seu pai, Edgard Poças, ajudou na seleção do repertório, conta como foi esse processo. 

Foi muito legal. Meu pai fala sempre que eu tomei as aulas dele que ele não deu (risos) E eu acho bem interessante essa frase dele. Porque ele é um cara que é um músico, maestro, e ele é muito mais bossa nova. Ele era amigo do Vinicius, do Baden, o Baden eu ainda acho que foi uma escola que eu bebi muito, mas eu nunca fui da bossa nova, né? Mas de uma certa maneira eu quis trazer a importância que tem a bossa nova na minha obra, por exemplo regravando “Bim Bom”, que foi uma sugestão do meu pai. Mas fazendo do meu jeito, sabe? Levando a bossa nova pra outro canto. Então, foi muito bom pra mim, como o meu processo pessoal, de trazer meu pai. A gente é tão diferente e tão juntos, então foi muito gostoso poder ouvir o que ele tinha pra propor. E aí ele também chegou em “Ao Romper da Aurora”, que é a música que abre o disco. Ele tinha uma relação pessoal com o Ismael, ele e minha mãe, tem uma história bonita do encontro deles na época em que minha mãe tinha um bar, nos anos 1970, que ia um monte de músico cantar e o Ismael ia lá também. Então, tinha uma história de resgate muito pessoal e foi emocionante mexer nesse baúzinho, né? Em um momento tão dramático poder falar de “Ao Romper da Aurora”, um samba antigo, evocando, quem sabe, uma nova aurora. Pelo menos, esperando. Foi muito legal.  

Foto Cássia Tabatini/Divulgação

Imagino que a lista prévia de músicas devia ter muita coisa que ficou de fora, não? Teve alguma que você queria muito fazer e que ficou de fora?

Teve muita coisa. A gente fez uma lista gigantesca, a gente tudo o que você pode imaginar… Tinha Baby do Brasil, tinha Dominguinhos, tinha Sandra de Sá… Muitas coisas muito interessantes, mas é engraçado. Um disco, você vai fazendo e ele vai sugerindo um tipo de forma, um tipo de equilíbrio. “Ah, como a gente gravou isso, de repente isso aqui já não cabe tanto”. Então, imagina que dificuldade pra mim ter que fazer um microrrecorte das minhas influências e selecionar só essas 14. Tinha mil músicas pra eu gravar! Mas essa é a possibilidade legal desse disco, de poder fazer um capítulo 2, capítulo 3, e, tipo, viajar! (risos) Porque eu abro espaço pra cantar mil músicas, então tem muita coisa. Tipo, a do Dominguinhos a gente chegou a fazer o arranjo todo, porque o Andreas é um cara estudioso, pô, do metal, um cara muito dedicado, maravilhoso. Chegava com uns arranjos fantásticos de violão. E aí a do Dominguinhos era uma que eu adoro, se chama “Eu Vou de Banda”. Mas aí no final acabou não entrando. Vamos ver, né? Quem sabe a gente não faz uns extras.

Vocês chegaram a gravar essa?

Essa a gente chegou! 

Achei incrível que mesmo com referências tão distantes quanto Beastie Boys e Alcione, há uma coesão no disco. Como você foi definindo o fio condutor, essa costura do álbum? 

Ariel, uma coisa que eu penso sobre fazer discos, percebo que eu faço isso, na verdade eu comecei a fazer mais isso nos meus discos a partir do Tropix, mas eu tenho um lance que é: eu gosto muito da fundação da equipe que vai fazer. É meio old school, sabe? Eu seleciono o time e, uma vez selecionado, é o fundamento do disco. Porque eu acho que, quando a gente seleciona o time, e segue por essa linhagem, a gente já, imediatamente, vai dar uma unidade. Então, por mais que você vá prum canto ou vá pro outro, vai ter uma identidade desse time que se formou. Eu prezo muito por isso, quando faço discos, sempre. Porque isso foi uma coisa que eu aprendi muito. É maravilhoso você chamar um monte de gente, eu acho válido também, mas eu percebo que eu curto muito essa linha de fazer uma fundação única. 

