Entrevista | Téo Ruiz sobre o equilíbrio no mercado musical brasileiro e o papel da FIMS

20/06/2018

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Marta Karrer

Por: Marta Karrer

Fotos: Divulgação

20/06/2018

Produtores, jornalistas, artistas, curadores e festivais se reúnem em Curitiba para a Feira Internacional da Música do Sul a partir dessa quarta-feira. A edição 2018 da FIMS vai até sábado (23) e oferece 40 horas de programação: ao todo, são 16 showcases, 12 mesas redondas, 10 workshops e 4 palestras (você pode conferir a agenda completa aqui).As apresentações são divididas entre os palcos Brasil, Paraná-Latino, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Curitiba – esse último é distribuído pelos quatro dias sempre com um artista local fechando a noite.

Karen Rodriguez, gerente de projeto do NOIZE Record Club, participa da mesa redonda sobre “O papel das mídias na música de hoje: divergente ou convergente?”, que acontece na sexta-feira (22), das 15h30 às 16h30, e também conta com Vitor Salmazo (Machete Bomb / Mundo Livre) e Hedmilton Rodrigues (IG Música). Para entender ainda melhor todo o conhecimento que será compartilhado nos próximos dias, conversamos com Téo Ruiz, fundador da FIMS. Confira o papo:

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Como você equilibra ser músico, compositor e produtor ao mesmo tempo? O cenário atual da música brasileira acaba obrigando que todo artista seja um pouco “faça você mesmo”?

Essa é uma questão que surgiu desde o início da minha carreira. Desde sempre eu tive que aprender as coisas por conta, ir atrás e descobrir caminhos. Mas eu acho que isso é uma problemática pós-revolução digital, na qual os artistas passaram a ter a possibilidade de gerenciar sua carreira de uma forma mais geral, surgiram ferramentas de divulgação e difusão, barateamento da produção e uma série de fatores que permitiram uma reconfiguração em todo setor. Ao mesmo que isso abriu diversas portas, por outro lado passou a “exigir” que o artista estivesse atento a muito mais aspectos da sua carreira do que antes. Redes sociais, acompanhamento de agenda, direção artística, composição… São questões tão diferentes que passaram a ser corriqueiras na vida de um artista. Tanto pelo lado positivo quanto negativo, nós acabamos acumulando diversas funções. E meu trabalho como compositor vem em paralelo a todas essas questões, não tem mais como desassociar. O grande desafio é deixar o produtor fora do palco, porque essa é uma figura muito chata, o público quer ver o artista, não o produtor. Mas, com o tempo, fui aprendendo a conviver com essas duas personas e hoje é um pouco menos difícil lidar com essa dualidade.

Dá pra notar que vocês quiseram ter painéis abrangendo as mais diversas áreas e perspectivas nesta edição da FIMS. Como foi o processo de construção da programação?

A programação foi construída através de sugestões do que eu chamo de Conselho da FIMS. Além da equipe que trabalha comigo desde a primeira edição, que são amigos e produtores experientes e atentos ao mercado, temos também parceiros externos que colaboraram com indicações de nomes e temas. Eu acabei centralizando essa informação, filtrando e montando toda a grade, selecionando temas que eu considerava importante discutir e aprofundar, e outros que eu julgo necessário aprender mesmo. Nesse ponto, como eu tenho a visão do artista também, tenho uma posição de também sentir a necessidade de estudar e aprofundar certos temas e imagino que vários outros artistas e profissionais também podem ter a mesma demanda. São temas atuais, alguns polêmicos, mas que fazem parte da indústria da música e precisamos estar atentos, nós artistas, mas também produtores, empresários, diretores de festivais, etc.

Você pesquisa a indústria musical brasileira há anos – como você vê a evolução da cena independente nos últimos anos? Você sente que artistas e produtores criaram uma rede mais forte?

Pessoalmente, nem gosto muito desse termo independente pois há uma certa conotação de amadorismo embutido nesse termo que não condiz com a realidade faz tempo. Essas produções alternativas ou fora do circuito de grandes gravadoras se profissionalizaram bastante a partir do final dos anos 90. E em pouco tempo, já se tornaram a maioria da produção musical do Brasil, se desenvolveram e formaram estruturas de produção profissionais e viáveis economicamente. E nesse sentido criaram uma enorme rede de “pequenas indústrias”, pois cada trabalho, cada carreira artística é como se fosse uma pequena fábrica que emprega pessoas de outras fábricas, e acabam ocorrendo inúmeras relações de comerciais muito difíceis de se medir com dados oficiais, digamos assim. E do ponto de vista macroeconômico, considerando todo esse mercado, é algo extremamente significativo, gerando emprego e renda, o que faz a música ser um dos principais setores da economia brasileira.

Que conselho você daria pra os artistas que estão tentando circular pelo país e conseguir espaço em eventos como a FIMS?

É muito interessante participar das feiras, não só da FIMS, na perspectiva de se profissionalizar cada vez mais. Existem diversas ferramentas, e hoje em dia não há razões para não desenvolver um trabalho musical tecnicamente bem acabado. Portanto é preciso ficar atento às tendências e às novidades e, claro, usar a criatividade pois todo empreendedor se destaca pela originalidade, não só na música, mas em qualquer setor.

A programação deste ano da FIMS parece querer criar uma ponte entre as políticas públicas culturais, a indústria musical e o fazer artístico. Você sente que os artistas do meio independente conseguem atuar nesses três campos com segurança?

É uma questão bem complexa. É muito difícil circular por todas essas áreas, pelas razões que já falei acima. Mas também não podemos ser completamente alheios a questões políticas, práticas e comerciais. O artista de hoje deve ser multi, o mercado e a indústria nos exigem isso. Isso é ao mesmo tempo um dificultador e uma facilidade, pois há pouco mais de 20 anos não existia essa possibilidade, e somente trabalhos vinculados a grandes gravadoras chegavam até o público final. Hoje, a diversidade é tanta, não só do ponto de vista artístico mas também de produção e atuação no mercado, que precisamos estar atentos e abertos a novidades para conseguir nosso espaço.

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20/06/2018

Marta Karrer

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