Do baú | O “Nevermind” de João Gordo

24/09/2021

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Francieli Souza

Por: Francieli Souza

Fotos: Reprodução

24/09/2021

Entrevista publicada originalmente em 30/7/2013

Pode parecer uma matéria sensacionalista, mas não é. João Gordo, em uma turnê pela Europa com o Ratos do Porão, conheceu Dave Grohl quando ele era o baterista de uma desconhecida banda chamada Scream. Até aí tudo bem. Trocaram algumas ideias, se falaram durante o show e fim. Mas anos depois, Dave reaparecia como baterista do Nirvana, banda que conquistava o mundo no começo dos anos 90 e vinha pela primeira vez ao Brasil. Sem perder a oportunidade, João deu um jeito de entrar em contato com os caras e voilá, quando viu estava entrando na loucura junto Courtney Love, Kurt Cobain, Novoselic e companhia.

*

Então, ninguém melhor que o próprio João pra falar sobre o que foi – e ainda é – “Nevermind”:

Vamos começar pela frente. O que você acha da capa do “Nevermind”?

A primeira vez que eu vi achei do caralho esse bebê. Como se fosse um peixe sendo fisgado por uma nota de um dólar, cara. Não tem mais o que falar daquela capa. 

Conhecia o Nirvana antes do “Nevermind”?

Lógico, eu conheci o Dave Grohl em 1989, em Amsterdam, quando ele estava numa banda chamada Scream e o Ratos tocou junto com eles. Quando eu vi que o Dave tinha entrado no Nirvana, eu fiquei feliz pelo cara, ficou famoso no mundo inteiro e eu conhecia ele, achei legal pra caralho o cara do Nirvana ser não exatamente meu amigo, mas eu conhecia bem o cara. O Ratos tocou com a banda dele quando tudo começou, era mó legal. Eu já curtia Nirvana, mas passei a curtir mais depois do Nevermind. Bleach era legal, mas não era o tipo de som que eu curtia né, a partir do Nevermind passei a gostar mais.

Teve expectativa pelo disco na época?

Não, porque naquele tempo era bem o começo e o grunge era uma novidade fudida, então eu não tava na expectativa de porra nenhuma. Tava na expectativa do In Utero, mas do, do… Caralho, já esqueci o nome do disco! Ninguém tava na expectativa, ninguém esperava nada de capa foda, gravação foda, músicas foda, foi uma surpresa geral. Foi o último mainstream legal que teve no mundo.

Quando foi a primeira vez que você ouviu o disco?

Ouvi na casa de um amigo repórter e achei as músicas porradas e fortes. Na minha cabeça da época, era uma mistura de punk com Beatles, né? Bem legal, muito mais legal que o primeiro, que era pesadão, aquela coisa mais crua. Nevermind era mais melódico, mais bem tocado.

O que mais chamou a sua atenção?

Tudo, desde a capa. Tudo, as músicas, a cor da capa, aquele azul. O pinto do moleque me chamou a atenção.

O lançamento do disco causou alvoroço?

Não tinha alvoroço porque ninguém conhecia o Nirvana, ninguém tava esperando, foi em 1992, cara [referindo-se à data em que o disco se popularizou no Brasil, o lançamento foi em 1991]. Eu andava com um pessoal que conhecia a cena grunge, que não tinha nem o nome de grunge direito ainda, era a novidade da época. Então, não teve alvoroço. Teve todo mundo estupefato, porque o bagulho era bom, todo mundo começou a ouvir bastante, eu mesmo ouvi pra caralho Nirvana, até encher o saco.

Depois que conheceu, comprou o disco?

Comprei o vinil, mas nessa época já tinha status, tava super bombando já.

Da primeira vez que ouviu pra agora, teu conceito sobre o disco mudou?

Não, é um ótimo disco, super bem produzido, super bem gravado, com músicas fodas, é um disco eterno. Um clássico, pra sempre.

Qual a sua faixa preferida?

“In Bloom”, gosto muito dessa música, meu. Na época, em 1991, eu fui fazer uma turnê com o Ratos na Espanha e comprei uma VHS da Sub Pop que tinha “In Bloom” em uma outra gravação, antes do Nevermind. Um vídeo com eles usando umas máscaras de plástico e tal. E como saiu no disco, eu achei legal pra caralho essa nova gravação.

Qual tua primeira lembrança quando pensa no lançamento de Nevermind?

Cocaína, era uma época zoada.

Na época do lançamento, o que você lembra de estar acontecendo no Brasil?

Nada, tinha a cena underground e o rock nacional que não era nada, né. Nessa época tava todo mundo cantando em inglês. O Titãs resolveu gravar Titanomaquia (1993), que era uma bosta. Um bando de banda cantando inglês e isso foi antes dos Raimundos estourarem, porque os Raimundos que botaram pra cantar em português. Então, tem uns fiapos aí, todo mundo cantando em inglês, o Capital Inicial acabou, o Dinho montou uma banda chamada… Esqueci o nome da banda que ele montou. Mas, então, era uma cena roqueira muito tosca, mas o underground vinha com bandas ótimas nessa época.

O Nevermind teve influência na cena brasileira?

Bastante. Quando o Kurt se matou e acabou o Nirvana, foi a mesma coisa do que o “sonho acabou” dos Beatles, foi igual.

Você anunciou o show da banda em São Paulo. Lembra de alguma história de camarim?

Eu fiquei junto com o Kurt Cobain e a Courtney Love o tempo inteiro, cara. Rolava muita droga, muita loucura e foi muito bom conhecer esse pessoal.

Como foi a passagem do Nirvana pelo Brasil?

O show do Nirvana foi o pior da carreira deles, porque a gente contou para o Kurt que o festival era de uma marca de cigarro. Por causa disso ele desafinou, gospiu, mostrou o pinto ao vivo. Foi a maior doidera, maior foda, e o show foi uma bosta. Tem gente que achou o show lindo. Eu, particularmente, achei o show uma porcaria, os caras tirando cover, parados, aquela cara de triste, tá ligado? Pra quem tava esperando a maior energia, o show deles aqui no Hollywood Rock foi tosco demais.

Quando tocavam músicas do Nevermind, como era a recepção do público?

Eles tocaram “Smells Like Teen Spirt” com o Flea fazendo o solo no trompete e foi horrível, desafinado, foi a maior decepção da galera, com certeza. E essa era a mais aguardada pelo público.

O que marcou da noite que passou com Kurt e Courtney?

Cocaína. Isso que rolou até as 10 da manhã.

Chegaram a conversar sobre música nessa passagem?

Cara, nessas horas ninguém conversa porra nenhuma, estava todo mundo muito louco. Não tem muito o que falar quando a gente está na madrugada. Você acha que dá pra lembrar de alguma coisa?

Nevermind é?

É puta disco bom pra caralho.

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24/09/2021

Francieli Souza

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