E ao mesmo tempo eu acho que eu também falo, nesse disco, sobre os elos que existem na música. Tipo, Rita Lee, uma mulher da elite branca paulistana, rompeu muitas barreiras do feminismo assim como a Marrom cantando “Pode Esperar”, que é uma música de empoderamento feminino. Então, eu queria falar muito sobre esses lugares onde as pessoas se encontram. Onde as pessoas estão juntas. Beastie Boys é uma banda que eu sempre curti muito, voltei a escutar na época do Apká o Hello Nasty, eu nem sabia que a gente tinha esse vinil em casa, é do Pupillo, aí eu tirei e “ahh, a gente tem o Hello Nasty”. Tem muito vinil (risos) Aí eu fiquei ouvindo, ouvindo, aí ouvi essa música, que eu não tinha super me atentado antes, e é uma bossa nova! E linda, sabe? Aí você pensa, pô, uns caras brancos, que se encontram no rap, e que são judeus, e fazem uma bossa nova… É um elo que existe. Eu, que sou paulistana, que fiz um disco, no final, muito de samba também… Então, esse lugar onde os artistas se encontram me interessa. Eu sofri muito isso, né? “Ah, você faz MPB? Você faz o quê? Porque MPB você não faz! Você faz indie? Você faz pop? Você faz o quê?”. E eu nunca soube dizer onde eu estou. Então, eu acho que é uma maneira de eu estar dizendo onde eu estou. Eu estou nesse lugar, que eu tô tentando dizer que há um elo, entende? E é isso, a música fala melhor, pra mim, do que eu mesma explicando aqui pra você. (risos) 

E os Beastie Boys estão ligados ao Brasil também pela produção do Mario Caldato Jr., e você também morou em Nova Iorque e via eles na rua… Essa relação da música brasileira com a americana também está presente no disco.

Sim, somos americanos, né? Na verdade, eles são estadunidenses, pô!  

Sobre a responsabilidade de fazer novas versões para canções tão clássicas, como você sentiu isso? 

Ah, eu senti muito receio de, mais uma vez, mexer com essas coisas. Eu penso: “Gente, eu sou muito audaciosa, louca”. É aí que eu penso que eu sou ariana mesmo, porque tem um ímpeto em mim que é uma chama mesmo que se acende, um desejo de ir e eu vou. E aí eu faço e penso: “Nossa… pra que levantar esse B.O., né?”. Aí você vai gravar, tipo, a Marrom… Mas o que eu penso é que eu, que sou fã da Marrom, não tinha me atentado pro poder dessa música até hoje. E essa música não pode estar encostada, tudo bem, as pessoas já conhecem, mas as novas gerações precisam saber dessa música. Porque assim, se hoje a gente tem a Iza, a Luísa Sonza, a Duda [Beat], Marina Sena, tantas meninas maravilhosas que estão levando um empoderamento maravilhoso é porque a Marrom estava falando isso aí! Entendeu? E é isso. Eu acho que tem essas ligações todas. Pra mim, faz muito sentido isso ser repassado pra frente, refalado, recantado. Acho que foi muito por esse viés e pelo viés do cantar, do desejo de cantar aquela belíssima canção. Jamais pensando em fazer uma versão melhor do que nenhum dos artistas originais, isso é impossível. Mas trazer um outro ponto de vista da mesma mensagem. É tipo conversar.  

Teve alguma que foi mais difícil de fazer?

Teve. Pra mim, as em inglês, fora do Beastie Boys que é mais fácil, foram as mais difíceis, em termos de execução mesmo, porque o meu inglês não é excelente, eu tenho um inglês bem de rua, eu morei pouco tempo em Nova Iorque, morei um ano e pouquinho, e eu nunca estudei, não tinha feito aula de inglês, então inglês é de rua, é um inglês meio tosco. E falar aquelas palavras rápidas (risos) e você tá gravando um ícone americano ou inglês, como a Sade, por exemplo, ou como a Fiona Apple. Foi muito legal até o fato de que o Mike [Cresswell], que mixa os meus discos desde o Tropix, ele mora em Seattle, é americano, e virou um parceiraço, sou muito fã do trabalho do Mike, ele me corrigia às vezes. (risos) Mas assim, em termos de ser musicalmente difícil, é “Um Gosto de Sol”. É uma música densa, né. Ela tem um tempo meio suspenso, que é quase um pêndulo, e foi densa, a gravação foi muito densa, porque a música é densa, porque o Ronaldo Bastos e o Milton são gênios, brilhantes. Tipo, não é um pilar, é um pilarzão da música brasileira. E cantar é isso, é estar de frente a essa força, essa potência, essa grandeza. Então, foi difícil essa música, me emocionei muito, o Pupillo se emocionou muito, o Andreas se emocionou muito… O Andreas ficou: “Eu vou ter que fazer isso?”. E é muito legal porque aí ele ia lá e fazia mesmo! Apavorada. Foi super divertido, eu acho que foi uma chama pra gente esse disco. Aquela lareirinha no escuro que você acende e te deixa aquecido. Foi meio isso.

