Yo La Tengo fala do disco novo, clipes raros e Tim Maia

29/09/2015

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Ariel Fagundes

Por: Ariel Fagundes

Fotos: Dusdin Condren/Divulgação

29/09/2015

Com mais de 30 anos de história, é possível dizer que o Yo La Tengo é um veterano, um bravo sobrevivente das trincheiras da música alternativa. Há pouco tempo, a banda lançou seu 14º disco, Stuff Like That There, que é como se fosse uma nova edição do cultuado disco Fakebook (1990). 25 anos atrás, o Yo La Tengo lançou esse álbum repleto de covers, com poucas inéditas e algumas regravações de músicas mais antigas.

Dessa vez, a banda quis fazer um disco parecido em homenagem ao Fakebook. Para isso, explorou novamente seu conceito, mas, dessa vez, trocou dos covers de Cat Stevens e John Cale por nomes como The Cure, Hank Williams, The Parliaments e Sun Ra. Conversando com o baixista e guitarrista James McNew, descobrimos que a banda mergulhou fundo no universo do Fakebook, até gravou seu novo álbum no mesmo estúdio onde foi feito aquele disco. Meio por acaso, descobrimos também que, assim como nós, eles amam o Brasil e são fãs de Tim Maia.

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Veja nossa entrevista exclusiva com o músico abaixo.

Stuff Like That There revisita o conceito do Fakebook. O que motivou vocês a fazerem isso agora?
Percebemos que estava se aproximando o aniversário de 25 anos do Fakebook e pensamos que seria inusitado e… divertido fazer um disco parecido com Fakebook. Decidimos seguir essa ideia e fomos o mais longe que pudemos com ela. Gravamos com o Dave Schramm, o guitarrista que tocou no Fakebook, e Gene Holder, o produtor do Fakebook, usamos até o mesmo estúdio de gravação. Foi bem inusitado, pra nós, tomar essa decisão, que seria a mais óbvia. Então sentimos que tínhamos que fazer isso.

Fakebook é um disco querido pelo público, como vocês se sentiram lançando um álbum que certamente seria comparado a esse álbum anterior?
Bem, nós sabíamos o que estávamos fazendo e sabíamos que seria comparado. Isso foi intencional. Então, nos sentimos bem. Nos sentimos agradecidos com o fato de que as pessoas lembram tanto do Fakebook, e é legal pensar que as pessoas vão comparar um com o outro, se elas quiserem.

Veículos como The Guardian, Pitchfork e NME elogiaram o Stuff Like That There, mas vocês estavam preocupados com a recepção dos críticos?
Não, acho que isso seria uma forma ruim de se viver. Ficar se preocupando com as resenhas prejudica a música que você faz. Eu acho que é mais importante, pra nós, ficarmos felizes e satisfeitos com o que nós fazemos.

E como foi o processo de seleção das músicas do disco? Não tem muito em comum entre Hank Williams e Sun Ra, por exemplo, mas ainda assim elas funcionam bem juntas.
Todas são faixas que nós amamos. E elas ficaram bem juntas, pra mim. Foram todas escolhas naturais: eram músicas que nós gostávamos de ouvir e gostávamos de tocar. Eu acho que isso foi se construindo, pra todos nós. Todos temos músicas que ouvimos muito e que não fazem sentido entre si. Então, pra nós, foi meio que um reflexo dos sons que nós amamos.

E, de todas as músicas que vocês já lançaram, por que sentiram a necessidade de regravar “All Your Secrets”, “The Ballad Of Red Bucktes” e “Deep Into Movies”?
Fakebook tinha gravações de músicas mais antigas do Yo La Tengo: “Did I Tell You” e “Barnaby, Hardly Working”. Queríamos fazer isso de novo e trazer de volta algumas músicas que nós escrevemos nos últimos vinte e poucos anos. Mas sempre tivemos o hábito de tocar nossas músicas tanto com um arranjo barulhento como com um arranjo calmo. Acho que nós fizemos isso com quase todas as músicas que escrevemos juntos. Eu acho importante ser flexível pra fazer com que a música fique no clima certo para o momento.

