Entrevista | Em disco novo, Luísa e os Alquimistas saltam em direção ao brega

29/10/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Luana Tayze/Divulgação

29/10/2019

Nenhum álbum de Luísa e os Alquimistas, até agora, foi batizado com o nome de “camaleão”. Entretanto, esse réptil que possui a fascinante capacidade de mudar de cor também serve de símbolo para a mutação e versatilidade estética do projeto potiguar. Depois de serem Cobra Coral (2016) e de incorporarem uma diva decadente em Vekanandra (2017), a trupe de alquimistas formada por Gabriel Souto, Pedras, Zé Caxangá, Pedro Regada, Carlos Tupy e Tal Pessoa, guiados por Luísa Nascim, atendem ao chamado do self selvagem e incorporam o felino, tropical e assumidamente brega arquétipo da Jaguatirica Print (2019).

Em um mergulho na pesquisa estética e sonora do brega, tendo como viés o fenômeno cultural da música brega nordestina em suas diversas vertentes – brega funk, brega wave e o que mais o ritmo permitir – , o álbum mais recente de Luísa e os Alquimistas cria um tecido musical recheado de referências. Estampado, igual a pelugem da jaguatirica. Reggae, dub, dancehall, pop, reggaeton, brega, R&B, tudo isso resulta numa alquimia despudorada, esfumaçada, quente, pegajosa e sensual.

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Registro mas maduro da trinca de lançamentos até agora, Jaguatirica Print conta com apoio do edital da Natura Musical e com um time de feras entre as parcerias: o “bando” é formado por Jéssica Caitano, Catarina Dee Jah, Sinta a Liga Crew, Doralyce, Izy Mistura, Jamila e Luê. A direção artística e musical de Luísa e produção musical de Gabriel Souto e Pedras.

Uma delícia caribenha e latina, o álbum é um convite pra dança, pra liberdade do corpo, dos prazeres e dos afetos. Um registro assumidamente mais pop e descaradamente brega. Pra quem quer se deixar enfeitiçar, a dica é não perder a agenda de shows de vista. Eles se apresentam em Porto Alegre já nesta sexta-feira, dia 1 de novembro no Agulha pelo Projeto Concha, e depois seguem para Mossoró, no Rio Grande do Norte, no dia 15 e, na sequência, para Natal, no dia 23.

Para fazer o aquece ou para ativar seu modo Jaguatirica, vem com a gente: coloque o disco para tocar (player abaixo) e confira um papo que a NOIZE bateu com Luísa Nascim sobre o processo de criação do álbum, os atributos da Jaguatirica e a potência do brega. Desça a página e leia tudo!

Luísa, quando essa Jaguatirica Print começou a se desenhar? Há quanto tempo o álbum que a gente ouve hoje tem sido gestado? 
Então, duas músicas que estão presentes nesse disco foram feitas durante uma das minhas idas a São Paulo, quando eu ainda não morava aqui, quando participei de algumas atividades do Red Bull Music Studio Pulso 2018. Durante esse processo de criação e de encontro com outros artistas, eu compus “Tous Les Jours” em parceria com Izy [Mistura] e fiz “Descoladinha” com a Jéssica [Caitano]. Essas músicas ficaram ali meio que guardadas e, okay, vida que segue. Quando eu me mudei de vez para São Paulo, o edital da Natura [Musical] abriu, e foi realmente aí que eu sentei, pensei e visualizei a ideia de fazer o disco. O processo de escrever o projeto e sua aprovação foram pontapés iniciais. Depois de aprovado, quando a gente percebeu que ia conseguir realizar a maior parte do que a gente havia imaginado, arregaçamos as mangas e começamos a trabalhar no álbum e aí surgiram várias músicas a partir desse conceito. A gente já sabia que queria pesquisar mais coisas contemporâneas do nordeste, de música de periferia e música urbana que tá sendo feita nessa parte mais de cima do nordeste. Colocamos essas duas músicas que haviam sido feitas em outro momento porque a gente achava que tinha tudo a ver, já fazia parte desse novo momento da banda, e depois que as outras canções foram sendo feitas a partir desse recorte de nordeste e do brega. Só nesse meio do processo que o nome do álbum surgiu e que faixas como “Jaguatirica Print” nasceram. As coisas foram se encaixando durante esse um ano e meio pra cá. 

