Entrevista | “Eu deixei minha arte mais fiel a mim”, diz Marina Sena

28/04/2023

Powered by WP Bannerize

Gabriela Amorim

Por: Gabriela Amorim

Fotos: Fernando Tomaz/Divulgação

28/04/2023

Marina Sena, 26, lançou na noite desta última quinta-feira (27) seu segundo disco solo, Vício Inerente (2023), após um hiato de quase dois anos do seu primeiro projeto solo, De Primeira (2021). Na capa do disco, a mineira de Taiobeiras, cidade de um pouco mais de 30 mil habitantes, chega sensualizando com roupas mínimas no primeiro plano, enquanto o fundo se iguala numa estética futurista e urbana, transmitindo ao público sobre sua ida a São Paulo, ocorrida em 2021, que influenciou este segundo projeto por completo. “Eu só me mudei para São Paulo quando percebi que eu não ia passar perrengue, quando eu tinha já uma grana. Eu vim mais confortável para não passar as mesmas coisas que eu vivi em Belo Horizonte e Montes Claros. Aqui eu já cheguei em outra condição, mas eu tive que montar um acervo de roupas que condissesse com a cidade, porque eu só tinha mini tops, shortinhos e chinelos, e aqui faz muito frio”, reconhece Sena em entrevista cedida à NOIZE na manhã de quinta-feira.

A criação do álbum pop com batidas eletrônicas e sintetizadores da artista, tem reflexos na sua vivência na capital paulista, unida ao descobrimento de novidades sonoras e a reverberação mundial de seu próprio som, no qual a cantora alcançou uma ascensão musical nestes últimos dois anos, sendo destaque em programações de festivais nacionais e indicada em inúmeras premiações. Conquistando novos espaços e mais madura em relação à sua própria arte, Sena assinou em fevereiro passado o contrato com a gravadora Sony.

*

Aventurando-se em novas estéticas e apresentando, nas 12 faixas da obra musical, criações que conversam com os tempos atuais, a mineira mescla gêneros que atravessam o funk, o drill e o reggaeton: “Acho que é por ser ousado que eu ganho respeito, porque o público fala ‘Nossa, minha artista não morreu. Minha artista está ai'”.

Na onda de novas produções, a artista de voz anasalada reconhece que mudou também sua atitude na hora de compor canções. Inicialmente muito presa aos acordes do violão, primeiro instrumento que a mineira soube tocar, neste novo projeto a artista ousou em conduzir suas rimas em cima de batidas eletrônicas, concebidas pelo produtor musical Iuri Rio Branco, que assina todas as músicas ao lado de Sena.

“Em Vício Inerente (2023) a produção musical tem um local de composição, principalmente quando é o caso das minhas músicas, porque não é uma produção apenas que passeia, é uma produção musical importante, que faz toda a diferença. A gente foi compondo tudo enquanto produzia a música, então eu tinha a minha voz, o meu jeito compor, porém isso foi integrado à tecnologia dos programas, do computador, em outra dinâmica”.

(Foto: Fernando Tomaz/Divulgação)

“Em alguns momentos eu escrevi coisas antes de musicar, que era uma coisa que eu não tinha feito, antes eu musicava e depois trazia letra para a música, desta vez eu consegui escrever uma poesia e transformar isso em música. Não senti dificuldade, é um novo jeito que funcionou tão bem quanto o anterior. Ali também desmistificou na minha cabeça essa coisa do violão, porque eu achava que sem o violão eu não seria ninguém e eu comecei a perceber que onde for possível fazer música, eu vou estar criando”, completa a cantora que se solidifica no mundo pop.

O brasiliense, que acompanha Sena desde o De Primeira (2021), foi a pessoa que apresentou para a mineira o grime, gênero musical britânico que no Brasil recebeu projeção em nova estética com o disco BRIME! (2020) de Febem, Fleezus e Cesinha – este último conhecido artisticamente como CESRV.

