Entrevista | Coletânea “Bogotá Suena, Vol. 4” celebra a música colombiana

12/11/2020

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Idarte/Reprodução

12/11/2020

Memória em movimento e intercâmbio. É com esse propósito que a coletânea Bogotá Suena alcança seu quarto volume e renova o compromisso em documentar a memória musical da capital da Colômbia. A iniciativa é da Idartes – Instituto Distrital de Las Artes, de Bogotá, e conta com a parceria da produtora Mundo Giras para colocar o registro em diálogo com os países vizinhos, entre eles o Brasil.

Bogotá Suena, Vol. 4 foi lançada aqui em 27 de outubro e reuniu mais de 20 artistas independentes que compõem o leque de sonoridades baseadas na cena bogotense. Um passeio pelo pop tropical, psicodelia, jazz, hip hop, metal, entre outros gêneros. Pela primeira vez, a coletânea foi lançada nos mercados mexicano, espanhol e brasileiro ao mesmo tempo.

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O produtor argentino radicado no Brasil Hernan Halak é diretor da produtora Mundo Giras e conversou com a NOIZE sobre o rótulo da “música latina”, a curadoria da coletânea e as apostas e desafios para extinguir as barreiras do Brasil com os demais povos de línguas neolatinas. Solte o play na coletânea e confira o papo abaixo!

Hernan, pode nos contar um pouco sobre como foi o processo de produção da edição mais recente da coletânea? A pandemia e a inviabilização de viagens e encontros presenciais impactou alguma das etapas? 
O trabalho junto ao Idartes vem se formatando faz um tempo, bem antes da pandemia, através de diferentes parcerias, ideias e projetos para os Festivales al Parque – série de eventos que eles desenvolvem – sempre na troca de informações com os curadores dos festivais. A produção da coletânea no Brasil se deu de forma muito natural porque a linha narrativa da produtora Mundo Giras é desenvolver todos os tipos de projetos da América Latina, e ainda mais o Brasil.

O que buscou-se atingir através desta quarta edição? Como ela se relaciona e se diferencia das anteriores?
Como uma alternativa para a visibilidade, circulação, promoção e, sobretudo, apoio aos artistas bogotanos em tempos de pandemia, o Idartes desenvolveu a Bogotá Suena de forma totalmente digital. A coletânea procura levar o produto criativo musical de artistas locais a territórios que abriram seus braços à música colombiana e a outros que geram um interesse particular para o desenvolvimento destes artistas. Achamos que é um momento chave para tentarmos fortalecer ainda mais o cenário da música colombiana no Brasil.

Em termos de curadoria, os desafios são grandes, visto que o projeto objetiva trazer amplitude de gêneros, mesclando nomes clássicos e nomes contemporâneos. Como a curadoria foi conduzida e como manter a coesão artística sem abrir mão da variedade? 
A partir de um repertório dos processos criativos atuais, esta coletânea reúne um conjunto de características musicais diversas que se destacam pela interpretação, estilo e discurso de cada um dos artistas selecionados. Tivemos alguns pontos-chave pra realizar essa seleção, que destaco a seguir.
Artistas inovadores: artistas distritais que apresentam processos criativos inovadores a partir do seu desenvolvimento musical, com certa trajetória na cena musical local e nacional.
Artistas com projeção: artistas com trajetória na cena musical, local, nacional, com certa experiência internacional e um potencial de desenvolvimento do seu projeto. 
Artistas com grande trajetória e reconhecimento: artistas com uma grande trajetória na cena musical nacional e internacional, com um projeto desenvolvido, em constante crescimento, que tenham um grande reconhecimento e aceitação dos público. 
Artistas e meio ambiente: artistas com um claro interesse no meio Ambiente sustentável, demostrado no palco, em seu conteúdo lírico ou nas mensagens transmitidas a seus seguidores através do trabalho nas suas redes sociais.
Atualmente, Bogotá Suena, Vol. 4 é a única coletânea musical produzida desde uma entidade pública da cidade, que recolhe o conteúdo criativo e interpretativo dos artistas bogotanos, se posicionando como um elemento importante de Memória para o setor cultural.

