A Dolores de Nina Becker

17/06/2014

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

17/06/2014

Dizer por qual Dolores Duran a cantora Nina Becker se apaixonou para gravar seu novo disco é difícil. O próprio repertório do recém lançado Minha Dolores mostra as diversas faces da compositora brasileira que são interpretadas na voz impecável de Nina.

Minha Dolores é um disco só com canções de Dolores Duran interpretadas por Nina Becker. Lançado no dia 24 de maio no Sesc Pompeia (SP), o álbum é fruto de uma ligação afetiva da cantora com Dolores e da vontade de trazer para quem o escuta a atmosfera boêmia dos anos 50. Minha Dolores além de um grande registro da intérprete é também uma obra-prima nacional recheada de acordes e harmonias que deixariam Billy Blanco, Chico Baiano, Ismael Neto, Antonio Maria e outros tantos compositores que aparecem no disco orgulhosos com a homenagem.

*

Em canções mais pesadas emocionalmente, como “Solidão” e “Vou Chorar”, acreditamos e sentimos cada palavra soada por Nina, que dança lindamente pelas notas compridas de Dolores. Pra descobrir mais sobre essa relação sentimental entre Nina e Dolores Duran, leia a entrevista abaixo que fizemos com a cantora enquanto curte “Minha Dolores”:

Entre as primeiras músicas que você aprendeu no violão estava Dolores Duran?

Na verdade, não. Eu comecei a fazer aula com uns 11, 12 anos e nessa época eu gostava de Kid Abelha, Paralamas do Sucesso e Blitz. Mas eu achava a aula chata e parei. Depois, um pouco mais velha, quando descobri que em vez de aprender música eu poderia apenas decorar as cifras, mergulhei em songbooks, acabei aprendendo um pouco de música, porque os que eu mais gostava eram os de Bossa-Nova, com aqueles acordes complicados (do ponto de vista de quem tocava rock com três acordes foi uma grande evolução).

Como Dolores te influenciou como mulher?

Primeiro eu descobri que ela era compositora, algo raro na época. A maioria das cantoras eram só intérpretes. Depois, gostei do jeito dela cantar, tinha um senso de humor muito especial, era tecnicamente impecável, até Ella Fitzgerald era fã dela. Aí fui descobrindo quem ela era, uma mulher independente, engraçadíssima, muito querida por todos os seus pares, parceiros na música e no bar. Ter sido assim para ela, na época, deve ter sido muito difícil, mas ela era uma mulher à frente do seu tempo e isso sempre me fascinou.

Encarar as interpretações de Dolores exigiu algum tipo de desinibição?

Acho que interpretar Dolores exigiu mais concentração e mais estudo do que desinibição, porque é um tipo de repertório que tem características diferentes. Tem notas longas, intervalos maiores entre as notas, tive que encontrar um jeito de cantar essas músicas e esse processo foi um grande aprendizado e um amadurecimento. É, talvez isso tudo tenha me deixado mais desinibida 🙂

Como as pessoas estão recebendo o disco? Alguém já se identificou com você por também ter uma história com as composições de Dolores?

Já esbarrei na plateia alguns “especialistas” em Dolores que ficavam reclamando de eu não ter escolhido tal ou qual música, aí eu sempre explico com humor que essa é a “Minha” Dolores, não a deles. Mas em geral eu tenho visto as pessoas muito emocionadas. Vejo pessoas chorando na plateia, pessoas que me abraçam chorando depois do show… Pessoas da minha geração que nunca ouviram aquelas músicas e ficam espantadas com a beleza delas.

Você conheceu as músicas de Dolores na adolescência e parece que ela foi uma parte importante da sua vida naquela fase da adolescência em que estamos cheios de dúvidas. A Dolores te ajudou a encontrar as respostas?

A Dolores faz parte de um mosaico que junta muitas outras coisas que parecem ser absolutamente desconexas, como meu amor pelos Mutantes, Hermeto Pascoal, Geraldo Pereira, Itamar Assumpção, Siouxie and the Banshees, Joy Division, Bob Marley, Caetano… Tô procurando as respostas até hoje, mas acho que pretendo procurar pra sempre.

Alguma composição própria sua foi inspirada em Dolores?

Eu tenho uma música nova que foi feita no meu “modo dolores” e que vai entrar no meu próximo disco autoral.

Nina Dolores por Caroline Bittencourt 5262

Muitas músicas que você canta em Minha Dolores falam sobre uma época passada. Por que trazer essas composições 60 anos depois?

Porque eu tenho essa fixação de ficar procurando músicas de antigamente que fazem sentido nos dias de hoje. É uma mania que virou um aspecto forte do meu trabalho. Isso aparece também na Orquestra Imperial, aonde eu sempre me envolvi muito com a escolha do repertório, e também no show que fiz em homenagem ao Lamartine Babo, que era para ter sido só um show na Funarte de Belo Horizonte e acabou durando dois anos.

Poderia comentar sobre alguma dessas canções de Minha Dolores que te lembram de algum momento seu?

Na verdade, quando eu canto essas músicas da Dolores eu lembro muito da minha avó, que era também uma mulher independente. Foi uma mãe de família, que era o que esperavam dela naquela época, mas depois se tornou uma grande intelectual e uma figura interessantíssima. Mas ela cantava muito para os filhos e netos e desconfio que o sonho dela pode ter sido ser cantora ou artista. Sempre reparo que quando canto Dolores reproduzo certos modos dela, isso é engraçado, mas me deixa feliz porque ela era uma pessoa incrível.

Tags:, , , , ,

17/06/2014

Revista NOIZE

Revista NOIZE