Céu apresenta “Tropix” em entrevista exclusiva

18/03/2016

Powered by WP Bannerize

Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Luiz Garrido/Divulgação

18/03/2016

Cada disco lançado por Céu é um universo. Após a festa circense de Caravana Sereia Bloom, a cantora lança hoje Tropix, o álbum mais noturno de sua discografia.

Mas a noite de Céu não traz o breu que assusta, e sim o convite do mistério. O que nasce aqui é aquela noite entrecortada por luzes neon que não deixam o ouvinte ficar parado. Tropix é uma “ode às máquinas”, como a cantora explica abaixo nesta entrevista exclusiva, mas está longe de ser frio e impessoal. É também o disco que traz a estreia de sua filha Rosa, fazendo uma conexão bonita entre ele e seu disco-irmão, Vagarosa, que Céu gravou quando estava grávida.

*

Ainda que haja menos reggae, samba e jazz do que beats eletrônicos, Tropix não esconde essa bagagem que Céu explorou bem em outras obras. O que esse disco novo fez foi fundir todas essas referências em um caldeirão felliniano onde qualquer coisa pode acontecer. Desde um cover da banda paulista de pós-punk Fellini até uma citação acidental ao filme E La Nave Va, que o diretor Federico Fellini produziu em 1983: “Tem algo feliniano no Tropix!”, diria Céu.

Descubra por você mesmo mergulhando nesse pixel tropical que se apresenta agora:

Como você está se sentindo com esse disco novo?
Eu tô me sentido feliz! Saiu como eu queria. Tá muito bom. Tô animada!

No release de lançamento diz que esse disco seria “a mais ousada reinvenção da sua carreira”. É verdade?
(Risos) É, eu não sei, isso não é uma coisa que eu de fato pensei em fazer. Pra mim, não existe um muro que que separa o Tropix dos outros discos. Não tem uma quebra ou algo totalmente louco e radical. Mas talvez essa impressão fique pelo fato de que ele tem uma sonoridade menos lo-fi, menos orgânica. Apesar de que eu discordo porque tem bastante coisa orgânica também! Eu quis flertar com beats, com sons mais sintéticos e isso é inédito. Mas não me distanciei tanto do meu jeito, sabe? Pra flertar com esses timbres e adicionar essa sonoridade das máquinas, eu adicionei meu jeito de ser. Então tem ritmos brasileiros, tem coisas orgânicas junto. Tem a tamba, por exemplo, que é uma forma de dispor a bateria que o Pupillo trouxe de volta à tona. Tem uma conversa com meu trabalho. Não acho uma coisa assim totalmente inédita e nova, como se fosse uma quebra. Não acho uma quebra.

Com certeza, em termos de melodias e composições, dá pra ver uma linha condutora perpassando os quatro discos.
É! Então, eu vejo muito assim. Porque é o meu jeito de compor, de escrever, de pensar. Pra mim tem super continuidade. O que existe de elemento novo nessa conversa são as máquinas. De fato, eu queria brincar de usar um pouco isso, sabe? Beats e tal.

Esse desejo veio por algum motivo específico?
Ah, eu tô lendo uma biografia do Kraftwerk e tô amando. E tava escutando mais umas coisas com beats mesmo. Sei lá, desde coisas do pós-punk até sons que o Brasil mesmo traz, com seus teclados… Eu tava encantada com synths também. E com vontade de fazer isso, vontade de fazer um power trio de teclado ao invés de guitarra. Então foi uma junção de coisas. Juntou com o Pupillo fazer beats, com chamar o Hervé, que é uma pessoa altamente conhecedora desse universo. Foi tudo meio que se afunilando pra esse lugar que é o Tropix. Que é um pixel tropical. (Risos)

Os alquimistas estavam chegando e tudo o que eu podia fazer era abrir a porta, oferecer um chá com cometas e apertar o…

Publicado por Céu em Sábado, 12 de março de 2016

De uma certa forma, o disco acompanha um cenário atual de bandas. Talvez o mundo todo esteja um pouco mais sintético do que era quando você fez seus outros álbuns.
Pode ser… É, eu curto muito ver as coisas que estão sendo feitas. Sou uma entusiasta das artes em geral, inclusive isso super me alimenta pra escrever. Tem coisas mais atuais que eu acho super interessantes, tem o Boogarins, tem o Tame Impala, e até coisas super pops, tipo Rihanna. Eu não tenho preconceito, sempre ouvi, sou curiosa por natureza. E aí fui fazer essa ode às máquinas, mas são máquinas à la Brasil, né? (Risos) Com aquela umidade do Brasil, que enferruja… Não é uma máquina alemã, sabe? (Risos)

Chama atenção também a ambientação noturna do Tropix, diferente dos outros que remetem a algo mais solar.
É, ainda mais o Caravana Sereia Bloom, que era super solar.