Quais as dificuldades e os avanços na aproximação do Brasil com as sonoridades dos países vizinhos? Que abordagens testadas ao longo de quatro edições se mostraram prósperas?
Esta é a primeira edição que se trabalha fora da Colômbia, em grandes mercados musicais e culturais como o brasileiro, mexicano e espanhol. Acreditamos que o trabalho em conjunto e as possíveis parcerias futuras podem criar um caminho forte, essas pontes necessárias para desenvolver carreiras de artistas da América Latina de forma geral. O Brasil, cada dia mais, está se aproximando das culturas dos nossos vizinhos, acho que o turismo cultural ajudou muito nesse sentido. As viagens para os países limítrofes se incrementaram muito nesses últimos anos, trazendo novas vivências culturais para nosso país. Também têm projetos que vem se formatando e ganhando força e que trabalham a cultura latina no país, como por exemplo o Festival MUCHO! em São Paulo, que celebra, divulga e consolida a atual produção artística da América Latina.

Hernan, a “música latina” tem sido holofote de mercados como o dos Estados Unidos através do boom do reggaeton, com artistas como Maluma, J. Balvin e Ozuna. Como você enxerga esse movimento e como lidar com esse rótulo de “música latina” que exclui diversas outras sonoridades experimentadas em nossa região do continente?
O termo “música latina” foi criado pelo próprio mercado para poder conter a grande diversidade da música do nosso continente, e esse universo foi capitalizado pelos grandes nomes do pop, que são muito bons, mas não representam o grande fluxo e diversidade de possibilidades que temos hoje na América Latina. O protagonismo que espaços online têm tido nesse período, em algum ponto, está ajudando a nivelar esse mercado, deixando mais horizontais as oportunidades. Hoje, você consegue escutar, ver e acompanhar no mesmo espaço tanto artistas independentes como da cena mainstream, na mesma tela. Você consegue curtir um show da Luciane Dom ou do Caetano Veloso. Isso se reflete nos números atuais, por exemplo: no Relatório IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), o streaming mundial cresceu 22,9% em 2019, e pelo quinto ano consecutivo, a América Latina foi a região que mais cresceu (+ 18,9%), com seus três maiores mercados sendo Brasil (+ 13,1%), México (+ 17,1%) e Argentina (+ 40,9%), e esses espaços plurais fortalecem a cena para que isso aconteça. Para se ter uma ideia, EUA e Canadá, juntos, cresceram 10,4% no mesmo período. Isso reforça a ideia da horizontalidade, principalmente porque 2019 foi um ano onde os artistas independentes cresceram 39%, enquanto artistas maiores cresceram 22%. América Latina é rock, é pop, é jazz, é reggae, é hip hop, é cultura. E o Brasil está indo cada vez mais nessa direção, percebendo que tem muitas similitudes com nossos irmãos. Ainda tem muito trabalho pela frente, mas estão se criando passos firmes e pontes que vão ajudar fortalecer a cena da música ainda mais.

Confira a tracklist completa:

  1. “Tanto por mirar” – Suricato
  2. “Ginger Joe” – Southern Roots
  3. “Memtamorfosis” – Rastro and the Smokers
  4. “Sufro” – Pedrina.
  5. “No importa”- Odio a Botero
  6. “Suena la Campana” – Piangua Música
  7. “Lo que interesa” – La DC Charanga
  8. “Seres” – High Rate Extinction
  9. “Esencia” – Spektra de la rima 
  10. “Hey!” – Caravanchela
  11. “Muntu” – Anamaría Oramas feat. Rachel Therrien
  12. “Interés” – Cuerda Rotta
  13. “El Pasaporte” – Los Carrangomelos
  14. “Rumbero” – La Temblequera
  15. “El Cometa” – Tequendama
  16. “En voz confío” – Pérez
  17. “Nu raspa” – Los Yoryis 
  18. “Blues Tones feat. Sergio Arrázola” – The Negro Tapes 
  19. “Rinoceronte” – Morfonia
  20. “Anoche soñé contigo” – Folkloreta
  21. “Frío Capitalino” – Los Sordos
  22. “Labios rotos” – Efilá. Estefanía Lambuley Grupo 
  23. “Trastorno” – Buitres
  24. “Majayut” – Mucho Indio 

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12/11/2020

Brenda Vidal

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