Daryan Dornelles, o retratista da música

20/08/2014

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Lidy Araujo

Por: Lidy Araujo

Fotos:

20/08/2014

Quando garoto, Daryan Dornelles só queria saber de futebol. Um presente da mãe, no entanto, mudou tudo quando ele tinha 13 anos. Foi o vendedor da loja que a convenceu a levar dois discos pro filho, com o argumento de que ele iria gostar. “Não sei o motivo, porque eu nunca tinha me interessado por música”, lembra. “Acontece que os LPs eram ‘For Those About to Rock’, do AC/DC, e ‘Love at First Sting’, do Scorpions. Fiquei tão fissurado por AC/DC, tão apaixonado por aquilo, que até hoje é minha banda favorita.”

Já a fotografia entrou na vida de Daryan cerca de 10 anos depois. Tinha cerca de 24 anos e era nadador do Vasco, mas não sentia mais vontade de seguir na profissão. Foi quando o treinador falou que precisava fazer umas fotos dos atletas. Ele não pensou duas vezes: pegou a câmera de um amigo, se colocou à disposição pra tarefa e pegou gosto pela coisa.

*

Unir suas maiores paixões – a música e a fotografia – rolou naturalmente, e quase 20 anos depois, Daryan lança “Retratos Sonoros” (Editora Sonora), uma compilação que reúne mais de 150 imagens que resumem sua gloriosa carreira na fotografia musical. E foi sobre isso que conversamos com ele.

Lucas Santtana

Lucas Santtana

Como tudo começou?
Foi bem natural. Como música era um assunto que eu gostava, queria estar perto, ficava querendo fazer bandas, entrar na área. Me via na área, entendeu? Então, eu falava: pô, se precisar de foto, estou aqui. E daí foi. Lembro que fiz uma banda que o Fernando Magalhães, guitarrista do Barão Vermelho, me indicou. A banda gostou da fotos, ele também, e fui convidado pra fazer o disco do Barão. Foi um primeiro passo legal. Tudo é uma questão de gostar muito do que se faz – eu sou completamente apaixonado por música mesmo -, além conhecer as pessoas certas e estudar.

Nunca pensou em fotografar shows? Normalmente, essa é a preferência dos fotógrafos.
Tem muitos fotógrafos de show maravilhosos, e eu até fiz muito show no início, até pra ter entrada, estar perto ou por falta de grana mesmo. Lembro muito bem do show do Motörhead, no Canecão. Eu estava sem grana e fui me credenciar. Pra mim, o importante era ver o Motörhead. Mas tenho um grande problema com show. Se tem show na cidade, eu vou, e pode até ser uma banda mais ou menos, mas eu gosto de ver banda ao vivo. Só que não gosto de fotografar. Gosto de ver. Quero ficar tomando um chopp com meus amigos, vendo o show, entendeu?

BNegão

BNegão

E como rolou a curadoria pro livro? Não deve ter sido fácil escolher apenas algumas fotos em tantos anos de profissão.
Eu tinha 260 personagens. Coloquei todo o material pra ser trabalhado junto aos designers, e fomos levando em conta o fato de ser um livro de fotografia, não de cronologia da música brasileira. Pensamos em fotos que casassem umas com as outras, fossem bonitas e interessantes para o meu trabalho. Tem medalhão que ficou de fora, como a Elba Ramalho, cuja foto não estava casando com o restante do material. Mas é uma mistura de tudo, e tem uma galera nova, que não está nem na mídia ainda. Tem um cara de Goiânia, o Hugo Santos, que não está mídia, mas em Goiânia, ele é grande, e a foto é muito boa. O Barão era um que ia entrar, mas acabou que já tinha foto do Frejat, do Rodrigo Santos, do Fernando… E o Barão acabou caindo na história.

Algumas fotos são mais especiais pra você?
Eu gosto da foto do Mr. Catra. É foda. É uma foto bacana, que me trouxe muita coisa boa. Quando mandava para as pessoas, até para os artistas que eu ia fotografar, todos falavam: pô, que foto bacana. Tive até um convite do Japão, pra colocar essa foto num vinill, um EP do Catra, que até hoje eu não tenho. No Japão, tem um EP com essa foto. A do Chico Buarque foi uma foto muito importante pra mim também, me trouxe muita coisa boa. A Tiê, adoro a Tiê. Tem a Tulipa Ruiz, que foi logo no início da carreira dela. Tem a foto da Mallu Magalhães, que foi feita no primeiro show dela no Rio e é uma foto bem legal, com ela bem novinha.

