Daniel Kessler e a nova energia do Interpol em “El Pintor”

01/09/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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01/09/2014

O intervalo entre os lançamentos de Interpol (2010) e El Pintor (2014), quarto e quinto álbuns da carreira da banda americana Interpol, é o maior da carreira do grupo até hoje. Depois da recepção predominantemente negativa ao disco autointitulado, é possível imaginar que o longo tempo seria um investimento na busca de novas formas de fazer música. O que se vê em El Pintor, que chega às lojas neste mês de setembro, não é um Interpol com um som totalmente renovado, mas uma banda que tenta retrabalhar sua antiga música em novas fagulhas criativas e algumas das faixas mais agressivas que os músicos já produziram.

Faltando pouco mais de uma semana para o lançamento do álbum, conversamos com o guitarrista Daniel Kessler, um dos principais compositores da banda. Ele comentou sobre os processos de gravação, o “novo” baixista da banda e algumas das principais faixas do álbum. Uma delas, inclusive, começou a ser escrita aqui na América do Sul.

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Como foi a gravação do disco comparada aos outros? Foi mais fácil, difícil? Fluiu melhor?

Todo álbum vai ser um pouco difícil porque você está criando algo artístico, e isso não é simples. No nosso caso, costumamos escrever tudo praticamos juntos e depois vamos para o estúdio com a ideia de capturar isso. Nesse processo, você sempre está pensando se as gravações vão equivaler às canções que estão na sua mente de compositor. O estúdio dá a chance de criar algo que lhe faça feliz e de falar o que você quer falar, e escrever e gravar El Pintor foi uma experiência muito boa. As canções surgiram rápido e acabaram ficando cheias de energia. Todos nós passamos muito tempo pensando o que gostaríamos de pôr dentro das músicas individualmente, e, já dentro do estúdio, tivemos a sorte de não precisar de muitos takes para chegar aos sons que estávamos imaginando. O disco captura bem as músicas como elas estavam nossas mente, e não há como conseguir algo melhor que isso.

Esse é o primeiro álbum que vocês gravam sem o Carlos Dengler e o Paul Banks acabou assumindo o baixo. Como vocês decidiram isso?

Bom, as faixas costumam nascer comigo, de algum riff ou harmonia. Eu já tinha bastante material quando chamei o Paul para o meu apartamento e demos os primeiros passos do trabalho que acabaria no álbum. No segundo dia que passou lá, ele comentou: “Por que eu não toco o baixo?”. Ele já havia pego o instrumento na mão algumas vezes e comentou que já tinha pensado em algumas linhas de baixo. Depois de ele me mostrar algumas ideias e discutirmos sobre, saímos de lá com dois arranjos bem avançados para músicas que entraram no álbum, “Anywhere” e “My Desire”. Aquilo foi muito rápido, e nos deixou bastante animados com o que viria pela frente. Paul provou ser um bom baixista, e, apesar de ele ter ficado surpreso consigo mesmo, eu sabia que seria assim. Estamos juntos há muito tempo, e eu sei que ele é um artista excepcional. Não seria diferente com um baixo na mão. Então não foi difícil decidir. Por que chamaríamos outro se temos um baixista muito bom do nosso lado?

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Interpol na época do “Turn on the Bright Lights”

Você comentou que as faixas costumam nascer contigo. Como isso acontece? Você só improvisa e os riffs saem ou tem algum ritual especial?

É simples: eu só toco guitarra, nada mais. Aliás, eu não costumo fazer isso o tempo inteiro. Não sou daqueles que compõem 100 músicas em um ano, costumo escrever de cinco a dez, e isso depois de ter improvisado algo interessante que pudesse se transformar em uma música. Nas músicas do El Pintor, eu sinto muita influência da nossa turnê, que foi longa. Viajamos por muito tempo e as novas canções começaram a surgir no final de 2011 e em todo o ano de 2012. Nós tocamos tanto que, em certo ponto, eu percebi que já tinha algumas ideias novas na minha mão e que eu queria criar algo artisticamente novo. Foi quando as músicas começaram a sair de mim. Eu não sabia que elas estavam lá, mas, no meio daquele turbilhão, fazia muito sentido que elas saíssem desse jeito, mais rápidas e com um sentimento de urgência, inquietas. Depois que nos juntamos como banda e pensamos em como unir essas canções e que tipo de energia passar com elas, percebemos que as composições já falavam muito por si.