Mas por que vocês escolheram essas três especificamente para o disco novo?
Escolhemos porque soavam bem, eu acho. Pensamos que eram músicas que poderíamos olhar de uma forma diferente. Nesse arranjo de guitarra/violão/baixo nós poderíamos dar uma cara diferente pra elas e, talvez, um tom emocional diferente. Mas não sei, como eu disse, nós tocamos quase todas nossas músicas de formas diferentes das que estão gravadas nos discos. Então, tivemos que fazer uma escolha, e foram essas as que a gente acabou escolhendo porque nos pareceram as melhores.

Saiu um clipe incrível pra “Friday, I’m In Love”. Vocês têm planos de lançar outros vídeos pra divulgar esse disco?
Eu espero que sim, não temos nenhum plano agora, mas seria muito divertido fazer isso de novo.

Vocês gostam de fazer clipes? Qual é a importância que vocês dão pra isso?
A ideia veio da nossa gravadora, nós não nos preocupamos tanto com isso, tipo: “temos que fazer um clipe pra essa música”. Não temos também nenhuma oposição a isso. Quando fazemos, nos divertimos demais. Gostamos de trabalhar com um diretor que nós admiramos e que possa se envolver com o clipe. Deve ser algo divertido para que possa funcionar. Nós temos tido bastante sorte com isso. O clipe de “Friday, I’m in Love” foi realmente muito muito divertido de ser feito. O diretor foi incrível. E o clipe que fizemos antes desse, dez anos atrás, de “Sugarcube”, também foi muito divertido de ser feito. O de “Tom Courtnenay”, que nós fizemos muito tempo atrás, também foi assim. Então temos muita sorte nesse sentido. Só tivemos boas experiências quando fizemos clipes, o que é raro.


E sobre o retorno de Dave Schramm, como isso mudou o som da banda?
Bem, nós tocamos com um estilo diferente. Ira toca violão, eu toco baixo acústico… E Dave desenvolveu um jeito muito pessoal de tocar guitarra, e nós amamos esse estilo, é muito fácil pra nós tocarmos juntos e ouvirmos um ao outro. É ótimo. É muito bom que isso esteja acontecendo. Ele tem um jeito lindo e imaginativo de tocar guitarra.

Vocês têm planos de seguir tocando juntos por mais tempo?
Começamos uma turnê juntos agora. Até o fim de 2015 vamos seguir tocando juntos.

Vocês estão com turnês marcadas nos EUA e na Europa, existe alguma chance de vocês virem pra América do Sul com esse disco?
Nós adoraríamos! Estamos trabalhando agora com um plano em que poderíamos ir ao Brasil em 2016. Agora, o que estamos fazendo é trabalhar para 2016.

E como vocês lidam com as turnês? É algo que vocês curtem muito ou é mais profissional, tipo “vamos fazer nosso trabalho”?
Tem as duas coisas. É um trabalho muito exaustivo, mas também é muito divertido. Nós amamos viajar, conhecer pessoas, ir para lugares que nós não costumamos ir, amamos a comida, amamos a música do mundo todo. Então é um prazer.

Teve alguma lição musical que vocês tiveram em suas turnês? Algo que vocês aprenderam viajando?
Eu não sei, não consigo pensar em nenhum exemplo específico. Mas tiveram músicas de muitos países de todas as partes do mundo que foram muito importantes pra nós. Tenho certeza de que, de alguma forma, em alguma parte das nossas mentes, elas afetaram a forma como nós tocamos, a forma como nós ouvimos música, a forma como nós sentimos a música. Com certeza.

Abaixo, uma filmagem feita no show do Yo La Tengo no Rio de Janeiro, em 2014:

O que vocês lembram do Brasil, por exemplo?
Eu me lembro de tudo.

E o que você mais gostou daqui?
Eu gostei de tudo. Eu acho que o Brasil foi um dos lugares mais naturalmente psicodélicos em que eu já estive em toda minha vida. Muitas vezes, parecem um sonho as lembranças que tenho da atmosfera das cidades, das construções… Estivemos no Rio e tenho uma lembrança muito mágica de lá. Foi uma experiência incrível.

Chegaram a conhecer a música brasileira?
Ah sim, nós ouvimos muito. Somos fãs da música psicodélica brasileira dos anos 60 e 70. Eu realmente amo o Tim Maia, comprei vários dos seus discos quando estive aí no ano passado. É um dos tipos de música que nós mais gostamos.

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29/09/2015

Editor - Revista NOIZE // NOIZE Record Club // noize.com.br
Ariel Fagundes

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