E tudo em um espaço de tempo super rápido, né? O que é algo que chama a atenção na discografia de vocês, todos os lançamentos saem quase que um atrás do outro. 
É, é bem difícil, é uma doideira fazer disco hoje em dia. Não é algo muito rentável, principalmente nas plataformas de streaming. Nessa lógica, é melhor lançar singles, e não que eu não vá lançar mais pra frente, mas eu tenho curtido esse formato de conceituar um disco. Têm muitas músicas que estão nesse álbum que não existiriam se não fosse por ele, entende? Em Vekanandra também tem isso, músicas que só fazem sentido dentro da obra. 

O álbum é o terceiro trabalho do grupo. Como vocês avaliam o Jaguatirica Print nesse um mês aí de lançamento? Como ele conversa com a discografia de vocês?
Eu sinto que esse é um disco mais maduro. A gente vêm pesquisando e experimentando sem amarra nenhuma, sem querer estar dentro de um nicho, a gente meio que foi só fazendo, enquanto eu também ia me descobrindo enquanto compositora, como diretora artística e musical desse projeto também. A minha história com a arte é longa, mas, na música, ela se inicia com Luísa e os Alquimistas. Eu sinto que esse disco, por ser o mais recente e por já termos construído uma trajetória sólida durante o seu lançamento somada à experiência com o público, é muito interessante ao vivo, a forma como ele funciona como um show de festival. Eu sou uma pessoa que gosto muito de sair pra dançar e acho que esse é o nosso disco mais dançante, até as músicas mais relax são envolventes. É uma coisa que também rola nos outros, mas a Jaguatirica traz mais isso. É o momento artisticamente mais maduro de todos nós e o fato da gente ter uma estrutura – já que os anteriores a gente sempre gravava em casa, em estúdios pequenos ou home studio e sempre na raça, sem patrocínio – , foi bem interessante e bonito de ver o que a gente consegue fazer com um suporte bacana. É um disco que arromba as portas, chega de maneira mais expressiva. Eu costumo dizer que o Cobra Coral é o primeiro, são minhas primeiras composições, tudo é muito visceral, muito cru. Vekanandra já é uma egotrip de uma pessoa que não sabia muito bem se queria estar ali. Eu venho de outras áreas da arte, eu venho do Circo, era diretora de espetáculo, criava coreografias, e tava na dúvida se que queria realmente ingressar nesse mercado, estava com várias questões sobre o mundo da música. A partir disso, criei essa figura da Vekanandra, essa diva decadente com várias questões e coloquei muitos dos meus sentimentos neste trabalho, dá pra dizer que é um disco mais fechado em mim, na minha vivência.  Enquanto Jaguatirica Print vem com mais pretensões, um trabalho onde eu assumo a linguagem pop sem medo, apesar de ter vindo de um esquema alternativo e underground do nordeste, de se jogar nessas misturas. É uma coisa mais consciente do outro, do público, mais desabrochante, solar. 

Pelo o que você tá me dizendo, o universo de Jaguatirica Print é que criou as músicas, não as músicas que criaram um universo no qual elas puderam ser encaixadas. Além disso, o disco nasce de uma pesquisa sonora e estética focada no brega. Vocês sentem que o álbum é mais uma pira de agora e que, futuramente, será um recorte da discografia de vocês no qual o grupo estava focado em uma pesquisa específica, ou o que o álbum aponta um norte para o que pode ser a estética da Luísa e os Alquimistas daqui pra frente? 
Boa pergunta. Eu sou muito eclética, gosto de fazer muitas coisas. Sei que para esse meio da música, isso pode confundir um pouco as pessoas, a gente já tem uma discografia que passa por algumas sonoridades que têm uma liga mas, ao mesmo tempo, são muito diferentes. Mas eu realmente gosto de estar livre para fazer qualquer coisa mesmo. Mas eu tô fascinada por esse momento da música brasileira e da música mainstream que é o brega funk, que enquanto cultura de periferia eu gosto muito, mas tenho consciência que eu não sou de periferia, mas ainda sim é algo que me toca e que eu admiro como música popular brasileira. Sei que muita gente dessa cena alternativa, cult, indie, olha com um certo desdém, mas, ao mesmo tempo, eu não sei dizer o que a gente vai fazer daqui pra frente, sabe? Porque eu também gostaria de vir com um álbum totalmente diferente, eu gosto de proporcionar diferentes possibilidades para os ouvintes. Acho que na construção da trajetória dessa discografia, eu penso de repente em algo assim, mas eu confesso que a cultura brega, a música dançante, essa coisa mais nordestina, cantar em português, tudo isso são coisas que estão ficando, mas sempre com as antenas muito abertas e com vontade de fazer várias coisas que nunca fiz, tipo música eletrônica africana, kuduro, é tudo sem limites. 