Depois de lançar um álbum autointitulado com o nome da banda destruído na capa, lançar um disco chamado El Pintor, um anagrama da banda, soa como uma reconstrução. Vocês se sentem renovados como artistas?

Eu, de alguma forma, posso dizer que sim. Estamos em uma turnê longa, em que passamos pela Europa, em muitos festivais, também na Austrália, Estados Unidos e Canadá, e toda a banda vem comentando que os últimos shows vem sendo os melhores de toda a nossa carreira, tem sido muito divertido. Eu realmente não acredito que dê para falar que nós nos recriamos como banda. É simplesmente um novo capítulo da nossa história. Não sou aquele tipo de pessoa que vê muitos significados nas coisas, sabe? Eu adoro a energia e posso dizer que a banda está funcionando muito bem do jeito que está, mas é simplesmente isso. Estamos em um momento incrível e estou gostando muito de tudo que passamos nos últimos tempos, e o que eu quero é que tudo só melhore.

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É só a segunda vez que vocês produzem um disco próprio sozinhos. Como foi a experiência comparada com o Interpol?

Bom, apesar de termos assinado a produção só pela segunda vez, conhecemos bem o que é produzir um álbum. Nós coproduzimos o Turn on the Bright Lights (2002) e o Antics (2004), e cada um de nós teve funções de produção em seus projetos solos. Mesmo assim, é interessante você ter comentado isso, pois poder comandar a produção do El Pintor foi muito importante para chegar ao resultado final. Foi um processo muito claro do início ao fim e todos nós fomos produtores de alguma forma. Chegamos ao estúdio com ideias bem concretas do que seriam as faixas e de como queríamos que elas soassem, então todas elas estavam bastante definidas nas nossas mentes. Claro, todos os nossos álbuns aconteceram assim em algum nível, mas nesse há algo diferente. Nós já imaginávamos tudo de forma bem concreta. O disco soa, do início ao fim, como uma mensagem direta da banda para nossos fãs, e acho que ele funciona muito bem assim.

“Tidal Wave” é uma das músicas que mais chamam a atenção no disco por causa dos sintetizadores. Como a música surgiu na mente de vocês?

“Tidal Wave” foi a última música que compomos para o disco, e, sinceramente, eu não imaginava que ela fosse sequer entrar. Eu lembro de ter escrito ela na sala onde eu estou agora (no prédio da Matador Records) e de ter pensado nela como um material extra, mas Paul e Sam gostaram bastante e o trabalho incrível deles em cima da música a transformou de uma pequena ideia para uma das faixas mais fortes do disco. Nós a acabamos pouco tempo antes de finalizar o álbum, e ela é a única que eu lembro de ter feito dessa forma, quase no fim. Esses momentos surpreendentes são muito puros, acredito que eles falam muito sobre a energia da banda.

Outra grande faixa, que inclusive vem sendo citada como uma das melhores da sua carreira, é “All The Rage Back Home”. Como você chegou ao riff que abre a música?

O riff de guitarra dessa música foi um dos primeiros que eu escrevi para El Pintor. Foi no final da nossa última turnê na América do Sul. Eu lembro de estar em Buenos Aires e ficar até tarde da noite praticando guitarra com um dos nossos roadies. Eu cheguei a um riff meio lento de guitarra, e ele brincou com ele até que chegou a uma linha mais acelerada, e eu amei ela. Daquilo saiu a base de “All The Rage Back Home”, que também tem um baixo agressivo do Paul. É uma faixa maravilhosa de se tocar ao vivo, tem muita energia.

Vocês pensam em retrabalhar músicas antigas e sair em turnê como um trio?

Provavelmente não. Nós sempre tocamos com cinco pessoas no palco, desde o Turn On The Bright Lights e até mesmo antes. Continuamos fazendo isso e ultimamente estamos nos nossos melhores shows de sempre. Seria diferente, mas acho que fazemos bem do jeito que está. Não há razão para mudar.

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01/09/2014

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