Ex-baixista do Runaways revela ter sido estuprada por Kim Fowley

09/07/2015

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Paula Moizes

Por: Paula Moizes

Fotos: Divulgação

09/07/2015

Em uma banda de atitude tão forte como The Runaways é triste saber que o empresário Kim Fowley abusava verbal e sexualmente das garotas que na época tinham cerca de 15 anos. Depois de comentários breves por parte das integrantes, em depoimento recente a ex-baixista Jackie Fox pela primeira vez revelou ter sido estuprada por Fowley.

Jacqueline Fuchs, que no grupo de meninas ficou conhecida como Jackie Fox, gravou os dois maiores discos da banda: o homônimo de estreia, em 1975, e Queens of Noise (1977). Com sua saída, quem tocou as linhas de baixo dos dois últimos álbuns da banda foi Vicki Blue.

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A ex-baixista das Runaways contou, em entrevista à publicação The Huffington Post, que o estupro ocorreu no seu primeiro ano na banda: 31 de dezembro de 1975, quando ela tinha apenas 16 anos. “Eu lembro de abrir meus olhos, Kim Fowley estava me estuprando e pessoas estavam lá me olhando”, comenta ela. A extensa reportagem do The Huffington Post descreve o estupro e o sentimento de incapacidade que Jackie sentiu naquele momento. Um relato forte e emocionante que só veio à tona depois da morte do produtor, em janeiro deste ano.

Kim Fowley e Jackie Fox, em 1977

Kim Fowley e Jackie Fox, em 1977

Fowley era obcecado por sexo e mulheres jovens. Tinha um jeito convincente, prometendo uma carreira de sucesso para as artistas que produzia. No filme sobre a banda, lançado em 2010, uma das cenas mostra um pouco a forma rude e repugnante que o empresário usava para aflorar o lado mais selvagem das meninas. Com medo da repressão física, elas faziam tudo por ele. Longe de suas famílias, Fowley era também o tutor das garotas quando estavam em turnê, ou seja, estava em uma posição superior – e intimidadora – em relação a elas. O cenário perfeito para ele cometer abusos sem ser recriminado.

Situações como a relatada por Jackie Fox não são incomuns na música, por mais revoltante que isso seja. Nina Simone, a pianista clássica que por um acaso do destino acabou tornando-se uma das cantoras mais influentes de todos os tempos, também sofreu abusos e foi estuprada pelo empresário e marido Andrew Stroud. A luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos foi o que empoderou Nina a livrar-se do criminoso. Ela fala sobre o estupro no documentário póstumo What Happened, Miss Simone?, que acaba de ser lançado com exclusividade pelo Netflix. Recentemente, a artista pop Kesha revelou ter sido violentada física e sexualmente por 10 anos pelo seu ex-produtor Dr. Luke.

Não podemos mudar o que aconteceu, mas podemos dar voz às que por tanto tempo ficaram caladas. E, como é o caso da ex-baixista das Runaways, ficaram caladas porque tiveram medo e foram obrigadas. 50 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil, e esse número reúne apenas as que enfrentaram uma ocorrência na polícia. Afinal, a impotência é o sentimento mais comum nesses momentos. Os relatos de abusos sexuais que ocorrem silenciosamente nos bastidores da música nos abrem ainda mais os olhos para uma cultura do estupro que está sendo reproduzida em todas as classes sociais.

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09/07/2015

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