Exclusivo | Ouça LabXP mix’s #01 por BRF, estreia de série de mixes para NOIZE

14/08/2019

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Bruno Barros

Por: Bruno Barros

Fotos: Yuri Junges

14/08/2019

Bruno de Freitas aka BRF é designer, artista visual e DJ. Natural de Gramado na serra gaúcha, foi criança com a família morar na capital Porto Alegre. Membro do Coletivo Arruaça, BRF também integra o selo de música eletrônica Goma rec. e é, há um ano, responsável pela identidade visual da festa BASE Poa. Para a edição do próximo sábado, dia 16, tem a missão de ambientar a quadra da Escola de Samba Império da Zona Norte para festa. 

Em meio ao processo de organização disso tudo, Bruno trocou uma ideia e gravou uma mix exclusiva para a NOIZE que você ouve abaixo. Ele entrega um apanhado fresco de sua pesquisa de DJ e de parte do trabalho como produtor e curador no selo Goma rec. O resultado é uma viagem passando por rap, beats experimentais e house mais relaxantes que de pista. Artistas locais como Marcelulose, Saskia, Pianki ao lado de Edgar, Febem são alguns dos nomes juntos dos internacionais Or:la, Luca Lozano e Bryan Kessler, além de duas tracks inéditas, uma de Tha_guts, e outra de fr0g. Ouça no player abaixo, e leia parte da conversa: 

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Enquanto DJ, BRF foi forjado ao lado de um grupo de estudantes e criativos que viram na ocupação do espaço público uma possibilidade de propor diversão e conscientização política e social ao mesmo tempo. Em atividade desde 2014, o coletivo Arruaça é um dos mais importantes da cidade desde então, movimentando e estabelecendo redes com artistas de diferentes estados do país. A inserção do designer ao grupo se deu pela arte. “A primeira Arruaça que eu participei foi para fazer um live paiting com pixo. A partir disso, passamos a estar mais próximos, discutindo a possibilidades artísticas para festa”, lembra. 

Além do encontro e da celebração, algo muito presente no discurso de eventos da época pela cidade, como o Largo Vivo por exemplo, o grupo começou a tensionar um tipo de som com músicas que as pessoas não tinham costume de ouvir no dia a dia. “A gente jogava nos sets referências do que as pessoas gostavam de ouvir no dia a dia e daqui a pouco desvirtuava. Até hoje, tenho as pastas com Caetano, Tom Zé, mas daqui a pouco virava e rolava um Urubu Marinka”. 

Com a Arruaça, Porto Alegre recebeu artistas como L_cio, Cashu e Tahira pela primeira vez, para tocarem de graça na rua. “Algo que nos formou também, pois tu estar vendo tua referência tocar é uma grande experiência. Então, rolaram uns aprendizados muito massas em pouco tempo, e a coisa foi tomando forma”, reflete.

O início da construção da persona de DJ de BRF se deu no grupo. “ Só a Paula [Posada] e o Gabriel [GB] sabiam tocar de fato. Naturalmente, fomos criando interesse em também compor o som das festas e foram os dois que me ensinaram. Em pouco tempo, estava tocando. A primeira vez que toquei foi na rua, uma sensação muito louca” lembra.

Com muitas mulheres na composição do grupo de trabalho do Arruaça, não demorou muito para elas também comandarem as aparelhagens. “Ao mesmo tempo, as gurias chegaram junto: ‘E aí, é só os guris que vão tocar?’ Elas manifestaram que também queriam tocar. E veio toda leva, a Kika, a Nalu, todo mundo descobrindo o equipa”, narra.