Eu sei que você nasceu em Natal, tem família lá, e que também tem família em São Paulo, mas foi neste ano que você se mudou para aí. Depois de uma carreira no Rio Grande do Norte, surge Jaguatirica Print, um trabalho que mergulha em um fenômeno cultural do nordeste, estando em São Paulo. Quais foram os impactos desta mudança em seu processo criativo? 
Bom, a nostalgia e a saudade são sentimentos que neste último ano, estando aqui [SP], foram muito recorrente. É um outro Brasil, né? As pessoas do sudeste e do sul acham que quando vão para a Bahia, elas conhecem o nordeste. Mas, da Bahia para Natal, são muitos quilômetros! Eu acho que essa coisa de se distanciar pra ver algo que fazia parte da minha rotina, que passava com os carros de som, mas também entender que existe uma população nordestina super forte aqui em São Paulo e que construiu essa cidade, tudo isso me veio enquanto substância para compor. Com certeza, o fato de eu ter me distanciado do nordeste justamente quando eu queria pesquisar mais isso, por um lado, dificulta, porque a gente acaba tendo que pesquisar por outras vias e tentar entender o que tá rolando pela internet, enquanto quando você está lá [nordeste], só de ir para a praia você vai ouvir um som diferente. As coisas chegam aqui com um certo delay e também o que já está mais conhecido. Mas, enfim, construí uma base muito forte lá, os meninos [Alquimistas da formação original] estão lá, eu fui umas sete vezes pra Natal desde que estou aqui. Eu criei essa base aqui em São Paulo por uma questão mais estratégica, mas eu estou mais é em trânsito. 

E agora, sobre seu processo de composição para Jaguatirica: as letras são cheias de referências, evocam uma estética de colagem. Muitas vezes a palavra tá mais condicionada à melodia, ao flow, do que ao seu significado literal. Compartilha pra gente um pouco desse processo, ainda mais levando em consideração o período de produção tão corrido? 
É, foi bem corrido e eu me cobrei muito. Passei um ano e meio assim… meio doida [risos], nessa pressão de tirar tudo isso que eu sabia que estava dentro de mim, mas que eu precisava. Não era aquela coisa do “ah, vou esperar a inspiração vir para eu falar disso”. Não, foi uma coisa diferente. O primeiro álbum eu ia escrevendo, mostrando pra banda, a gente ia gravando, era bem mais tranquilo. Esse não, a gente tinha prazo, o tempo do edital, tinha toda essa cobrança e toda essa responsa. Não foi fácil, a gente sabe que se algumas músicas tivessem mais tempo para amadurecer, teriam novas partes. Mas eu estou muito satisfeita, eu não coloquei nada nesse álbum que estava pela metade. Tiveram músicas que não entraram. Quando entrei no processo de composição, me impus a meta de fazer 14 músicas, queria um disco grande, mas sabendo que no final ia ter uma ou outra que não ia encaixar, não ia estar totalmente pronta, e aí afunilamos para 11. Rolou muita pressão, mas eu não considero que tenha sido ruim. Eu acho que me dediquei bastante e consegui ficar bem imersa nesse processo junto com os meninos. Sobre o que você falou sobre o flow, é que eu tento não me repetir muito na maneira de fazer e de cantar, sabe? Óbvio que a gente vai criando e construindo uma linguagem, um identidade de flow e tudo mais, mas eu gosto de experimentar novas maneiras de surfar no beat e tudo mais e esse disco foi, para mim, uma puta melhora nesse sentido, acho que trouxe novas facetas da minha forma de cantar. E tô muito feliz com isso! Eu ouço muito rap, eu sou muito ligada nesse lance do flow, e acho que as pessoas precisam entender que não é só a letra de uma música que diz se ela é boa ou não. Mas ignorar tudo isso que a gente tá vivendo, acho que eu tenho a minha maneira de dar os meus recados, mas eu também queria ser diversa, não queria fazer um disco só de uma coisa, acho que limita demais. Quis falar de vários temas diferentes. 

