Rodrigo Santos é conhecido por atacar nos baixos da Barão Vermelho – por ter passado pela Blitz, Kid Abelha, por ter trabalhando com Lobão, e por aí vai. Acontece que a Barão, banda da qual ainda faz parte, está “de férias” faz um tempo, e há cinco anos o cara aposta na carreira solo.
E tá a mil pelo Brasil, com direito a música itinerante – o projeto Kombi Elétrica – e DVD recém lançado.
Por sinal, Rodrigo também vai lançar o DVD Ao Vivo Em Ipanema na capital gaúcha no próximo final de semana, dia 16 de junho, no Dhomba.
Confere abaixo o bate-papo que tivemos com ele. Aproveita o tempo presenteado pelo feriado pra aprender um bocado sobre rock nacional e curtir junto a festa que rolou em Ipanema.
NOIZE: Qual tua melhor lembrança do começo do Barão?
Rodrigo Santos: Eu entrei em 92, já na turnê dos 10 anos da banda e o que mais curti foi a rápida amizade com todo mundo. Isso permanece até hoje, tanto que estamos voltando. Durante esses 20 anos que sou da banda, a abertura dos shows dos Rolling Stones no Brasil e o Rock in Rio de 2001, foram inesquecíveis, entre tantos outros momentos.
NOIZE: Nos anos 80, quando o Barão Vermelho surgiu, o cenário do rock no Brasil ainda carecia de estímulo e dava ali os seus primeiros passos. A inspiração vinha de fora: The Police, The Cure, Queen, Stones… Hoje, 30 anos depois, tá mais fácil fazer rock’n’roll no nosso país?
Rodrigo Santos: Por um lado sim, por outro não. Quando o rock explodiu em 81/82, com todas essas influências citadas como referência incluindo aí U2, The Who, A Cor do Som, Stray Cats, B52, Sex Pistols, Men At Work, Pretenders, Devo, Clash, Dire Straits e Talking Heads, praticamente só havia no mercado uma MPB “falida” e engessada, que visava apenas sua manutenção – e da própria rotatividade do sistema de gravadoras – com músicas enfiadas em novelas (mais ou menos como acontece agora novamente, só que em maior escala). Portanto, havia toda uma geração querendo consumir – que fosse uma influência tupiniquim do que acontecia lá fora – sons parecidos das bandas que todos escutavam aqui no Brasil e que não era possivel vê-las por conta ainda da dificuldade de trazê-las ao ainda imprevisível mercado de contratações de shows lá de fora. Todos, na verdade, queriam esses mesmos sons, “traduzidos” para a língua portuguesa. E quando isso aconteceu, (devido a uma certa abertura politica no país) a explosão de criatividade foi inevitável e combinou com uma geração inteira.
Se por um lado era difícil quebrar essa estrutura vigente montada, por outro não havia ainda a massificação de outros gêneros musicais popularescos, como o axé, sertanejo universitario, pagode romântico e funk. Nem o Rap existia no Brasil. E funk era Tim Maia, no máximo (risos).
Quando a Blitz abriu a porta, todos entraram e durante uma década só se tocou rock no país, deixando a MPB em segundo plano, a ponto de Caetano e Gil começarem a compor de um jeito que continuassem se mantendo nas rádios de pop-rock (caso das músicas “Podres Poderes”, “Eclipse Oculto”e “Rock do Segurança”, ali pelos anos de 83, 84 e 85. Nos anos 90 começa a entrar uma mistura de reggae, hip hop e de batuque brasileiro, com Planet Hemp, Chico Science & Nação Zumbi, Skank e Raimundos, assim como a popularização do rap, ainda que leve, de Gabriel, o Pensador. Entraram também outros milhares de gêneros musicais (o Axé é uma extenção da Lambada , de 84) e de 94 pra cá, tomaram de assalto a mídia. As bandas e rádios de rock começaram a escassear ma mídia aberta e começou a fase “internet”. Poucas ainda se mantiveram em cima, concorrendo com os novos gêneros.
De lá pra cá , Pitty, Detonautas e Charlie Brown mantiveram o rock aceso. Mas a verdade é que essa nova geração ficou quase que impossibilitada de entrar nas TVs e rádios, que são visivelmente voltadas ao gênero “popularesco”, salvo raras exceções. Isso torna o rock de hoje tão guerreiro quanto o dos anos 80, só que de outra forma, pois temos (quando digo temos, me incluo no novo rock feito agora também, com discos autorais de inéditas) a facilidade de mostrar o trabalho pela internet, coisa que não havia antes. As bandas como Restart e Cine já fazem parte de uma indústria do rock criada em SP e que de uma certa forma também está engessada por um novo sistema,quase de cartéis. As outras circulam no underground.