A edição de aniversário de dois do coletivo, com mais de mil pessoas na Praça da Alfândega, foi um marco em termos do que viria a ser hoje a estética sonora da festa. “Viramos a chave com a edição Ruas em Transe, em junho de 2016, em frente ao museu. Uma festa grande, que foi financiada e registrada para um episódio do documentário Ruas em Transe do Coletivo Batô, para a TV Brasil. Teve coco, teve rap, mas meia-noite começou a tocar house e techno e foi até de manhã. Uma multidão e o público abraçou. Ali teve uma expansão para todos, o que deu uma autoconfiança aos membros” rememora BRF. No mesmo ano, o grupo ainda recebeu outro importante reconhecimento ao integrar com uma festa o programa da exposição The Dance Party , comissionada pela Galeria Ecarta como parte do 3º Festival Kino Beat

“A gente tava ali na Arruaça fazendo sem saber direito o que a gente tava fazendo, se era arte ou celebração, quem era o nosso público, e o Leo Felipe chega numa pira dizendo: ‘gente, vocês salvaram a cidade, isso que vocês estão fazendo é arte. Vem aqui que eu vou colocar vocês no Museu e vou financiar uma festa’. E nos demos por conta que, sim, estávamos produzindo arte”. A parceria com o crítico e curador de arte rendeu muito mais: “O Leo é uma pessoa muito importante pra isso que viemos fazendo. Tem A História Universal do After, um livro que está prestes a ser lançado, um trabalho grandioso realizado pelo Leo com base nessa vivência junto a nós. Algo incrível”, adianta BRF. 

A partir do amadurecimento dos integrantes do coletivo, novos projetos foram criados entre o grupo. Bruno passou a integrar o selo Goma rec. também em 2016. “A Goma surgiu na ideia de lançarmos nossos sets, de modo despretensioso, sem intuito de ser um negócio tão a sério. Precisávamos pagar a conta do Soundcloud, fizemos uma festa e conseguimos. A partir disso, temos hoje mais de 60 sets de Djs parceiros do Brasil, além de lançamentos autorais de produtores”.

O desenvolvimento da cena trouxe festas maiores, de formato fechado, ainda com a intenção de acessibilidade, permanência e formação de público, como a BASE Poa. “A Base veio naquela referência de concreto puro. Ela se assume como uma proposta de festa, pro lado mais sério da eletrônica, muito ligada ao techno no início. Um cartaz mega minimalista, num momento em que a referência que se tinha era muito tropicalista, cheia de coisas e flores. Eu era um espectador achando aquilo foda. Mas desde a primeira envolvido, ajudando no caixa, dando pitaco. Até que naturalmente, sem ter pra onde correr, com a mudança do Maurício Kessler, que era o responsável pelas artes de divulgação da festa, pra São Paulo, e por proximidade, eles me chamaram. Já existia um desejo e veio a responsa”, diz.

Após fazer alguns trabalhos para a identidade visual das edições da festa, com a mudança de Leo Felipe, responsável pela cenografia da Base, para São Paulo, Bruno acumulou a função de pensar a ativação artística das locações também. “A primeira que eu me junto à arte foi a Base e Metanol FM no ano passado, com um telão enorme no [Bar] Opinião para dar conta. Nas ideias de breefing pra festa com o Akin, rolou umas trocas muito massa. É um cara que deu um incentivo, super motivou o trabalho visual com projeções, clareou a parada. Então, viemos experimentando elementos que estivessem na identidade visual, trazendo a referência da divulgação pra festa. Se a estética do cartaz era pixo, lá dentro estava pixado. Se a referência era concreto, tinha concreto lá dentro. Também, buscar compor as luzes conforme as cores do cartaz de divulgação. É essa contribuição que dei a festa. Além disso, pensar na performance de projeção alinhada a isso. Algo que não era feito. Explorar os vídeos na projeção”, recorda. 

Sobre a identidade da festa, BRF destaca que a Base sempre teve um apelo artístico forte. “Um designer, um curador de arte e um artista incríveis. Então é um desafio constante. Uma demanda grande, já que surgiu uma oferta maior de festas na cidade com investimentos distintos em outras aplicações. Então a ideia é essa. Tá no conceito da festa, se virar com o que a gente tem. Algo que o Leo sempre falou ‘Fazer bem feito com o que se tem disponível’. A gente vai trazer djs que são novidades, investir na educação da pista. Com o tempo a galera vai entendendo a diferença entre uma e outra”, avalia. 

