Entrevista | Elza Soares, Salma Jô, Karol Conka e a força do Festival Timbre

11/09/2018

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Reprodução

11/09/2018

Voz, empoderamento e muita música. A quinta edição do Festival Timbre chega potente, querendo fazer barulho e ser ouvido. O evento traz o tema “Nossa Voz, Nosso Poder” e já deu a largada no último dia 9, com o “Esquenta Festival Timbre”, uma atividade com entrada gratuita na Praça Paris, em Uberlândia. Na quinta dia 13, eles seguem a todo vapor, com ações que rolam até o dia 16.

As atrações principais tomam conta do Teatro Municipal no final de semana com um line up de peso: na sexta, dia 14, sobem ao palco Supercombo, Plutão Já Foi Planeta, Gabriel Gonti e Outroeu; no sábado, dia 15, a festa fica por conta de Marcelo D2, Elza Soares, Karol Conka, BaianaSystem, Lagum, Drik Barbosa, Porcas Borboletas, Uganga, Clemente, Minimal e Pieit; no domingo, se apresentam Carne Doce, Mina das Minas, Julia Branco, Musa Híbrida e Deminux.

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Para aquecer os motores para o festival, conversamos com as incríveis Elza Soares, Karol Conka e Salma Jô, de Carne Doce, sobre tocar em festivais e suas apresentações para o Timbre. Garanta seu ingresso aqui e confira o papo na sequência:

Como é a relação de vocês com festivais e estar em line ups?

Karol Conka: Eu gosto muito de tocar em festival, eu peguei essa paixão lá em 2013, quando eu lancei o meu disco [Batuk Freak] e fui chamada para tocar em vários festivais e até mesmo fiz uma tour europeia. Eu sinto um impacto muito grande de tocar em festivais, porque são muitos artistas e um público diverso, o que abre uma possibilidade das pessoas me conhecerem melhor. Acho que não tem maneira mais rica de conhecer um artista do que ir no show dele e em um festival ele tem esse clima festivo, de diversidade. Sempre vai uma galera de todas as idades, tamanhos, cores e formatos, então eu sempre me sinto bem acolhida.

Salma Jô (Carne Doce): A gente sempre conta sobre a importância que os festivais tem pra nossa cidade. Somos de Goiânia e temos alguns dos principais festivais aqui, como o Bananada, o Goiânia Noise e o Vaca Amarela. Foram eles que deram vida pra cena, fizeram surgir um calendário de shows e conseguiram promover bandas daqui, são grandes eventos que marcaram e que fizeram a cena daqui continuar proliferando. Então, os festivais são o primeiro grande palco para as bandas daqui, foi a nossa primeira ambição como banda independente. Achamos que tocar em festivais é muito importante porque a gente consegue aparecer para outros públicos que poderiam ser parecidos com o nosso ou com outros artistas que poderiam ser parecidos com a gente, mas que ainda não nos conhece. Além de, muitas vezes, eles permitem pagar a nossa logística pra chegar em outros pontos do país. Ir para o nordeste tocar em alguns festivais permite que a gente faça alguma turnê por lá, ou pelo menos começar a ter uma estratégia de turnê que a gente posso pagar toda a logística, que é muito cara porque o país é muito grande, é tudo muito extenso e circular é muito caro pras bandas. Sem falar de tocar com vários artistas diferentes! A gente é uma banda de rock, mas tocamos em festivais que estão bem heterogêneos, tem dias que a gente divide noite com Pablo Vittar, que é muito mais dance, tem vezes que a gente divide com alguém do rap. Isso nos tira de uma zona de conforto de forma positiva porque nos desafia enquanto artista.

Elza Soares: Eu amoooooo!!! É uma energia ótima, em festivais conseguimos reunir um publico ainda maior comungando os mesmos desejos de cantar por um mundo melhor. Tenho tido experiências lindas em festivais, não só no Brasil, mas também na Europa, nos EUA.

Qual a expectativa pro show no Festival Timbre? Como estão os preparativos?