Isso fala do seu momento atual de vida?
Na verdade, não. Não dá pra dizer que eu esteja vivendo mais a noite. Eu até saio, mas não diria que tô vivendo especialmente esse momento. Tem uma ou outra [faixa] que tem uma coisa de final de tarde, tipo “Varanda Supensa”, que é uma música que fala sobre o final de tarde de uma varanda em São Sebastião quando eu era menina. E aí começavam a se acender as luzinhas e ficava aquela paisagem impressionista e neon ao mesmo tempo. O disco tem um perfumezinho mais soturno mesmo. Acho que tem a ver com a influência das máquinas. Mas acho que é mais pela plástica da coisa toda.

No release, diz que o Tropix é um disco-irmão do Vagarosa. Você pode comentar isso?
É, aí eu concordo. O Caravana era um disco bem conceitual, que mirava a estrada como ponto de partida pra toda ideia do disco. O Tropix é um disco que foi sendo feito a partir de vontades e ideias pra que, depois, eu encontrasse exatamente sobre o quê eu tava falando. Foi um conceito que veio de dentro pra fora e não de fora pra dentro igual ao Caravana. Nesse aspecto, o Vagarosa é muito parecido. Foi um disco que fui fazendo tateando dessa mesma maneira intuitiva. O Vagarosa é um disco que, hoje eu olho, e vejo que é sobre maternidade. É um ninho. Sabe? Ele é um disco que fala de amor universal, de tempo, de pausa, de escutar seu relógio interno. O Tropix acaba tendo também um conceito também, que veio quando eu fui fazendo. Fui notando que falava mesmo sobre um pixel tropical, essa coisa “tijolo a tijolo” que vai se construindo. Se eu fosse colocar um instrumento que definisse o som do Tropix diria que o harpeggiator, de sintetizador, que faz esse som meio de máquina – tã tã tã tã tã. Enfim, então, por isso é que eles são um pouco parecidos. É nesse aspecto. Não sei se deu pra entender.

É, em termos de sonoridade, achei um pouco difícil de achar a semelhança com o Vagarosa.
É, acho que não é muito pela sonoridade, é mais pelo conceito. Ambos têm uma coisa sobre a simplicidade, que é uma coisa que eu persigo eternamente. Eles têm limpeza, sabe? Os dois têm essa coisa do simples, do enxuto. O Vagarosa tem de um jeito, o Tropix tem de outro totalmente diferente. O Vagarosa era enxuto pelo som, eu queria fazer o menos ser mais. Mesmo. Eu queria conseguir fazer uma coisa com pressão, mas com menos coisas. E no Tropix, por exemplo, eu chamei o mesmo time pra fazer o disco inteiro. Então tem uma coisa enxuta de linguagem, de ser só esses caras, praticamente um power trio mesmo. Depois o Pedrinho Sá fez as guitarras, mas é bem enxuto, de uma certa maneira. O Vagarosa é muito mais orgânico do que o Tropix, não tem nenhuma interferência de beats. Mas acho que é mais nesse sentido da maneira que nasceu o conceito mesmo.

Interessante você descrever o Vagarosa como um ninho até porque foi um disco que você gravou durante o processo de gravidez. Inclusive, o NOIZE Record Club está lançando o disco do Otto em que você canta “O Leite” e Otto nos comentou que…
(Risos) Eu já sei o que ele comentou! (Risos) Ai meu Deus… O que ele comentou? Fala!

