Preciosas e guerreiras

05/06/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

05/06/2014

Fotos: Rafael Rocha

As pérolas negras são raríssimas: apenas uma em cada 10 mil tem essa coloração. Se além de preciosas elas tem muito rap, gingado e atitude, são ainda mais únicas – não nasceram em moluscos, mas no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. No último sábado, conhecemos esse tipo raro de joia em sua estreia em Porto Alegre, no Opinião, onde a gente conversou com as Pearls Negras.

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Mariana Feitosa (17), Jennifer Loiola (17) e Alice Coelho (18) formam o trio que começou no grupo de teatro do Nós do Morro, que dá acesso à arte e à cultura para as pessoas de qualquer idade da comunidade. Foi a rapper e empresária Jackie Brown que ensinou a elas que o rap é compromisso, mudando a vida das meninas completamente. “A gente nunca imaginou que iria escrever uma letra, que iria cantar”, comenta Alice. Mariana lembra que “a Jackie que realmente trouxe o rap. Somos atrizes, já fazemos teatro há nove anos, mas o que despertou isso [rap] na gente foi a Jackie”. A rapper também ensinou as meninas a realizarem uma oração e o grito de guerra antes de cada show e depois de cada ensaio.

Mariana – É o nosso ritual.

Outro personagem importante na caminhada do trio é Guti Fraga, fundador e diretor artístico do Nós do Morro. “Ele tá praticamente aqui com a gente em todos momentos, é a segunda pessoa que faz parte disso tudo que tá acontecendo, porque ele acreditou na gente. E a gente precisava de pessoas que acreditassem pra tudo isso poder acontecer”, diz Alice. Guti Fraga foi muito presente no começo da carreira das meninas. No início, elas mostravam o que eram capazes de fazer nos chamados “Campinho Show”, shows de talentos pra comunidade expressar sua arte da forma que ela quiser. Tudo com o apoio do diretor artístico. Assim, as Gutetes, como eram conhecidas nessas apresentações, divulgaram sua música na comunidade do Vidigal, que depois se espalhou pra todo o Brasil e o mundo.

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O teatro está na veia delas. Dá pra perceber isso pelas performances incendiantes ao vivo do Pearls Negras, onde sobra atitude e conexão com o público. “A gente usa o que a gente aprende no teatro. A gente tem que montar o personagem, encarar e fazer”, explica Marina.

Com essa coisa toda de teatro, Alice foi chamada pra fazer parte do elenco da próxima novela das 18h da TV Globo, “Meu Pedacinho de Chão”.

A mixtape de estreia das Pearls foi produzida pelo britânico David Alexander, que se apaixonou pelo som do grupo depois assisti-las ao vivo. Biggie Apple saiu pelo selo inglês Bolabo Records com sete faixas de muito flow do bom.

Tudo isso e elas têm apenas 17 e 18 anos. E já são inspiração pra muitas meninas. As Pearls mal conseguem conter a alegria de serem reconhecidas: “Ontem mesmo, eu tava na rua com a Jennifer e vi uma menina chorando, emocionada, falando que amava e era apaixonada por mim. Nunca imaginei que um dia eu seria inspiração pra alguém”, conta Alice.

Alice é a mais velha do trio, com 18 anos. Mesmo agora sendo maior de idade, ela vai direto com as outras mais novas pro quarto de hotel depois dos shows, que costumam rolar até às 3h.

Alice – Tipo, hoje! A gente vai fazer o show, mas a gente não vai ficar depois do show curtindo a vibe!

Mariana – É assim: ‘meninas, acabou o show, direto pro hotel!’

Alice – Mas ano que vem muda.

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Elas adoram cantoras exibicionistas de R&B dos Estados Unidos como Beyoncé e Rihanna, “que eram as que mais apareciam na TV”, explica Alice. Mas cada uma tem sua diva master. “Bem antes das Pearls, a gente sempre gostou de hip hop”, conta Mariana. Jennifer, que até agora estava mais quietinha – ela “confessou” pra gente que seu ponto fraco é a entrevista –, fala de sua musa Ciara: “Eu segui a linha dela. Ficava tentando dançar em casa, imitando. Nunca consegui, mas tentava (risos)”.

Nas letras do trio, o Vidigal aparece constantemente. O que ela mais gostam de lá? A prainha e a vista do morro.

Mariana – Quer encontrar alguém? Vai na prainha.