Karol Conka: Eu tô mega empolgada! Tocar nesse festival é algo de grande importância pra mim, pelo carinho que com o qual eles tratam o movimento musical, além de ser na mesma noite que Elza Soares, o que me deixa bastante emocionada!

Salma Jô (Carne Doce): Super! Vai ser o primeiro festival grande que a gente toca depois do lançamento de Tônus (2018)! Vamos apresentar as músicas novas e também a estética nova. O nosso show tá mais poderoso, a gente tá com uma iluminação elaborada, tá bem bonito, bem chique. Eu tô curiosa pra saber o que as pessoas vão achar!

Elza Soares: Expectativa de fazer o meu melhor! Levar este meu outro show, “A voz e a Máquina”, que também é forte, moderno e amo fazer!

Como o tema do timbre “Nossa voz, nosso poder” toca vocês?

Karol Conka: Eu sempre falo que pra gente poder tocar as pessoas, a gente precisa ter um argumento. Pra ter um argumento, você deve ter um olhar mais empático e uma vivência. Essa frase “Nossa Voz, Nosso Poder”, pra mim ela significa essa potência de vivência e a vontade de passar uma mensagem na intenção de abrir a visão das pessoas. Eu vejo muita gente confundindo essa fala e essa frase e utilizando o preconceito deles como opinião, como se fosse um direito de fala ou uma voz que deve ser ouvida. A gente tá num tempo onde as coisas estão muito confusas. As pessoas não tão sabendo identificar o que é opinião, o que é preconceito, o que é realmente lugar de fala. Então, nesse evento, a gente vai poder mostrar para o público o que realmente é o poder da fala.

Salma Jô (Carne Doce): Eu me inspiro muito em coisas que eu vivi, empresto muito de sentimentos meus pra poder emocionar as outras pessoas. Isso até tem algo de terapêutico, esse exercício de pegar os meus sentimentos – muitas vezes eu gosto de usar aqueles sentimentos que a gente não gosta muito de confessar e expor, como a dor – pra reelaborar isso de uma forma poética. E você ver as pessoas se emocionarem com isso, se identificarem com esses sentimentos… isso é muito poderoso. É poderoso, mesmo não sendo um tema político ou militante, só pelo ato de você se emocionar e a outra pessoa se emocionar. É muito humano e muito positivo. Eu acho que isso que a gente compartilha.

Elza, acompanhando a sua trajetória, a gente chega à conclusão de que nem sempre o seu trabalho foi reconhecido da forma que deveria. Agora, você é uma das cantoras mais importantes da música brasileira e sua voz é respeitada. Como é para você refletir sobre essa trajetória e estar neste lugar?

Elza Soares: Eu sempre fui muito sozinha, construí minha história contando com Deus e a minha voz. Nunca desisti de seguir em frente, nunca aceitei o pouco que me davam, sempre briguei por mais. Fiz tudo aquilo que acreditei, nunca aceitei o “não” como resposta. Talvez isto tenha contribuído para uma carreira sempre com muitos altos e baixos. Por isso, hoje, eu brinco que estou no auge. É só uma brincadeira porque hoje eu tenho tido uma resposta imediata e concreta de um público que tem redescoberto a Elza que eu sempre fui, sempre lutando com todas as bandeiras que trago ainda hoje comigo. A diferença é que hoje as pessoas estão mais preparadas para ouvir o que venho gritando a muito tempo. Acredito que nunca é tarde, a fruta sempre cai na hora certa. Não é fácil, todos os dias os meus meninos, Juliano Almeida e Pedro loureiro, meus empresários, trabalham muito para manter isso tudo que vocês veem por aí. Ainda mais hoje, num mundo em que as pessoas consomem tudo muito rápido e não têm tempo para prestar atenção na mensagem do outro.

Grande parte do seu público é super jovem. Como é dialogar com essa nova geração?

Elza Soares: Eu adoro!!! É uma meninada com fome de ouvir o que tenho para dizer. Este trabalho que faço é muito sério, viu? Sempre fui muito ligada no agora, sempre tive uma ligação muito forte com esta juventude que briga por este país e deseja mudança.