“Nesta edição de sábado da Base, partimos de uma referência já usada naquele mesmo espaço em outras duas edições da festa, que é a utilização dos andaimes na construção da cenografia”, revela. “Um negócio que o Leo Felipe fazia muito era explorar elementos presentes na própria locação e jogar, o que sempre deu muito certo. Agora, não tem o que pegar na locação. Não tem Leo Felipe e até então estamos com o Alexandre Moreira distanciado, por questões pontuais”. 

BRF fala empolgado sobre o cenário aquecido de festas na cidade e o vê como positivo. “É um desafio manter a festa under, com uma oferta cada vez mais alta de festas, inclusive colidindo datas. Acaba sendo positivo pro rolê. Te leva a explorar novas formas, tu vê que tem um outro público e que esse público gosta de uma coisa parecida. Ao mesmo tempo que ‘abre’ uma concorrência, tu percebe teus aliados. Rolou isso recentemente, entre a Plano e a Arruaça, um embolamento muito massa, uma troca muito verdadeira. Isso tudo gerou uma vontade de fazer mais, melhor, grandioso”, declara.

A responsabilidade de fomentar o cenário local, é vista como determinante pelo DJ. “É necessário abrir espaço para novos nomes. Então, na Base, a gente pode citar Pianki e Fritzzo, que roubaram a cena em uma festa de duas pistas, sendo a outra com uma oferta de artistas de fora da cidade. Agora para sábado temos a Mari e o Martinelli, o que gera uma segurança pra quem tá começando, tocar em um rolê mais maduro como é a Base, algo que todo mundo quer. E tudo por merecimento, pois são pessoas que estão envolvidas diretamente com a manutenção do cenário. Precisa se enxergar pros lados, coletividade é a chave. E talvez é isso que muitas festas pecam. Por não reconhecer uma cena local, por achar que um nome de fora vai ser muito mais importante, e na prática tem se demonstrado um pouco diferente na nossa bolha”, comenta.

Passados cinco anos de Arruaça, BRF enxerga ativos diferentes e importantes. “A realização máxima da parada é abrir porta pra outra galera vir e dar continuidade. Tenho a Fritzzo como um exemplo de alguém que teve o acesso a referência e daqui a pouco virar a chave e estar lá junto protagonizando a parada, pra citar um exemplo recente” pontua. 

A conexão com Brasil é outro ativo rico construído ao longo dos anos. “Sempre de modo aberto, colocando os locais em contato com esses artistas. Trouxemos atração pra Base que tocou na Arruaça, por exemplo. Tivemos muitos membros circulando bastante, a Kika e Posada tocando em festas como Mamba Negra, ODD e no Red Bull Music Festival entre diversas outras festas no Brasil, então pensar a rede nacional no nosso caso é muito importante também”, conclui.

TRACKLIST LabXP mix’s #01 por BRF: 

Edgar – Felizes Eram os Golfinhos

Nara Vaez – Movimento Ereto da Coluna (TTR057)

Mago Beats – Bem Aventurado (Kbeats Vol.5)

marcelulose – Se Pa (feat. Saskia) [Goma.Rec]

Sampaio – Fissura (YLLWSLND#004)

Shy Time – Love Breaks [GOMA VA001]

Or:la – Limbosoup (FIT Siegel Digestion Mix) [HFT062}

Pianki – Interlúdio EP005 [ZONAᴇxᴘ]

Bryan Kessler – Say Hey [LOW003]

Luca Lozano – L.U.K.E. [RB070] S

Perreli – Esquizo [SUJXXXFREE001]

Tha_guts – Unreleased fr0g – incandescência Unreleased [Goma.Rec]

Febem – ESSE É MEU ESTILO ft AKIRA e BK [Ceia Ent] 



14/08/2019

Bruno Barros é produtor de conteúdo independente. s.brunobarros@gmail.com | @labexp
Bruno Barros

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