Existe uma aura melosa, pegajosa, esfumaçada, sensuellen por todo o disco.  Acho que esse é o termo, “sensuellen”! As letras falam muito de desejo, de tesão, de amor, de afeto, e evocam a ideia de uma figura, talvez feminina, muito bem resolvida, com os tabus bem varridos, que parece explorar o que dá prazer para ela. Tem sido uma percepção comum? Foi intencional? Por que essa é uma pauta importante de você vasculhar? 
É, “sensuellen” [risos]! Acho que as experiências de vida me trazem muito disso. Eu sempre gostei das lovesongs, músicas de chorar, músicas de sentir saudade. Mas, na hora de fazer, eu sabia que eu conseguiria trazer tudo isso, todas essas sensações, mas fugir desse lugar do “ai, meu deus, você me deixou e agora eu vou morrer” ou “socorro, eu preciso de alguém!”. Tentei me colocar de outra forma nesse romantismo. Lógico que eu estou consciente também de um momento na música brasileira em que a sofrência está em voga, está em alta em vários segmentos. Eu sabia que eu não queria repetir certos clichês, certas abordagens. Então, essa decisão foi bem consciente na hora de escrever. Como em “Cadernin”, beleza, coloquei seu nome no caderninho e fiz um coração, mas, seguinte, não tem só o seu nome nesse caderno não, meu bem! Se você vacilar, beijo e tchau, que eu tenho mais nomes aqui na minha listinha [Risos].  Ou “Furtacor”, que fala sobre saudade e “levo a vida sem te ver”, de tipo, te amo, mas tamo longe e tudo bem, sabe? É mais complexo, é a busca por novas imagens que a gente coloca nas músicas. Quando isso toca as pessoas, eu acho que é importante. Também foi importante colocar a mulher nesse lugar mais dona de si. 

Esse conceito Jaguatirica Print chega a ser uma persona? Quais são os atributos da Jaguatirica Print?
[Risos]. Olha, eu acho que ela passa da persona, tanto que eu quis trazer a presença de outras mulheres para esse trabalho. Eu tava conversando com o Henrique, que é um amigão que trabalha com a gente, e ele trouxe justamente essa coisa do arquétipo. É uma coisa mais complexa, digamos assim, mas, sim, existe uma colagem que chega nesse quadro, nessa obra. Eu ainda tô digerindo muita coisa e, claro, por mais que exista a vivência de outras mulheres, o direcionamento do processo, as temáticas, as músicas e suas ordens e a ideia de capa partiram muito de mim, não posso dizer que não é algo do meu momento, das minhas relações, a minha história. É uma parte de mim. Começando pela estética, eu acho que a foto da capa já diz muito do que é essa Jaguatirica. Essa imagem veio mesmo para mim, tava no meio inconsciente, e foi muito empoderador para mim tirar essa foto, tirar essa onda, usar essa roupa, esse short. E é louco porque eu não tenho só um estilo estético, então hoje eu tô com um short enfiado no cu e amanhã eu vou estar com uma roupa super folgada. Acho que ela [a Jaguatirica] pega esse meu lado meio “piriguete”, que gosta de dançar, mas que quer ser respeitada, que curte um brega, mas que também curte outras coisas, que quer estudar, entendeu? Acho que é um pouco a mulher brasileira, trans ou cis. E a gente tem um público LGBTQ+ muito forte, sinto que também tem muito dessa vivência, mesmo eu não levantando essa bandeira de forma literal nas músicas ou como front do meu trabalho, apesar de eu ser bissexual. Mas tô dentro desse nicho também e, de certa forma, isso paira a obra.

Capa de Jaguatirica Print

Eu sinto que Jaguatirica Print é esse convite para o despertar dos lados instintivos e selvagens de todo mundo, né? 
Isso. Tem esse chakra base digamos, ele tá mais ativado nesse trabalho [risos]. 

O disco tá recheado de participação, tem muita mina e a maioria é do norte ou do nordeste, né? Como o nordeste interage em suas diferentes realidades, sotaques e sonoridades? 
As participações do disco são uma coisa muito doida. Eu sinto que o princípio dos feats, muitas vezes, é de juntar fanbase. Tipo, “eu preciso de alguém que tenha mais visibilidade do que eu pra poder virar mais”. Eu sei da importância disso, mas eu não quis seguir essa lógica, não quis trabalhar com as mesmas pessoas que já tão no mercado para eu me inserir de uma forma forçada. E digo isso com todo o respeito ao pessoal que está bombando, que trabalha com a linguagem pop nordestina. Eu fui atrás de pessoas que são muitas vezes invisibilizadas e que têm um trabalho incrível e que, ao meu ver, deveriam estar aí também comendo essa fatia do bolo. E todas elas são referências para mim, pessoas que cruzaram minha história e se fizeram necessárias nessa obra pela música em si. A vida delas, os corpos delas, muitas delas são mães, as minas da Sinta a Liga Crew são todas mães e com mais de 30 anos, não são novinhas no rolê, entende? Catarina Dee Jah já tem 42 anos, tem uma filha com 20 anos, já entrou na indústria musical e já vazou dela, então são histórias de vida que eu respeito muito e que eu trouxe pra bruxaria ficar completa. São pessoas que o pessoal tem que ir atrás, ouvir mais, saber quem são. 

