Entrevista | Surfer Blood: good vibes, amizade e a música que faz bem

26/11/2015

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Marília Feix

Por: Marília Feix

Fotos: Julia Pitts

26/11/2015

2015 não tem sido um ano fácil para o Surfer Blood. Mas eles estão aí para provar que têm força e talento para seguir e vencer todos os chacoalhões que a vida traz. É assim que essa banda vinda de West Palm Beach, na Florida, vive. Seguindo em frente e trabalhando muito para ficar o mais perto possível dessa tal felicidade.

Foi no ano passado que descobriram que um dos integrantes da banda, Thomas Fekete, sofria de um tipo raro e delicado de câncer, o sarcoma. De lá pra cá, muita coisa sacudiu o Surfer Blood, mas não foi dessa vez, nem de outras, que a banda parou. Assim como Thomas, que está recebendo apoio tanto de outras bandas quanto de sua família, amigos e fãs, o grupo segue firme e forte, com uma agenda de shows quase incessante que já passou – e ainda vai seguir – por muitos cantos do mundo. A formação atual conta com um novo guitarrista e backing vocal, Mike Mcleary e uma nova baixista, Lindsey Mills.

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1000 Palms é quarto e mais recente disco da banda, que após encerrar seu contrato com a Warner, gravou o álbum de forma mais caseira e livre, com o apoio dos selos independentes Joyful Noise Records, nos Estados Unidos, Fierce Panda na Inglaterra, Spunk na Austrália, Magniph no Japão e LAB 344 no Brasil.

Trocamos uma ideia com o líder da banda John Paul Pitts, entre um show e outro da turnê que estão fazendo pelos Estados Unidos.

1000 palms foi lançado também em vinil e fita cassete. Essa foi uma decisão de vocês?
Eu adoro a música em seu formato físico. Coleciono os discos das minhas bandas preferidas. Gosto muito da arte, de ler o encarte. Tivemos a sorte de o nosso selo aqui dos Estados Unidos também dar valor pra isso. Eu sou um entusiasta disso. Eles são um selo pequeno mas dão muita atenção aos detalhes, e foi ideia deles fazermos também as fitas cassete. É bom estar em um selo em que tudo faz sentido.

E você pessoalmente prefere ouvir música de que forma?
Eu acho que a música soa definitivamente melhor em vinil. É claro que é um hábito caro pois você precisa de um bom prato e um bom amplificador. Mas se você gosta, você acaba não entendendo como alguém pode dizer não ter tempo ou dinheiro pra isso. Tem algo muito especial em você colocar um disco pra tocar. É assim que a música idealmente deveria ser ouvida.

Agora que vocês não estão mais com a Warner, imagino que se por um lado tem menos estrutura, por outro, tem mais liberdade, certo? Como você se sente em relação a isso?
Se por um lado foi assustador, pois nos últimos 5 anos tínhamos um selo nos dando todo o suporte e ajuda, agora éramos apenas nós, fazendo e pensando em tudo, sem aquela sensação de suporte de antes. De muitas maneiras trabalhar em 1000 palms foi uma experiência muito legal para todos nós. Muita gente se envolveu no processo e isso acabou ficando um pouco confuso, mas ao mesmo tempo foi bom por que toda a banda interferiu em todas as escolhas, sem aquela pressão de agradar alguém em particular. Isso também nos permitiu continuar apostando no conceito de álbum com 12 músicas. Não gostamos da ideia de um single, sabe. Se o formato de LP está funcionando há cerca de 70 anos, é um sinal de que dá certo.

Como está indo a banda com a nova formação?
Mike (guitarrista e backing vocal que está substituindo Thom) está fazendo um trabalho incrível. A gente já se conhecia do tempo do colégio e também crescemos cercados pela mesma cena musical, o que facilita as coisas. Não tivemos nenhum descanso nos últimos cinco anos, mas as coisas estão indo bem, considerando tudo que aconteceu recentemente.