Mr. Catra

Mr. Catra

Existe alguém que gostaria de fotografar?
Não tenho essa fissura, mas gringo, o Angus Young seria o cara.

Como é o seu processo de produção de uma foto?
As minhas fotos são muito simples. Até tem uma foto que as pessoas falam muito, que é a do Milton Nascimento dentro da piscina, mas ela é muito simples. É ele dentro da piscina de terno. O que eu estudo é a locação, o fundo neutro, o figurino, o modo que eu gostaria de ver aquela pessoa. Todos os meandros, eu vou estudando, dou uma pesquisada boa. Tem uma pré-produção muito grande comigo aqui, mas na hora da foto, é tudo muito rápido.

Milton Nascimento

Milton Nascimento

Em algumas fotos, os artistas parecem ter entregado a alma a você. Sendo tudo tão rápido, como você consegue isso?
Com a maioria, não tenho um contato anterior. Às vezes, me sinto como um dentista fazendo a foto, porque o retrato é resultado da interação entre o fotógrafo e o retratado. Tem que ter um clima bom, e nessas fotos, eu consegui ter um clima bom, deixar a pessoa o mais relaxada possível e, claro, eu preciso ter o comando disso. Pra mim, sinceramente, pode ser um novato ou o Chico Buarque, a direção vai ser igual. Tento impor o que eu gostaria, de uma maneira muito carinhosa. O que funciona muito é referência de imagem. Quando você pega um determinado artista e mostra uma referência de uma pessoa que ele já gosta, facilita muito.

Chico Buarque

Chico Buarque

E como você faz quando não tem ideia de como é o cenário onde você vai fotografar?
Com um artista mais novo, eu consigo ter um controle maior. Um artista mais consagrado, como Ney Matogrosso ou Chico Buarque, normalmente nem sai de casa. O estúdio é montado lá. Quanto maior a pessoa, menor o deslocamento. Nesses casos, posso me surpreender, porque não tenho acesso ao cenário antes. Então, levo um fundo neutro. Prefiro fazer com um fundo neutro do que com a casa da pessoa. Quando dou workshop, digo: sempre tenha um plano B, e o plano B pra situações em que não se sabe aonde vai fotografar, é fundo preto ou fundo cinza. Prefiro fazer um classicão bonito. Paulinho da Viola, por exemplo, foi na casa dele, e com um fundo preto.

Quais são suas referências em fotografia?
Lia muito a revista Bizz quando era guri, e Rui Mendes era um fotógrafo que eu admirava muito. Enquanto os meninos viam o J. R. Duran na Playboy, eu via o Rui Mendes na Bizz. Nos anos 80, ele fotografou muita gente. E tem outros, como Patrick Demarchelier. Acredito muito na força e na simplicidade. Tento buscar isso, às vezes consigo, outras, não. Não gosto de nada muito emperequetado.

Veja mais fotos do livro na galeria:

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AGORA, O ASSUNTO É VINIL
Lembra que, lá no início deste post, contamos que Daryan se apaixonou por música após ganhar os discos “For Those About to Rock”, do AC/DC, e “Love at First Sting”, do Scorpions? Acredite, ele ainda tem os LPs, e eles fazem parte de uma coleção que já chega a cerca de 8 mil discos, que são guardados em três lugares diferentes.

“Moro num apê onde não cabe tudo. Então, uma parte fica aqui, outra no estúdio e outra na casa da minha mãe”, conta. “Adoraria ter um espaço como o do Ed Motta, onde cabem 30 mil discos. E agora, com a chegada do meu segundo filho, o espaço só vai diminuindo.”

Isso, porém, não chega a ser um problema. Tanto que Daryan continua pesquisando e comprando. “Por mês, compro uma média de 10 discos, e ainda tenho muita coisa em CD, especialmente de música nacional, de uma época em que não tinha essa coisa de lançamento em vinil, e de metal, porque é superbarato fora do país. Acredito que tenho uns 1.200”, calcula o integrante do Noize Record Club.

Entre tantos discos, fácil não é, mas ele conseguiu fazer um top 5 de sua coleção:

1 “Back in Black”, do AC/DC
2 “Who’s Next”, do The Who
3 “Exile on Main St.”, do Rolling Stones
4 “The Beatles”, o popular White Album, do The Beatles
5 “Disintegration”, do The Cure

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20/08/2014

Lidy Araujo é uma grande mulher. Porém, louca.
Lidy Araujo

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