Entrevista | Supercordas

22/07/2010

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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22/07/2010

Há quatro anos, o Supercordas movimentou o cenário musical brasileiro com o disco Seres Verdes ao Redor. A ambiência rural e as melodias hipnóticas e divertidas surpreenderam. Mas, depois do disco, pouco se ouviu falar da banda. Em 2010, os caras voltaram com duas músicas que trazem de volta a qualidade mostrada há quatro anos: “O céu sobre as cabeças” e “Índico de estrelas” fazem parte de A Mágica Deriva dos Elefantes, trabalho que deve sair ainda este ano. Conversamos sobre o disco novo, o disco antigo, as evoluções, as mudanças e a sonoridade do Supercordas nesse retorno.

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NOIZE: O que vocês fizeram nesse período entre-discos?

Supercordas: Em novembro vai fazer quatro anos desde que lançamos Seres Verdes Ao Redor. Nos dois anos seguintes, nós basicamente promovemos o disco, tocamos por aí em muitos festivais e casas de show. Foram muitos concertos em muitas cidades diferentes. Visitamos lugares para onde dificilmente iríamos se não tivéssemos a banda, e isso é muito legal. Talvez uma das melhores coisas dessa grande atividade roqueira. Também mudamos de formação, trouxemos o Kauê Ravaneda e o Digital Ameríndio. Em 2009 tivemos nosso próprio estúdio, no qual boa parte do disco novo foi gravada, e pudemos ensaiar bastante. Tudo isso deu um novo brilho para as apresentações.
É importante acrescentar também que não fazemos só isso da vida. Todos estamos envolvidos em outras coisas e não podemos dedicar a maioria do nosso tempo aos Supercordas, o que é uma pena.

Pink Floyd, Zé Ramalho, Spiritualized, Júpiter Maçã: o Supercordas une influências aparentemente distantes entre si. Qual é o denominador comum entre elas? (E, acima de tudo, essas bandas são de fato influentes?)

Acho que o Floyd, principalmente antes de Dark Side, e o Spiritualized são algumas das coisas que mais unem a nós cinco musicalmente. Todos adoramos essas bandas, e eu acho (e espero) que isso fique claro na nossa música. Não manjo muito de Zé Ramalho. Acho o Paêbirú (disco de Zé Ramalho com Lula Côrtes, de 1975) genial, mas não me interesso por muito mais do que isso, pelo menos não hoje em dia. Provavelmente alguns dos outros caras conheçam e gostem mais. Júpiter Maçã e Apple é uma grande figura, e eu acho o Hisscivilization um dos melhores discos feitos no Brasil. O fato é que não sei exatamente o que esses artistas têm em comum ou o que nós tiramos disso. Deve ter algo a ver com o gosto pela experiência musical, inconsequente ou não, como parte do pulso das canções. E nisso eu me sinto obrigado a citar também o Olivia Tremor Control. Pra mim, ninguém fez ou faz isso melhor que eles.

Muito se falou sobre o Supercordas ser uma banda “rural”. Vocês parecem não gostar desse – e de nenhum – rótulo. O novo disco muda isso? Geograficamente, qual é o habitat do Supercordas?

Ao contrário da maioria dos artistas que se dizem libertários, eu não tenho muita coisa contra rótulos. O problema é que eles servem enquanto a garrafa está cheia, depois que você bebe tudo o que tem dentro, o rótulo não quer dizer mais nada, então é hora de abrir outra garrafa, beber outro líquido, indicado por outro rótulo.
O lance rural foi, sim, uma ênfase do primeiro álbum. Parte da banda outrora habitou lugares rurais, mas o fato é que quando o disco foi feito isso já tinha passado. Era nostalgia. Enquanto grupo vivendo no presente, sempre habitamos a cidade, e é capaz desse novo levar isso mais em conta.
Enfim, o rótulo pra esse líquido que já secou era bastante didático, a princípio, e todos entenderam mais ou menos o que estavam bebendo, mas não estou muito certo de que um rótulo vá ajudar a entender a natureza (e a onda) dessa bebida que estamos destilando agora.

Uma constatação que vocês chegaram é a de que as músicas de Seres Verdes ao Redor eram difíceis de serem executadas ao vivo. Como isso muda em A Mágica Deriva dos Elefantes?

O lance é que não sei mesmo se as músicas são mais fáceis de serem executadas ao vivo ou se nós melhoramos muito e conseguimos executar melhor qualquer coisa. Talvez seja mais por aí. Certamente continuamos não limitando os arranjos por esse fator na hora de gravar.
Quando tocamos “3000 Folhas”, por exemplo, ela soa bem diferente da que está no Seres Verdes…, mas é uma das nossas melhores execuções hoje em dia. Tanto que é a única música do disco que nunca deixamos de tocar num concerto, desde 2006.

Como foi o processo de gravação do disco novo? Ele já está finalizado?

Ainda não. Tem sido um longo processo. Começamos com uma pré-produção em 2008, gravamos boa parte no nosso Estúdio Musgo em 2009 e, depois de um tempo com as sessões interrompidas por alguns problemas com o equipamento, estamos recomeçando em casa. Nesse meio tempo finalizamos “Índico De Estrelas” e “O Céu Sobre As Cabeças” no Fábrica de Monstros, do nosso amigo Marcos Thanus, e botamos no MySpace e no Trama Virtual. Agora devemos ter cerca de 70% do disco pronto, e vamos acelerar porque não aguentamos mais segurar essas canções.

Em diversas situações, você fala das músicas do Supercordas como “épicas”. No momento da composição, há essa intenção prévia? Há alguma intenção prévia no que diz respeito a composições?

É como as canções soam pra mim quando são finalizadas. Não todas, mas muitas delas. Talvez tenha a ver com uma reverência que temos em relação à lírica e à harmonia, e não vejo muito disso nas bandas de rock brasileiras hoje em dia. Essas influências que você sublinhou antes também ilustram bem isso. Tanto Floyd quanto Spiritualized, e também os Super Furry Animals e os Flaming Lips, todos têm uma pilha que eu, e mesmo alguns deles, chamariam de “épica”.

Claro que tivemos alguns momentos de senso de humor infantil em coisas como “Frog Rock” ou “A Charneca”, mas isso porque essas canções foram escritas quando eu era um adolescente do interior, e pareceu cabível gravá-las para o primeiro álbum com toda a temática fotossintética que ele englobava. Quando falo de canções “épicas”, me refiro a coisas como “Sobre o calor”, “Fotossíntese”, “Supercordas”, “A Terra da T.V.” ou “3000 Folhas”.

Sobre haver uma intenção prévia no que diz respeito a composições, há sim. Mas não necessariamente é a primeira abordagem. Pelo menos no meu caso, as canções invadem a cabeça, e nesse ponto se toma conhecimento delas. Depois você pode até pensar que direciona aquilo pra onde quiser, mas o fato é que já estava tudo direcionado no momento da invasão. É como o sentido que se dá aos sonhos. A canção é a forma de arte mais linda e completa por fazer conviver a fundação das estruturas tradicionais com o abismo imponderável da alma, e as fronteiras entre uma coisa e a outra não são nada rígidas.

A mudança constante é um dos pilares da banda? Não existe um destino desejado?

“A mudança é uma constante” é uma boa frase.

Para um próximo disco, como muito bem sintetizou o Kauê, queremos soar como os Flaming Lips tocando Tom Jobim da fase Matita Perê na garagem. Até chegar nisso, pelo menos quatro de nós lançaremos discos em nossos projetos solo, então muita coisa pode mudar no temperamento dos nossos demônios criativos particulares.

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