Exclusivo | “A moda não interessa”, diz Brittany Howard, do Alabama Shakes

09/03/2016

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Britt Smile

09/03/2016

Brittany Howard é uma garota comum do Alabama que só precisou de uma guitarra para conquistar o mundo. À frente do Alabama Shakes, a cantora de 27 anos nos contou que está felicíssima com o segundo disco de sua banda, Sound & Color (2015). No próximo final de semana, o grupo volta ao Brasil para três shows que estrearão esse álbum nos palcos brasileiros: dia 13, a banda toca no Lollapalooza, dia 14, no Lolla Parties (ambos em São Paulo), e, dia 15, o show será no Rio de Janeiro.

Conversamos com Brittany e a responsabilidade de lançar um disco à altura do Boys & Girls (2012), que vendeu mais de meio milhão de cópias, foi um dos temas que surgiram. O peso de receber tantos elogios e o contexto conservador do Sul dos Estados Unidos são outros assuntos que Brittany Howard comentou nesta entrevista por telefone. Aliás, essa foi a segunda vez que entrevistamos Brittany, a primeira aconteceu em junho de 2012, na NOIZE #54.

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Leia abaixo as palavras de Brittany Howard.

Desde o lançamento de Boys & Girls vocês se tornaram uma das maiores bandas do mundo. Como vocês lidaram com tanto sucesso tão rápido?
Bem, nós nos unimos enquanto banda. E ficamos com o pé no chão. Até que não foi tão difícil de lidar, todos nós somos pessoas simples. E, como demoramos um tempo para conseguir chegar até aqui, sinto que estávamos preparados para isso.

Três anos se passaram até vocês lançarem o segundo disco, que desafios você encontraram pra fazê-lo? Às vezes, quando o disco de estreia faz muito sucesso, é difícil fazer o segundo.
Certamente, mas acho que é muito mais uma questão de como você encara a situação. Se você pensar que “ok, essa é uma oportunidade de ver o quanto nós crescemos” será muito mais fácil do que pensar que “TODO MUNDO está esperando que o disco novo seja INCRÍVEL então ele PRECISA ser incrível”. Sabe? Eu não sei, também acho que é muito uma questão de respeito com a obra. Eu não penso em nossa discografia como se fosse possível dizer “ok, AGORA nos vamos decolar”. Cada registro é o que é porque está cercado de outros.

Vocês sentiram alguma pressão externa durante o processo de produção do disco novo?
Não, não além da que já temos de nós mesmos. Só isso.

O que vocês incorporaram nesse novo disco que não havia no primeiro?
Bem, eu acho que Sound & Color tem um som mais selvagem, mais cru. Como nós tivemos tempo, pudemos realmente nos envolver com a produção do disco. Ficou um álbum mais pessoal que o anterior, tivemos mais coragem pra colocar os sons que nós gostamos nele. E, mesmo assim, todas as faixas têm a mesma essência que não foge das nossas raízes.

Apesar de todo sucesso comercial, é nítido que a música do Alabama Shakes não é feita só para agradar o mercado da música. Como uma banda pode fazer tanto sucesso sem compor apenas músicas orientadas para o mercado?
Eu não sei bem, mas acho que você deve buscar uma música que seja sua. Fazer uma música que tenha a sua própria voz, com suas próprias opiniões. Você tem que equilibrar sua inspiração com seu objetivo. Para mim, a moda não interessa. Nosso objetivo sempre foi deixar as pessoas felizes com a música. Talvez isto não ajude tanto, mas eu digo: não espere o sucesso comercial. Não acho que esse seja o caminho.

Você parece bastante humilde em relação ao seu talento, mas há muita gente que lhe considera uma das maiores cantoras do rock atual. Como administrar tantos elogios?
Ah, isso é legal. (Risos) Quer dizer, quando as pessoas dizem coisas assim eu vejo que elas estão tentando me fazer um elogio enorme. E eu sei que estou nesse lugar agora, mas é só até elas encontrarem outra cantora. Acho que elogios são assim mesmo. Faz parte.

Essa situação lhe incomoda?
Não me incomodo, não. Quando dizem “ah, que cantora maravilhosa que ela é”, eu penso que tudo isso são só palavras. São só mais palavras… Às vezes eu falo com pessoas que se importam mesmo com o som que estão ouvindo, e aí é muito bom. Não é todo mundo que faz isso.

Veja abaixo Brittany mostrando como foi fabricado o vinil de Sound & Color:

Muita gente lhe compara à Janis Joplin, mas você me lembra muito mais a Sister Rosseta Tharpe. Ela é uma inspiração pra você?
Sim! Para mim ela é uma das que estão no topo. Eu aprendi muito observando ela, me inspira principalmente porque não deixava de fazer o que queria por causa da opinião das outras pessoas. Acho isso inspirador.

Ela até usava uma Gibson SG, como você.
Sim, ela usava uma SG tripla mesmo [com três captadores]. Mas eu não sei se era a mesma guitarra que eu uso… Ela não é tanto uma referência pra mim enquanto guitarrista, mas é bastante pelo seu canto. Acho que a voz dela tinha uma coisa especial, que ia além da guitarra. E também era uma mulher incrível, tinha muito estilo.

O Alabama Shakes, assim como Sister Rosetta Tharpe, veio do Sul dos Estados Unidos. O estado do Alabama tem um passado de perseguição racial, você já passou por alguma experiência ruim relacionada a isso?
Não… Essa é uma imagem que as pessoas têm de fora, mas não é assim. Eu nunca ouvi falar de nada assim.

O Sul dos EUA tem fama de ser bastante conservador.
Sim, é bem conservador. Mas nem todo mundo funciona assim. A impressão que tenho é que muita gente não se identifica com os valores tradicionais de que tanto se fala lá. Há um lado muito conservador, mas há também várias mudanças acontecendo. Tem muita gente da geração atual questionando isso, até por se dar conta do que está acontecendo no resto do mundo. A internet tem mexido muito nisso, acho que tudo vai ser diferente daqui há 30 anos.

E quanto aos novos passos do Alabama Shakes? Vocês pensam em tocar esse disco pelos próximos anos ou há algum outro projeto em vista?
Não posso dizer, não sei o que vai acontecer. Eu quero fazer um próximo disco, mas não sei quando vai ser. Agora vamos pegar a estrada, nosso objetivo atual é esse.

Agradecimentos a Luís Dias pelo tratamento do áudio da nossa entrevista.

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09/03/2016

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Ariel Fagundes

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