O disco foi feito, por um lado, com sua família (pai, marido, músicos antigos como Hervé Salters e Lucas Martins), por outro chegaram novas parcerias, como o Andreas. Como você montou esse time? 

Eu gosto muito do jeito como o Pupillo produz, ele é muito talentoso, e ele tem um respeito com a música e com os artistas que eu acho muito raro. Muito respeito e muito entendimento. Ele vive música. E ele é fissurado em entender o que tá acontecendo na cabeça das pessoas. E ele fura bolhas, né? Eu gosto de gente assim. O Andreas foi sugestão do Pupillo porque ele sabia que eu queria um violão de personalidade de nylon, e eu não conhecia o Andreas pessoalmente, só sabia do brilhantismo do Andreas, mas eu não conhecia ele. Aí em uma postagem que ele viu ele me mostrou: “Olha o Andreas”, e a gente começou a rir. Tipo, quando que o Andreas vai poder? E ele falou: “Pô, o Andreas deve estar em casa parado igual a gente”. Dito e feito. O Andreas topo e foi incrível. Aí tem o Luquinhas, que tá comigo desde antes do meu primeiro disco, é um cara que eu admiro profundamente.

Aí teve o seu Jota Moraes, que eu acho que foi uma das coisas mais chiques que eu podia ter, que é um maestro que tem história na música brasileira, tocou com a Elis, toca com a Maria Rita, fez todo o pagode dos anos 90, é um arranjador muito amado. Emicida, essa história é muito bonitinha, eu conheço o Leandro há muitos anos, a gente já cantou junto em palco, eu já sabia que o Leandro ia ser um revolucionário desde quando eu comecei a cantar no Instituto aqui em São Paulo em 2000 e tantos. Já dava pra ver. Mas eu não sabia que a proporção ia ser essa. E aí, na pandemia, outra chama que eu tive, uma oportunidade de aquecer minha alma, foi do Fióti, meu amigo Fióti, beijo Fióti, que me chamou pra fazer papel de apresentadora de TV pela Twitch, num programa da Lab. Fantasma. Eu fui e isso foi muito bom pra mim, eu sou super workaholic. E nessas a gente se estreitou muito, a gente já tinha uma admiração mútua, mas ali eu estive com amigos. E rolou esse convite pro Emicida fazer esse feat comigo, ele maravilhosamente topou.

Russinho também me chamou pra participar do BaianaSystem, do OxeAxéExu, eu participei de uma das faixas no coro, admiro muito o Russo, e eu simplesmente estava gravando Antonio Carlos e Jocafi e ele tem propriedade total pra falar de Antonio Carlos e Jocafi. E eu estava querendo um coro masculino, falei: “Gente, é Russo, não tem outra”. Se ele não topar não vai ter ninguém, porque é dele essa cadeira aqui. E ele muito fofo topou. Bom, teve ainda o Hervé, teve o Rodrigo Tavares, quem mais? Acho que é isso, foram pessoas muito especiais.  

Sonoramente, sinto que seu novo disco tem um diálogo bem forte com o começo da tua carreira. No Tropix e no Apká o som é muito mais sintético, e aqui há algo mais orgânico. Como você vê esse disco novo em relação aos anteriores?

É, eu acho que esse disco é um retorno. No sentido disso. Eu comecei achando que ia ser cantora, só. E aí eu acabei fazendo um disco, em 2005. E aí eu vou e eu acho que eu volto a olhar para os meus ídolos. É exatamente o momento em que eu estava, quando eu fiz, em 2005, meu primeiro disco. Eu acho que, no primeiro disco, a gente conta muito dos nossos ídolos, né? Você vê claramente Erykah Baduh no meu primeiro disco, Dorival Caymmi, João Bosco, Aldir Blanc… E aí, agora, eu faço todo esse rolê e retorno a olhar para os meus ídolos de novo, só que dessa vez eu gravo vários deles. E eu queria uma coisa orgânica, sabe? Porque eu acho que tem a ver com o que a gente está vivendo, não estava muito fazendo sentido synth e camadas e camadas… A coisa tá visceralmente agressiva e tóxica, sabe? Eu acho que pedia só pele, calor, simplicidade. E não muito mais do que isso. Então, eu segui por essa organicidade e também realizei esse sonho de ter um violão de nylon protagonizando. Porque o violão de nylon precisa de menos pra protagonizar, se não ele some. A não ser que você seja o Jorge Ben, né? (risos) Mas mesmo o Jorge foi indo pra guitarra depois. Então, foi uma forma muito legal de fazer esse retorno. Eu pensei nesse retorno falando aqui com você, eu não tinha me atentado a isso, mas o estúdio em que eu gravei é muito perto da casa em que eu morei quando fiz o primeiro disco. Então, eu pude ir lá, eu morava com minhas duas amigonas, a gente morava juntas, então foi muito engraçado, foi tipo um elo mesmo com o primeiro disco. Eu revivi aquele momento. 