Karol, o que você pode compartilhar com a gente sobre projetos futuros? Tem disco novo vindo por aí?

Karol Conka: Tem um disco lindo vindo, lindo mesmo, todo produzido pelo Boss In Drama! O nome dele é Ambulante e antes do lançamento dele vem música nova, ainda nesse semestre. Eu só não posso falar a data em que ele vai ser lançado, porque eu já falei tanto, e na época em que eu falava em data, eu nem tinha o disco em mãos, acredita? Eu fala “aí, vai sair em tal dia de agosto”, mas eu nem tinha as canções prontas. Hoje já está tudo com a Sony – é a primeira vez que eu assino com uma gravadora e tô bem feliz porque eu acho que é um grande passo que eu tô dando. Embora eu tenha tido sucesso artista independente, eu acho que agora é hora de inovar, dar um toque diferente. São dez singles inéditos e não tem nenhuma participação. Achei que por demorar tanto pra lançar um novo álbum, era justo chegar sozinha e dosar essa potência de todo o tempo em que eu fiquei trabalhando a minha imagem e minha mensagem. Eu acho que que os meus fãs querem a Karol só pra eles, então eu descartei qualquer possibilidade de parceria nesse álbum. Mas tô bem satisfeita, Eu acho que é um amadurecimento do primeiro álbum.

Salma, 2018 tem sido um ano especial para vocês com o lançamento de Tônus. Como tá sendo a experiência de vivê-lo no palco? Ainda é um terreno a ser descoberto ou a tour já tá com um jeito de Tônus?

Salma Jô (Carne Doce): A gente ainda tá descobrindo, sim. Ainda tem esses momentos de luz que eu tenho que elaborar melhor a minha coreografia e pensar melhor a forma como eu uso o meu corpo e a dança. E, como banda, esse novo disco também é um desafio porque as músicas anteriores eram mais explosivas, eram mais rock n roll, mais gritadas. Agora, elas são mais calmas, mais silenciosas, mais suaves mesmo. É uma transição, a gente tá aprendendo a dominar isso ainda, mas tá sendo cada vez mais bonito. Quando a gente chegar no Timbre vai ser lindo!

Karol e Elza, o que motiva vocês a usarem a voz de vocês? Onde vocês querem que ela chegue?

Karol Conka: O que me alimenta enquanto artista e pessoa é saber que a minha mensagem tá sendo bem distribuída e absorvida. Quando eu vejo que as pessoas entendem o que eu tô falando, eu acho que isso é incrível. Eu não me acho a dona da verdade, jamais, mas eu acho que eu tenho o poder da fala, o dom de saber expressar alguns sentimentos. Então, eu quero que a minha mensagem não chegue só pras pessoas que convivem no mesmo ramo que eu, que tem as mesma visão de um mundo que eu. Eu quero que a minha mensagem chegue até àquelas pessoas que tem uma imagem distorcida do que a realidade, acho que são elas que mais precisam ouvir a minha mensagem, pessoas que tem seus preconceitos disfarçados de opinião. Então, eu fico muito feliz quando eu vejo pessoas que eu que tem um pensamento cinza, sem empatia, me dizendo “um dia eu pensei errado, mas graças a sua mensagem, eu consigo respeitar a opinião do outro, a vivência e a escolha do outro, e a condição social das pessoas”. Isso me deixa bem tocada.

Elza Soares: A luta! Uso o meu espaço para gritar por uma mundo melhor, sem racismo, sem homofobia, sem feminicídio, onde cada um respeite as diferenças. Um mundo em paz e com mais amor, menos ódio e intolerância. É disto que falo em minhas musicas, quem assiste meus shows sabe o que estou falando. Acho que assim minha arte faz sentido. Quero fazer chegar a mensagem em número maior de pessoas para que possa engrossar o nosso grito de mudança.

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11/09/2018

Brenda Vidal

Brenda Vidal