Entrevista de quinta | “Hoje vejo as pessoas entendendo que [o rap] é um estilo musical tão digno quanto qualquer outro”, diz o rapper Projota

26/07/2012

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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26/07/2012

_por: Bru Valentini
_foto por: Bruna Oliveira

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No dia 20 de julho conhecemos a lista dos indicados ao VMB 2012. Nomes como ConeCrewDiretoria, Emicida, Rashid, Criolo e Ogi despontaram em pelo menos seis categorias.

José Tiago Sabino Pereira, conhecido nos palcos como Projota, também emplacou na maior premiação da música pop brasileira: está entre os concorrentes nas para o prêmio de Hit do Ano, Melhor Artista Masculino e Revelação.

Ele é o cara que tem mais de 15 milhões de visualizações de seu canal do YouTube e vem se consagrando como freqüentador assíduo dos Trending Topics do Twitter. E que além das três indicações ao VMB, traz na mochila três discos, uma mixtape e um DVD recém lançado, batizado Realizando Sonhos.

O DVD rendeu, inclusive, mais uma passada pelos TTs do Brasil:  #descialadeira foi um dos assuntos mais comentedos no Twitter no dia 14 de março, quando Projota lançou o clipe “Desci a Ladeira”, que nada mais é que um extrato de Realizando Sonhos.

E ele é o cara da nossa entrevista de quinta. Batemos um papo sobre a amizade entre o rappers e a revolução que seu som quer propor, seja no mercado da música, seja com os milhares de moleques que o levam como exemplo.

NOIZE: Você já disse por aí que o Rap tem que ser entendido como música pelas pessoas. O que isso significa?
Projota: Isso é algo que ouvia meus ídolos dizendo há 10 anos, como Helião, por exemplo. Sempre reclamamos muito que as pessoas não respeitavam o rap como um estilo musical, além de militância e movimento sociocultural.

Hoje vejo as pessoas entendendo que é um estilo musical, tão digno quanto qualquer outro. Perceberam a musicalidade atrás da militância, e a consequência disso são os diversos prêmios sendo entregues a artistas como Criolo, Emicida. E só tende a crescer.

NOIZE: Se sente parte de uma vanguarda, de uma renovação da cena aqui pelo Brasil?
Projota: Acho que não há renovação, talvez uma continuidade. Hoje temos vários caras que tão aí há décadas, e seguem fazendo lindos trabalhos, como Racionais, Mv Bill, GOG, até mesmo o Criolo, que já está aí há um tempão, mas nem todos se lembram disso.

Nós somos uma semente plantada por esses mestres, e seguimos crescendo nossos galhos, plantando nossas sementes também. O rap ainda mantém um sentimento de união forte, onde todos os artistas ficam realmente felizes ao ver os parceiros crescendo.

NOIZE: Agora que você já lançou mixtape, EP e até DVD, qual o próximo passo?
Projota: Hoje estou trabalhando numa nova mixtape, que tenho certeza ser meu melhor trabalho. Numa próxima oportunidade falarei mais dela, ainda estamos construindo. Começamos as gravações agora. Em um ano de composições, são mais de 40 raps. Selecionei 21, e estamos partindo pra cima das gravinas.

Esse disco vai trazer diversos vídeos, alguns para web e outros videoclipes oficiais, para serem exibidos na TV. Em especial, nesse momento estamos trabalhando num desses vídeos, de um som inédito que se chama “Ziquezira”, produzido pela Pexera Produções, mesma produtora que fez o nosso DVD.

NOIZE: Aliás, as participações especiais do DVD – Emicida, DJ Caíque, Emicida, Flora Matos, Kamau, Karol Conká, Marechal, Max B.O., Rashid e Terceira Safra – explicam seu nome, Realizando Sonhos? A escolha desse povo todo pra fazer barulho junto é com intenção de contar que história?
Projota: Acho que aquele show foi especial. Hoje, para meu público foi um momento histórico. Talvez, daqui a alguns anos, ele se configure como um marco histórico para todo o rap. Mas isso somente o tempo poderá dizer.

Eu fiz questão de levar comigo meus parceiros mais próximos, o que inclui vários ídolos meus, e isso com certeza é um grande sonho realizado, poder fazer história ao lado de amigos que viraram ídolos, e ídolos que viraram meus amigos. Para contar uma história de superação, de mostrar que através de muito trabalho, é sim possível se erguer na vida, com dignidade e sem passar por cima de ninguém.

NOIZE: O VMB desse ano traz nos indicados gente como ConeCrewDiretoria, Emicida, Rashid, Criolo, Ogi, e você, claro. Acha que é um bom momento para o rap, hip hop nacional?
Projota: Acho que é um momento incrível, e me sinto privilegiado por poder viver isso tudo. Procuro manter meu foco e meus pés no chão, pra que nesse presente eu possa plantar coisas boas, que se refletirão na minha vida lá na frente.

Prêmios podem chegar ou não chegar, será especial se eu receber esse reconhecimento, porém, sei que a verdadeira motivação tem de ser a de simplesmente me tornar um compositor melhor, um músico melhor, e sempre, sempre, uma pessoa melhor.

NOIZE: Você está concorrendo ao hit do ano ao lado da ConeCrewDiretoria, do Emicida e do Rashid. E a melhor artista com gente grande como Seu Jorge e Criolo. Como se sente? É todo mundo brother aí?
Projota: Eu vibrei por anos vendo o Emicida sendo indicado, e principalmente em 2011 vendo ele e o Criolo ganhando vários prêmios do VMB. Hoje é minha vez de vivenciar essa experiência, eu fico tenso, fico ansioso, divulgo muito, pois sei que é uma oportunidade única, então vivo intensamente esse momento. Mas quem vencer, será comemorado por mim também, mesmo não sendo eu. Pois já é muito importante ter sido lembrado.

Meu público tá aí, meus shows, já sou abençoado, e qualquer derrota, não seria suficiente pra diminuir minha alegria de viver essa vida que tenho.

Todos amigos, quando nos vemos é sempre aquela festa, um monte de maloqueiro doido falando desde as coisas mais sérias até as maiores besteiras. Assim é amizade, ou, no mínimo, os momentos que passamos com pessoas que gostamos.

NOIZE: E essa história de Trending Topics no Twitter. Tem se tornado comum, não? Você disse em uma entrevista que os jovens tem abraçado as músicas, ou seja, abraçado uma revolução. Que revolução é essa?
Projota: Tem se tornado comum, eu diria que até demais. Talvez já tenha se banalizado. Fico feliz por ter sido pioneiro nisso e ter vivido um momento onde quando a gente colocava nosso nome lá nos TTs, realmente causava um impacto nas pessoas, hoje mal se olha os TTs, acredito eu.

Nossa revolução começou no mercado da música, onde fizemos nossa própria cena, e principalmente, aprendemos a viver de música, sem depender de nada alem de nós mesmos e nossos amigos.

Hoje os veículos nos notaram, as gravadoras, toda a indústria. Muita gente nos pergunta como fizemos, tentando encontrar a fórmula – fórmula essa que não existe. A fórmula é não buscar nenhuma fórmula.

E essa revolução vai ser entendida quando surgir um líder no meio dessa molecada que parece inofensiva aos olhos dos poderosos. Acredito que tudo começa quando a massa dos jovens percebe que música de diversão é bom, mas buscar conhecimento e força pra transformar também é importante. Temos recuperado esse brilho no olhar dos jovens.

E me tornar espelho pra moleques iguais a mim, provavelmente vai motivar milhares desses, e se eu sozinho faço o que faço, imagine milhares.

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26/07/2012

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