Você, com Jaguatirica Print, parece estar ocupando espaços mais pops. Entretanto, enquanto em espaços mainstream vocês são tidos como “revelação”, no alternativo vocês já são conhecidos. Você acha que faz um “brega indie”? Por que você acha que seu som alcança e é valorizado em espaços que o brega mais mainstream não alcança e não é valorizado? 
Primeiro é porque existe um preconceito muito grande. Esse lance do “brega indie”, eu digo que ele é um brega mais “nutella” mesmo [Risos]. E faz a parte da minha vivência também porque eu nunca quis me apropiar de um movimento do qual eu não faço parte. Acho que já existe um espaço, quem tá perdendo de ouvir MC Loma, Rayssa Dias e Shevchenko e Elloco é essa galera cult que não tá nem aí pra isso, porque pra mim esses artistas são top e eles tão bombando! E são pessoas que não dependem desse nosso nicho alternativo e que estão carregando o pop brasileiro nas costas. Como eu trago uma vivência muito cosmopolita, tem muita nessa sonoridade. Eu não sinto que me encaixe muito no indie porque ele já tem uma estética e sonoridades próprias das quais já estamos distantes. Mas entendo que, como a gente está nesse meio alternativo, acabam nos colocando nesse rótulo. Mas quero que [o som] que seja popular, que tenha uma fácil digestão, e quero que as pessoas entendam que esse brega “true”, “raiz”, é foda pra caramba!

O fenômeno do brega e suas vertentes nasce das periferias nordestinas, transforma a escassez em linguagem; Como isso encanta você e que valores artísticos você enxerga no brega? 
O brega é um movimento muito forte, tem até uns documentários interessantes para entender tudo isso no nordeste, como Recife: A Capital do Brega, que eu acho que é até de uma rede de tv aberta e que está disponível no YouTube, e fala sobre essa pegada latino caribenha que já rolava no norte, que vêm com o Calypso, e quando a banda se muda para o nordeste, essas influências mudam as sonoridades de lá. E hoje em dia a gente vê muitas vertentes, e em cada estado tem uma super diferente. Tem o brega funk, que tá estourado, e que tá revolucionando o funk do sudeste. A música brasileira é uma coisa doida! E o brega vem cada vez mais se consolidando como aquilo que pode ser entendido como o pop brasileiro, quando você vê artistas como Pabllo Vittar, Duda Beat, Mateus Carrilho, nomes grandes que fazem um “Pop Brasil” e se utilizam muito desses timbres e dessas células rítmicas. Acho que isso é muito válido. A música pop brasileira tá ligada ao brega. 

Você tá levando um som de um fenômeno que surge muito localizado para o resto do país com o seu show. Como tem sido a recepção do brega em outros lugares? 
Pelo fato da música brega estar passando por essas coisas todas no Brasil, de estar na música de artistas grandes, acho que o brega não é uma coisa estranha para pessoas do sul e do sudeste. O brega no Brasil sempre esteve em alta, mas agora tá chegando a um lugar impressionante. Eu tenho sido muito bem recebida no sudeste, sinto que a gente conseguiu sair de uma sonoridade mais localizada e trazemos uma pluralidade que ajuda muito. E eu fico feliz, fizemos um som lotado no Museu da Imagem e do Som aqui no São Paulo com uma semana de lançamento do disco e estava todo mundo cantando cada música. Acho que isso também é reflexo da divulgação que a gente faz com a nossa equipe, tudo isso graças ao edital da Natura. E tô super feliz de, sei lá, estar tocando no Rio Grande do Sul, sendo que eu venho do Rio Grande do Norte, sabe. É um sonho sendo realizado, aos poucos a gente vê que tá rolando.

Luísa Nascim (Foto: Luana Tayze/Divulgação)

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29/10/2019

Brenda Vidal

Brenda Vidal