“Eu não acreditei que eu estava ouvindo esse som porque eu achei muito foda, em sequência eu comecei a escutar o BRIME! (2020), onde conheci melhor o Fleezus, o Febem e o Cesinha, e me apaixonei porque eu pude ver o tanto que São Paulo pode ser inspiradora. Eles realmente inovam muito com a canetinha afiada, eu achei muito foda e vi um sentido de estar aqui [em São Paulo], porque a coisa que mais me atrai de estar em um lugar é conviver com a arte que tem nesse local, e a arte deles representa a cidade”, assume. A influência surpreendente fez com que Fleezus surgisse como a única participação no disco, na canção “Que Tal”, onde igualmente assina a letra.

Se considerando uma esponja quando o assunto é arte, a mineira também afirma que influenciada por artistas internacionais. Na sua playlist ela confessa que escuta canções que vão desde Rosalía, Nathy Peluso, Kali Uchis, Doja Cat, até The Weeknd, Justin Timberlake, Timbaland e Black Sabbath.

O primeiro e único single divulgado para o disco foi a música “Tudo Pra Amar Você”, terceira faixa do álbum, que recebeu um clipe divulgado no último dia 23 de fevereiro. Na obra, Sena apresenta uma coreografia simples, nos moldes virais do Tik Tok, ação que utiliza desde 2021 criando danças para as faixas “Me Toca”, “Pelejei” e “Por Supuesto” – esta última sendo o grande sucesso do primeiro álbum fortemente impulsionado pelo aplicativo surgido em 2014.

“Eu acho que é algo que já esta inerente a minha criação. Eu consumo Tik Tok e tudo o que está rolando, e isso vai me atravessar com certeza, minha criação será influenciada com isso, e eu não vejo mal. Eu acho que desde que eu não deixe de ser original, por mim tudo bem. Tudo pode me atravessar, desde que quando eu ponha isso em prática de uma maneira natural, do meu jeito. Não vejo problemas em ser afetada por isso, porque eu sei que quando eu for traduzir o que eu entendi daquilo, eu vou traduzir do meu jeito”, diz.

A sensualidade, a confiança, a sedução e o amor próprio continuam entre as temáticas retratadas pela mineira, que afirma que são questões naturais de sua projeção como artista. Para os projetos audiovisuais futuros, Sena afirma que irá entregar mais videoclipes e que busca com que sua música seja condicionada a interpretações de imagens.

Capa do disco “Vício Inerente” (2023), de Marina Sena (Foto: Fernando Tomaz/Divulgação)

“Sempre tive esse tino de querer fazer clipe, fotos e criar uma imagem para o som. Eu faço até música meio pensando na trilha do momento. Eu quero que a música seja trilha de um clipe, filme e novela e gosto de pensar dessa forma. Uma coisa que eu aprendi foi que a imagem representasse um sentimento, e neste meio aprendi a trabalhar com pessoas que saibam traduzir aquele sentimento, que quando você fala e dá os gatilhos, elas conseguem imaginar exatamente o você está querendo”, reflete.  

Guiada por imagens, Sena também reflete que parte da concepção do nome de sua obra parte do filme homônimo de 2015, do diretor Paul Thomas Anderson. “Eu já perdi as contas de quantas vezes eu já assisti e inclusive eu quero ler o livro. Em parte é por conta disso, mas eu senti necessidade de colocar esse nome porque o disco tem essa energia, de ser uma coisa que vicia e não vai ter jeito. Você vai viciar na textura que o disco tem, porque ele é único. É inerentemente viciante”, brinca a cantora.

Prestes a apresentar o disco em cima dos palcos, a artista confirma previamente apresentações em São Paulo, na Áudio, e Rio de Janeiro, no Vivo Rio, nos dias 5 e 6 de maio respectivamente, e depois segue para uma turnê pela Europa, onde irá passar por Portugal, França, Espanha, Alemanha, Irlanda e Inglaterra. “Me sinto madura com relação ao que eu quero da minha arte. Eu entendendo exatamente qual é a cara, o gosto e o cheiro do que eu quero apresentar para o mundo. Eu deixei minha arte mais fiel a mim, cada vez mais eu vou apurando e consigo me expressar em cada detalhe”, finaliza.


LEIA MAIS

Tags:

28/04/2023

Gabriela Amorim

Gabriela Amorim