Alice – Quer pegar aquele garoto lindo, romantismo, vai no Arvrão que vai ser… [uma puta noite (complemento nosso)]. É a dica, aí: Arvrão do Vidigal, você e seu bofe. (risos)

Pra Mariana, no Vidigal tem muita união, sim. Mas também tem muita gente marrenta. “O bom mesmo da nossa comunidade é que tem muitos talentos. Acho que o Vidigal também é muito isso: cultura e essa movimentação, porque agora tem até gringo que tá indo lá pra comprar coisas”.

Alice – Na favela tem muita cultura, tem muito talento. Onde mais tem talento é no Morro do Vidigal, na Rocinha… Nos morros tem muitos talentos, só que não são reconhecidos. Só precisam de reconhecimento.

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Além da música, as meninas tem um visual de matar. Boné aba reta ou bandana, blusinha curta, suplex chamativa e tênis Adidas. Algumas dessas peças são customizadas por elas mesmas. “Tipo, eu to com a blusa do meu ficante… [aponta Alice para a camiseta preta com algumas mãos de Mickey] namorado ainda não (risos)”. A blusa que Mariana estava usando, foi Alice quem cortou. “Vai indo nessa, uma ajudando a outra. Curto muito fazer isso, pra ficar nossa cara, isso é bom”, completa Alice.

Mariana – Calça? Faz short. Calça que é lisa? Faz buraquinho do lado, desfia.

É com esse figurino todo que elas cantam e dançam, fazendo coreografias sincronizadas e dividindo o espaço igualmente no palco dos shows. “A gente pega rápido, mas a coreógrafa também não pega leve”, diz Alice. O trio ensaia de segunda a sábado. Alice confessa que esquece mais do que as outras das coreografias, mas em compensação ela é a que mais manda bem no freestyle.

Alice – É, eu tenho um probleminha de esquecer na hora…

Em cada show elas inovam em alguma coisa, seja na coreografia ou na música. Mariana diz que “tem show que a gente resolve improvisar tudo, tem show que a gente faz coreografia, tem show que ‘ih, esqueci a coreografia!’ e começa a improvisar”. Alice completa: “é o teatro com o rap”. Esquecer a coreografia nunca será um problema. Elas vão preencher aquele buraco com algum movimento ou verso que vier na cabeça na hora e a galera vai amar.

Depois dos clipes de “Pensando em Você” e “Guerreira”, as meninas vão lançar durante a Copa do Mundo o vídeo de “Make It Last”, da mixtape Big Apple, que vai ganhar uma sucessora nos próximos meses também.

Alice – Nossa, a mixtape tá foda.

Mariana – A segunda mixtape tá incrível.

Pearls Negras internacionais

No segundo semestre de 2014, o trio vai ir à conquista da Europa. Elas desembarcam primeiro em Londres e não veem a hora chegar em terras gringas. “A gente vai passar por muitos lugares, vai ser muito bacana”, fala Mariana animadíssima. Elas pretendem mudar radicalmente o visual por lá. Com cabelos coloridos e tudo. “A gente quer muito radicalizar tudo. Então a gente vai mudar bastante e comprar muitas coisas por lá também”.

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O show em Porto Alegre
Por Pedro Jansen

Em meio a uma avalanche de pops que não faziam a menor coceira nos meus pés, eu resistia bravamente. O tédio era grande, mesmo junto com amigos queridos, mesmo comemorando o meu aniversário. Quando as Pearls Negras subiram ao palco da Popismo, no último 31/05, bom, daí tudo fez sentido.

Alice, Mariana e Jennifer usam no ofício de rappers o que aprenderam no teatro: desenvoltura, postura corporal, marra, cara de pau. Foi lindo ouvir ao vivo as músicas que escutei e dancei tantas vezes durante o trabalho ou no carro com a namorada…

Foi lindo também ver essas pretinhas de fé, essas pretas lindas, se requebrando todas diante de uma plateia claramente pega de surpresa. Havia sim, quem estava em êxtase inegável como eu, mas que coisa bonita foi ver braços cruzados virando quadris em fúria. Mal posso esperar pela segunda mixtape dessas minas. Sei que essa “”””brincadeira”””” toda tá apenas começando.

Foto: Yuri Junges/Volt Project

Foto: Yuri Junges/Volt Project

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05/06/2014

Revista NOIZE

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