Foto Cássia Tabatini/Divulgação

Você já disse que valoriza a cafonice, e tem algo de brega/cafona no ato do karaokê, como você vê isso?

Eu não acho que cafona é ruim, eu não acho que cafona é pejorativo. Cafona é rasgado, é algo levado à máxima potência, onde você tá vulnerável. E isso é lindo, na verdade. Isso é humano. Isso é perfeito. Isso é difícil, às vezes você tá se expondo mesmo, mas o cafona é lindo. A real é essa. E eu não vejo nenhum lugar de inadequação ou de feiura no cafona. Então, “Feelings” tem essa coisa, assim, visceral, que pode ir pra uma fossa… Mas quem nunca viveu isso? Pelo menos eu vivo muito, sou super intensa, e adoro cantar no karaokê e me acabar na minha cafonice, sabe? Então, essa é uma canção que, por exemplo, eu, se estivesse sozinha, sem a galera da curadoria, do Marcus Preto e do meu pai, no caso de “Feelings” foi o Marcus Preto, eu não teria cantado essa. Porque é uma música que foi gravada milhões de vezes, pela Nina Simone e pelo Offspring, passando pelo Caetano. Tem polêmica por trás dessa música. Mas ela é um traço meu, que quem está olhando de fora, fazendo uma curadoria, sabe que eu sou assim também. Então, foi muito legal eles botarem essa pilha em mim, aí eu topei e, de fato, quando a gente fez, eu amei! Eu acho que essa foi uma das coisas legais de fazer, também, o disco, no sentido de que é a primeira vez que eu tenho gente meio que me auxiliando nessa viagem de repertório. Porque o autoral é muito meu, né, o repertório é muito eu. A gente pode até entrar numa produção do disco e chegar na música e falar que a música não tá boa e tirar. Ok. Mas não é isso, eu estou falando de escolhas mesmo, de entrar e sair coisas, e eles cataram essa cafonice que eu tenho, super, e a gente acelerou nessa direção! (risos)

Existe um olhar que diminui e vê como menor algo que não é autoral, mas acho que isso também é um olhar muitas vezes preconceituoso. 

Ah, eu acho que é. Você tem razão, nunca tinha pensado nisso, mas talvez seja preconceituoso. Porque a gente não tem como ser original o tempo todo. Tudo o que a gente fez, alguém já fez, na real. Tudo bem, a gente pode fazer pequenas coisas novas em arranjos, ideias, letras e tal, mas as coisas… É isso que eu tô falando o tempo todo, as coisas têm uma ligação. E eu acho que isso é aproximação. 

E você, enquanto artista, está revelando uma parte de ti no disco também, há algo de autoral também.

Totalmente! A minha ideia era fazer uma coisa onde eu pudesse revelar muitas camadas minhas pra além da seleção do que eu falo que são as minhas referências. Todo mundo sabe que eu gosto de samba, todo mundo sabe que eu gosto de rap, que eu gosto de jazz, de Jamaica, mas ninguém sabia que eu gostava de pagode. E eu sei muito pagode! Eu cantei muito, eu tinha dez anos na década de 90, quando bombou o pagode, e eu dancei demais com as minhas amigas! E eu queria trazer essas outras camadas, só isso.

Algum plano de levar para os palcos o disco?

É, a gente quer levar no ano que vem, com certeza. É um show que a gente tem que elaborar direitinho, o Andreas quer super fazer, ele quer mesmo! Mas é isso, tipo, o Andreas fazendo isso ia ser uma loucura, porque a agenda do Sepultura é mundial. Então, não sei, a gente já tem uma pessoa em vista, mas vai ser uma coisa delicada…

Foto Érico Toscano/Divulgação

12/11/2021

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

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