Bem, fiquei curioso com o que você pensou, mas o que ele nos disse foi que “O Leite” fala de maternidade e…
É, e aí eu engravidei. É bonito isso. É uma coisa bonita mesmo, uma feliz coincidência que aconteceu. É que eu já conheço o Otto e sei exatamente como ele fala as coisas! (Risos) Eu consigo imaginar a carinha dele e acho engraçado.

Então, e, no Tropix, a sua filha Rosa canta.
Exato, a Rosa canta. Ela que inventou esse corinho que tem no final da “Varanda Suspensa”. Ela tava cantando naturalmente, não foi uma coisa que ela queria gravar: “olha mamãe o que eu fiz”. Ela só tava cantando e inventou aquele corinho. Aí eu e o Pupillo estávamos finalizando a voz dessa canção no estúdio e aí ele falou: “Ó, vai gravar no estúdio que isso aí é muito bom”. (Risos) Aí a gente foi gravar.

Foi a primeira gravação oficial dela?
Foi, a primeira gravação dela na vida.

Bom, tá aí mais uma relação do Tropix com o Vagarosa.
Sim, de certa maneira tem esse linkzinho. (Risos)

E sobre o power trio do teclado, vocês estão prestes a sair em turnê. A guitarra vai sempre junto ou vocês pensa em shows mais enxutos também?
Não não, vai ter guitarra. Por mais que tudo esteja centralizado no teclado, tem momentos super importantes da guitarra. E pra ficar mais cheio mesmo o som tem guitarra, sim. A gente já começou a ensaiar, desde o início do ano a estamos ensaiando aqui em casa mesmo, fazendo ensaios mais tranquilos, e agora vamos começar ensaios mais profissionais, no estúdio mesmo, pros meninos soltarem a mão e poderem experimentar mesmo como em um show. Estamos bem tranquilos, mas levantar um show dá trabalho!

Você pretende girar mais o Brasil ou a turnê aqui será mais curta dessa vez?
Pretendo, sim! Com certeza. Eu tô fazendo uma experimentação inédita que é ir pra turnê lá fora e ficar menos tempo do que eu geralmente ficava. Sempre que eu ia, acabava gerando um stress muito grande porque eu tinha que ficar no mínimo três semanas. E três semanas para uma dona de casa, mãe, com a rotina que eu tenho – que é uma doideira – é muito tempo! (Risos) Aí vira um caos. Então eu consegui fazer uma tentativa de fazer duas semanas de turnê, até porque a minha filha não viaja mais comigo, então é diferente. Assim sendo, eu vou ficar bastante no Brasil. Tenho essas datas, mas eu volto rápido e vou estar muito disponível pra fazer shows aqui.

Estamos chegando!󾬓 #tropixMais datas estão por vir

Publicado por Céu em Terça, 15 de março de 2016

E houve uma busca por novos sons pra incluir no Tropix? De onde veio o cover do Fellini, por exemplo?
Não, foi natural mesmo. Eu não conhecia o Fellini. Engraçado, eu sempre busco sons mesmo. Mas, nesse caso, fui conhecer tardiamente, só conhecia a música que ficou famosa na voz do Chico [Science] que é “Criança de Domingo”. Aí eu me deparei com o disco Amor Louco e fiquei encantada. Mesmo. Fiquei super ouvindo por muitos dias seguidamente. Então foi mais isso. Tem essa coisa do beat, um pouco do soturno de São Paulo. Eu tava num momento assim, curtindo esses sons, e pirei mesmo. Fiquei até em dúvida sobre qual música eu gravava, não sabia nem se era essa ou outra de tantas músicas que eu curtia.

É curioso também, não sei se foi proposital ou não, mas depois de “Chico Buarque Song” o Tropix traz outra citação ao outro Fellini, no caso o diretor italiano, com “A Nave Vai”, né? Tem o filme dele E La Nave Va.
É! Isso é verdade. Isso foi muito curioso. Isso não foi nem um pouco pensado. Quem fez a música foi o Jorge [Du Peixe, vocalista da Nação Zumbi], e ele nem sabia que eu tava gravando uma do Fellini nem nada. E aí, quando ele veio com esse título, eu dei risada! (Risos) Falei: “Caramba, tem algo felliniano no Tropix“! Fiquei feliz, foi uma feliz coincidência.

Tags:, , , , , ,

18/03/2016

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

Ariel Fagundes