Exclusivo | O diário de viagem de Rincon Sapiência por Cabo Verde

18/02/2020

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Por: Brenda Vidal

Fotos: Carol Jafet/Divulgação

18/02/2020

Rincon Sapiência traz a África no corpo: na ginga que é mole, nas batidas que cria, na mensagem que passa, nos búzios que ostenta em seus dreads. No final do ano passado e pela segunda vez na vida, ele teve oportunidade de acessar a África concreta, cheia de ondas, cores e sabores. Atravessou os mares ancestrais do Oceano Atlântico para pousar em Cabo Verde e se apresentar no Kriol Jazz Festival. Encantado pela cultura local, ele decidiu registrar a experiência em alguns conteúdos. Um, o clipe para a faixa “Onda, Sabor e Cor”, do disco Mundo Manicongo: Drama, Danças e Afroreps (2019), lançado no final de janeiro. O outro, o minidocumentário Rincon Sapiência em Cabo Verde (Vlog), que revelamos agora com exclusividade, ao final da matéria.

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No registro, o rapper passeia pelas ruas, mergulha nos mares e conhece e se reconhece em muitos dos rostos e vivências dos habitantes locais. Abaixo, trocamos um papo super direto com ele, que divide mais impressões sobre a viagem. Em seguida, você estará pronto para soltar o player e visitar Cabo Verde ao lado de Rincon Sapiência. As imagens são do filmaker e parceiro Mista Luba.

Como foi tocar para o público cabo-verdiano e como você mensura a inserção da música contemporânea brasileira nos países africanos que você já visitou? 
É incrível tocar em Cabo Verde. Além da possibilidade de apresentar o meu trabalho, ainda tem a história, a cultura, a comida, e tudo que envolve a cultura daquele país. Foi rico conhecer e vivenciar isso. Nas oportunidades que eu tive de visitar países do Continente Africano, em todas elas, a recepção foi muito boa, principalmente pelo fato de termos muitos signos semelhantes aqui no Brasil. Então, as pessoas têm um imaginário sobre o Brasil, a cultura, a música, mas quando se impactam com linguagens que estão mais dentro do “underground” brasileiro, coisas que não chegam com tanta força até eles [de Cabo Verde], como o funk e outros ritmos daqui, eles se encantam muito. Por conta disso, a recepção e a oportunidade de se apresentar no continente africano é sempre muito boa.


O que mais emocionou você em sua passagem por Cabo Verde? 
Acho que uma das oportunidades mais legais e emocionantes foi quando a gente acessou a casa de Gil [Cabral Moreira, professor de cultura nacional, músico e colecionador de discos]. Cabo Verde não tem lojas de discos antigos, o que a gente encontrou era [loja] de música contemporânea, música internacional, e a gente queria muito mergulhar na música local, a música cabo-verdiana, entre outros países de África, e enfim, em coisas antigas. Esse tipo de loja, basicamente, não existe, pelo menos não nas ilhas que a gente foi. Então, o acesso ao Gil foi algo muito especial porque ele abriu a casa dele. E para você abrir a sua casa para dois estrangeiros, você tem que criar uma relação de confiança. Eu acho que ele entendeu que a gente ama muito a música, que tem muita curiosidade sobre. Por conta disso, foi muito interessante. Eu voltei com muitos discos que eu escuto até hoje, e atualmente entendo muito mais até de questões históricas através dos discos, figuras como Amílcar Cabral [político de Cabo Verde e Guiné-Bissau], entre outras coisas relacionadas à história de Cabo Verde e de Guiné-Bissau também. Muitas coisas me chegaram a partir da música e que, por sua vez, vieram desses LPs. Acho que um dos pontos mais emocionantes, fora o show, foi conhecer o acervo de Gil mesmo.

Muita gente que não se aprofunda na questão da diáspora negra e, por exemplo, não entende porque o continente africano é tão importante para pessoas negras ao redor do mundo, sejam elas africanas ou não. Você consegue nos dizer que impacto tem na sua vida, enquanto um homem negro brasileiro, a experiência de pisar em no solo africano? 
Hoje em dia, com a globalização das coisas, a internet nos dá acesso para conhecer as músicas, as histórias, os livros, mas é totalmente diferente quando você tem a oportunidade de ir até o local e conversar e ouvir as histórias a partir das pessoas, pisando naquela terra. Então, são histórias que nos conectam, também pela questão da colonização; por conta de também ter feito parte de uma colônia portuguesa, existem signos de Cabo Verde na cultura afro-brasileira, com também existem [signos] de Congo, Angola, da cultura Yorùbá nas religiões de matriz africana, como a Umbanda, o Candomblé. Muito do que se encontra no continente africano tá na cultura brasileira também e na sua sociedade. E a sociedade brasileira faz parte de todos, etnicamente dizendo. Então, mesmo uma família branca, habitualmente come arroz, feijão, couve, farinha, coisas que também tem a ver com essa diáspora; o jeito que fala, as palavras que a gente usa, “muleque”, “zica”, “bunda”, coisas do tipo, tem essa matriz africana. É legal você viajar e conhecer os países de África porque você acaba se encontrando ainda mais.

Assista ao minidoc:

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18/02/2020

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Brenda Vidal