Mas uma hora a corda cede e a porta abre. Fazer rock de qualidade no país passou a ser uma guerra novamente. Guerra contra o sistema. Mas existem as TVs a cabo e a internet. Isso tambem é um novo facilitador para um publico mais segmentado.
NOIZE: Você já passou por diversas bandas, tocou com diversos artistas. A carreira solo foi uma descoberta entre os hiatos do Barão ou foi sempre um sonho seu?
Rodrigo Santos: Na verdade, eu sempre tive bandas cantando, inclusive o FRONT, na década de 80 (entre 83 e 89). Só que a minha vida foi me direcionando sem pausa a tocar com João Penca & Miquinhos Amestrados (85), Leo Jaime (86,87,88), Lobão (88,89,90,91,92) e entrar no Barão em 92, banda da qual faço parte até hoje (mesmo estando em carreira solo).
Nas primeiras férias do Barão (de 2001 a 2004) até poderia ter juntando meu lado de compositor ao de cantor (pois a partir de 94 também montei uma outra banda paralela ao Barão, como cantor: Os Britos – que cantavam Beatles) ,mas fui prontamente recrutado pela Blitz e pelo Kid Abelha (onde gravei também o Acústico MTV e excursionei até a volta do Barão, em 2004) e acabei não tendo tempo para me dedicar como gostaria à carreira solo. Isso começou a permear a minha cabeça quando soube em 2004 que o Barão pararia em 2007 novamente, sem previsão de volta. Aí mudei minha maneira de pensar e agir.
Parei com álcool e drogas em 2005, comecei a compor muito, me tornei coordenador numa clínica para dependência química e alcoolismo de 2006 a 2009 (Centro Vida, a mesma que me ajudou a parar) e em 2007 iniciei minha carreira solo focado numa trajetória, não apenas num disco isolado. E isso me possibilitou a recolocar no eixo, um sonho antigo meu, a de cantar minhas próprias composições (que já vinham aumentando em quantidade nos discos do Barão e Britos).
Quando montei meu power trio em 2010, comecei a média de 18 shows por mês, e não parei mais. Já são 4 CDs, um DVD e muitos projetos pela frente. Mais de 1100 shows foram feitos em carreira solo, de 2007 até 2012.
NOIZE: Em 2012, temos uma geração de jovens muito ligada à internet, movida a downloads, a conteúdo descartável e bombardeada por novas bandas a cada dia. O tal do “indierock” nunca foi tão popular, ou ao menos acessível. Quem você citaria como grande influenciador dessa geração?
Rodrigo Santos: Autoramas, Vanguart, Filhos da Judith e Moveis Coloniais de Acaju são algumas das belas bandas que temos e acho que tem influências completamente diferentes entre eles. Barão deve ser uma referência, mas não sinto isso no trabalho de nenhuma delas. Acho que Bob Dylan, Beach Boys… influências dos anos 60/70, lá de fora.
NOIZE: E falando em internet, o DVD Rodrigo Santos ao Vivo em Ipanema foi financiado através de crowdfunding. Você acha que essa é a chance de aumentar a independência dos artistas, e, consequentemente, da arte?
Rodrigo Santos: Acho. Meu DVD teve também ajuda de alguns patrocinadores que corri atrás, mas já depois de pronto. O crowdfunding foi mais um meio que achei de tentar realizar a parte 3 do DVD, a mixagem, assessorias, etc. No final disso tudo entrou a gravadora Musikeria, fabricando e distribuindo o produto. Tudo é solução. Não pode é ficar esperando cair do céu. O artista tem de continuar a se impor no mercado, e não correr atrás do mesmo. Eu uso muito meu site e os dois Facebooks Rodrigo Santos + Twitter que tenho. Divulgo muito e encho meus shows por aí também. Por isso os projetos de crowdfunding dão certo comigo, pois estou sempre junto do meu público.
Quem quiser me encontrar pode ir no site e Facebook que estou sempre lá!
NOIZE: No palco com Evandro Mesquita, Frejat, Pepeu Gomes, Ney Matogrosso e mais uma porrada de gente, como acontece no DVD. A sensação é de reunir os amigos na sala de casa?
Rodrigo Santos: Exatamente! E que amigos, né? ( risos) Foi muito prazeroso estar com todos eles e todos tem algum tipo de significado na minha carreira, tanto musical, como influências. Não foi gratuito. Alguns participaram dos meus CDs solo. Na parte do teatro Ipanema (autoral), canções dos meus 3 discos.
Na parte da Kombi na praia, a presença de artistas que acompanhei como baixista ou que tive forte influência e um repertório mais festa mesmo, basicamente o que levo pra estrada.
Mais Rodrigo Santos aqui: www.youtube.com.br/rodrigosantosoficial e www.myspace.com.br/rodrigosantosoficial.