O Casa di Caboclo é um grupo formado por MC Crespo em 2005. Trabalhando entre o rap e o samba, o grupo produz um som honesto, sem presunção.
Entre suas influências estão Beastie Boys, Cypress Hill e Racionais Mc’s. Mas ainda tem Noel Rosa, João Nogueira e Martinho da Vila. Como sai o resultado de tudo isso?
Depois do lançamento do homônimo Casa di Caboclo, agora o grupo chega com Poético, Etílico e Ritmado, que assume as raízes do seu fundador, filho do compositor Barbosa – autor do samba Embaixada de Sonho e de Bamba, da Mocidade Alegre.
Além de Samba e rap, Poético… ainda traz versões samples de Nara Leão e uma versão de Noel Rosa. Da onde surgiu tanta ideia? “É muito difícil ser original. Então a solução pra mim foi agregar todas as minhas influências”, diz Crespo.
E assim, sem pretensão, ele prova que a dificuldade, para ele, já foi superada.
_entrevista por Guilherme Medeiros
NOIZE: Como surgiu o Casa di Caboclo? E essa ideia de ser uma banda de rap com bateria, baixo, guitarra, DJ, fugindo um pouco daquela ideia de ser só o DJ e o MC?
CRESPO:Como sempre tive contato com instrumentistas, sentia falta de um formato com mais componentes e o inesperado de ter mais gente atuando musicalmente na obra, aí aos poucos fui conhecendo os músicos e incorporando a formação inicial só com o DJ.
Apesar de ser uma vontade que sempre existiu, o grupo não foi concebido para ser uma banda, foi um processo lento.
N:Por que o nome Casa di Caboclo? Vocês querem ser alguma armadilha pra alguém – como o significado da gíria?
C:Considero o nome forte. O objetivo principal era mostrar as misturas culturais que influenciavam diretamente na música. Foi tirado da letra “Nem vem que não tem ” do Simonal, depois comecei a fazer alusões a gíria nas letras e por último estabelecemos esse conceito de armadilha para os bons ouvidos, onde as inúmeras influências da banda serviria para atrair novos ouvintes.
NOIZE:Vocês são muito ligados ao samba. Você é filho do compositor Barbosa, que junto com Praxedes e Crispim escreveram o samba-enredo “Embaixada de Sonho e de Bamba”, que foi eleito o melhor samba-enredo do século XX. Como é essa relação?
C:Minha relação com o samba é natural e espontânea, desde muito novo minha vida é influenciada pelo mundo do samba de uma maneira ou de outra. Ao invés de fugir disso preferi extrair o que eu mais gosto de algo tão presente no meu cotidiano.
NOIZE: O disco possui vários samples, que não ficam só em na música, como dá pra ouvir trecho de filme como Cheech & Chong e o Selton Mello dando uma aula no Árido Movie (na música “Poético, Ritmando e Enfumaçado”). Porque escolheram usar samples do cinema?
C: Viver fazendo arte não é uma tarefa fácil, principalmente numa geração com tanta informação globalizada, onde é muito difícil ser original. Então a solução pra mim foi agregar todas as minhas influências audiovisuais. Minha moeda de troca é meu repertório e a capacidade de circular em diversos mundos. Talvez em bando sejamos mais relevantes. Como gosto muito de cinema não é sacrifício nenhum trazer isso pra minha música.
NOIZE:Como foi regravar “Gago Apaixonado” do Noel Rosa? As gaguejadas da letra ajudou ou atrapalhou?
C: No começo foi difícil, na versão do Noel as gaguejadas eram muitas. Acabei me baseando mais na gravação do João Nogueira, e no fim penso que as gaguejadas foram fundamentais para incorporar a música do mestre ao rap. O jeito falado de se fazer rima e as gaguejadas foram o elo de ligação entre os estilos.
Casa di Caboclo – O Tempo from Casa di Caboclo on Vimeo.
NOIZE:O clipe de “O Tempo” tem piano, baianas, mestre-sala e porta-bandeira, Qual foi a ideia do clipe?
C: Era uma divagação minha e da Carol Carneiro que foi assistente de fotografia do clipe, queríamos fazer um show que fosse uma miscelânea, como na época isso não era possível a Anna Penteado transformou essa ideia em clipe, juntou a equipe do Chama Sabor e rodamos tudo em 24 horas, aproveitando minha ligação com a escola e as possibilidades de produção mais acessíveis. Gosto muito do resultado e tenho muito orgulho de ter conseguido fazer um clipe daquela qualidade, naquela época. Hoje a tecnologia facilitou bastante à produção e o sacrifício parece menor, vamos ver como será o próximo, só sei que não queremos fazer qualquer coisa então de um jeito ou de outro teremos muito trabalho.
@gnomo_ é viciado em música, tênis, skate e fotografia.