_por Tomás Bello
Alex Turner ou Dave Grohl. Foi o duelo promovido pelo programa radiofônico da Noize na última quinta-feira, na Ipanema FM. Naquela noite deu Grohl na cabeça. Disparado. Sem deixar reflexo no retrovisor. Na estreia do Lollapalooza no Brasil pode-se dizer que o resultado não foi muito diferente.
É injusto comparar Alex a Dave, claro. Um é ídolo nascido nos anos ’00, ainda aprende as artimanhas do mundo rocker, trilha o caminho de um bom frontman. O outro vem de uma das bandas mais importantes de todos os tempos, montou o seu próprio grupo e o colocou também entre os grandes após dezessete anos de palco.
No Make Some Noize daquela quinta a tal enquete não passava de brincadeira, um warm up pra primeira edição do festival em território tupiniquim. No Jockey Club, no entanto, o resultado do jogo mostrou a sua razão de ser.
Mas olha, dê mais sete anos e três discos a Turner e cia e lá na frente a balança tem boas chances de se inverter.
“Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, “Teddy Picker”, “Crying Lightning”, “The Hellcat Spangled Shalalala” e “Library Pictures”. Foi essa a largada poderosa do Arctic Monkeys ao tomar o palco, às 21h33 deste domingo, 08 de abril. Entre as cinco primeiras músicas, as primeiras palavras de Alex Turner.
“Hi Brazil. Hi Lollapalooza. How the fuck are you?”
“Animados pra c******”, poderia ser a resposta. Que veio em forma de pulos e gritos eufóricos já no riff inicial de “Brianstorm”, aquela a realmente levar a multidão às alturas até ali.
Por diversas vezes, Turner se desgrudava da guitarra. Levava as mãos à cabeça e dava um jeitinho no topete. Vaidoso ele.
“I Bet You Look Good on the Dancefloor” causa furor. Tem toda a sua letra cantada em uníssono. Aliás, poucas músicas não tem. Em “Still Take You Home”, o vocalista pede palmas – não dá tempo nem pra contar até três e o público responde. Como se estivesse tudo ensaiado.
Os Monkeys deixam o palco com “R U Mine?”. “When the Sun Goes Down” é o abre alas pro bis, leva o povo a sair do chão como em tantos outros momentos. Vem seguida de “Fluorescent Adolescent” e “505” – a primeira põe a dançar até mesmo o vendedor de cerveja que circula pela multidão.
“Thank you Lollapalooza. Thank you São Paulo. We really gotta go know”, avisa Alex enquanto manda beijinhos aos fãs. Que não iriam concordar com o vocalista, lógico. Mas o relógio batia 23h. Fim de festa.
Muito antes disso, porém…
O Gogol Bordello já havia nos feito bailar na sexta-feira, em apresentação no Beco 203. Mesmo assim, não resistimos. Pedimos bis.
O ucraniano Eugene Hütz realmente sabe como animar uma pista. Foi o que fez com tracks como “Ultimate”, “Sally”, “Immigrant Punk” e “Wonderlust King”. Apesar de um sol cruel, de um início de tarde de termômetros nas alturas, foi difícil ver alguém não entrando na roda.
Impressionante como música cigana pode fazer um bando de indies se divertirem tanto.
Dub, funk, soul, reggae, acid jazz… Foi por esse universo que o Thievery Corporation levou o palco Cidade Jardim pra um passeio de uma hora. Sem dúvida alguma, a maior concentração de “smokey smokey” por metro quadrado do festival.
O vocalista Ed Macfarlane definitivamente não é um cara de papo. Mas é chegado em uma dancinha difamatória. “Thank you, São Paulo”, era a única frase repetida por Ed durante toda a apresentação do Friendly Fires, quase que ao final de toda canção.
Sem surpresas, “Skeleton Boy” esteve entre as músicas que mais provocou sacudidas, coros e palmas. Seguida de perto por “Paris”.
Tipo de show que o cara vai de sangue frio, sem expecativas e com uma cerveja em mãos. E olha, high five pra esses caras de Atlanta, EUA.
O Manchester Orchestra é um grupo de guitarras que gritam alto, de boas melodias e um tecladista que, certamente, não estava no mesmo planeta que nosotros. Eles se apresentaram no palco principal, em plena luz do dia, e o público foi chegando, chegando, chegando… De repente, era olhar pro lado e ver alguém batendo cabeça.
“We’re really happy to be here. Never knew there were so many people that knew us on this side of the world. So thanks a lot for standing here and watch us play”, mandou o vocalista e guitarrista Andy Hull, visivelmente feliz.
Um vocalista que não parece ter vontade de estar ali. Uma banda que aparenta não gostar do que já fez no passado. É essa a impressão que se tem ao ver o MGMT no palco.
Bandanas e faixas na cabeça de repente brotaram por todos os lados. Uma pequena multidão que estava sempre à espera de “Kids” ou “Time to Pretend”, músicas que não pertencem mais ao grupo – eles agora se enxergam no folk, na psicodelia quase pura.
“Kids” de fato leva o público ao delírio. Bastões de neon tomam conta do céu, giram e pintam o palco Butantâ pelas mãos dos fãs. “Time to Pretend” dá o último gás antes do final da apresentação. “Thank you, we’ve got one more song”, anuncia o vocalista Andrew VanWyngarden. Foi a deixa pra grande parte das pessoas baterem em retirada, em direção ao palco Cidade Jardim e ao Foster the People. Poucos restaram pra balada “Congratulations”.
O que dizer desse trio de Los Angeles? Por algum motivo, uma porrada de gente adora eles. Simples.
O Foster the People é uma banda competente, faz um show redondinho, e não precisa de muito esforço pra fazer o público cair na dança com os hits “Pumped Up Kicks” e, principalmente, “Call It What You Want”.
Se você vai lembrar deles no ano que vem? Difícil dizer. Mas já que estão pelo Lolla, por que não entrar na brincadeira, não é?!
É bom ou ruim que a banda de Perry Farrell, criador do Lollapalooza, tenha reunido o menor público do dia no palco Butantã? A resposta é sua, mas foi a realidade assim que o Jane’s Addiction deu os primeiros acordes de “Underground”.
Se o guitarrista Dave Navarro não parecia estar com a cabeça em São Paulo, Farrell não quis nem saber: comandou como poucos um set que passeou por pérolas como “Been Caught Stealing”, “Jane Says” e “Stop!”.
Tão anunciada durante todo o fim de semana, a chuva resolveu marcar presença – constante, diga-se – no segundo dia do Lollapalooza Brasil. Não que isso tenha impedido alguém de se divertir, pelo contrário. Com menos público do que no dia anterior, o domingo significou menos filas e mais tempo pra shows, uma maior área de circulação e, consequentemente, mais chance de organizar os “bate e volta” entre os diferentes palcos do festival.
Welcome, Lolla!
** Fotos por Rafa Rocha. Exceto Thievery Corporation e Manchester Orchestra (Divulgação Lolapalooza Brasil)