E como está o Thom?
Thom está indo bem, dentro do possível. Ele acaba de se recuperar de uma cirurgia bem séria e agora está muito fraco. Ele tem tido momentos bem difíceis e até tinha melhorado, mas teve muitos altos e baixos recentemente… O que é muito difícil tanto pra ele, quanto para as pessoas que amam ele. Mas ao mesmo tempo Thom está bem otimista e as pessoas em sua volta também. Ele está cercado de amigos que querem o bem dele nessa torcida.

Há uma campanha muito bonita em apoio ao Thomas, com a colaboração de nomes como Yo La Tengo, The Drums e Guided By Voices. Vocês estão conseguindo resultados legais?

A gente faz tudo que pode para ajudar o Thomas. E bandas que adoramos estão fazendo também. A gente fica muito feliz de ter o Yo La Tengo, o Guided By Voices e tantas pessoas legais disponibilizando tempo para ele. Isso também, com certeza, faz bem pra ele. Mesmo estando assustado e cansado, ao mesmo tempo.

Você pode ajudar Thomas Fekete e ainda ser recompensando com presentinhos musicais, é só clicar aqui.

Em maio deste ano a van de vocês foi roubada, vocês conseguiram recuperar alguma coisa?
A gente tava em um subúrbio de Chicago, mas parecia um lugar tranquilo, então paramos para comprar umas coisas no super. Quando voltamos alguém tinha entrado na nossa van e roubado as nossas coisas. A gente perdeu uma parte da grana dos shows e uma pouco da verba que estávamos arrecadando para o Thom, uns 500 dólares. Foi terrível, ficamos bem tristes. Mas não é a primeira vez que isso acontece com uma banda nos Estados Unidos. Então a gente seguiu em frente, não tem muito o que fazer.

Para 1000 Palms você teve a participação da banda nas composições, certo? Como foi pra você?
Eu sempre escrevo todas as letras, com exceção de “I Can Explain” que foi escrita pelo Kevin, mas pra esse álbum a gente teve oportunidade de compor músicas juntos sim. Foi uma experiência diferente de tudo que eu já tinha feito antes. Primeiro por que a gente viajou junto durante muito tempo, o que nos proporcionou um bom entendimento da personalidade de cada um. Nos conhecemos muito bem, o que ajuda bastante no trabalho, por isso foi muito tranquilo gravar 1000 palms, pois estávamos muito entrosados. Todos têm gostos um pouco diferentes para a música, mas concordamos na maioria das vezes. Rola tranquilo.

Não acontece de alguém ter uma ideia muito fora do que vocês querem fazer?
Acontece sim e acaba sendo sempre uma conversa difícil, mas a gente consegue se entender. Temos o hábito de conversar, ouvir todo mundo, é importante não deixar passar.

Vocês vieram ao Brasil em 2013. Como foi?
A gente veio ao Brasil em janeiro de 2013 e fez só 3 shows. Foi pouco tempo, mas adoramos! Eu gostaria muito de voltar e ficar mais tempo, ainda mais agora que temos um selo brasileiro (LAB 344), faria muito sentido voltar ao Brasil. Aquela foi uma das semanas mais divertidas da minha vida!

Algum plano mais definitivo de voltar pra cá?
Definitivo não, mas a gente tem muita vontade de ir, está nos planos.

Em relação a música brasiliera, alguma descoberta?
Eu gosto muito de Os Mutantes, mas realmente não tivemos muito tempo de conhecer bandas brasileiras não.

E vocês já estão pensando no próximo disco?
Estamos definindo isso agora mesmo. Eu tenho escrito muita música recentemente e temos material suficiente para o próximo álbum. A gente vai ter dezembro livre e acho que vamos aproveitar para organizar isso. Não temos como prometer nada ainda, mas será em algum momento de um futuro próximo.

Enqaunto isso, aproveite para ouvir 1000 Palms, por aqui.

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26/11/2015

Marília Feix

Marília Feix