Barro comenta as várias ‘línguas’ de seu terceiro disco

11/11/2024

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Flora Negri/ Divulgação

11/11/2024

Conhecido músico e produtor da cena recifense, Barro lança seu terceiro álbum solo, Língua, neste 2024. Na produção do novo trabalho, o artista repete a dobradinha com Guilherme Assis, a mesma responsável pelo celebrado disco de estreia de Rachel Reis, Meu Esquema (2022).

Com uma sonoridade suingada misturando gêneros como pop, MPB, e como o artista diz, o “molho” pernambucano, o disco inclui participações de Chico César, Fran (Gilsons), Marley No Beat e da própria Rachel Reis, em “Deixa Acender”. O trabalho feito com a artista baiana, que mistura elementos brasileiros junto a influências do pop internacional, parece ter inspirado as produções próprias de Barro.

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“Passamos quase dois anos produzindo este disco, que tem muita referência do violão brasileiro”, diz o músico, no vídeo do Faixa a Faixa divulgado pela NOIZE.

Os ritmos tropicais de Língua, que também têm influência direta da música latina, como a bachata, dão o tom das músicas. Já o título, Língua, pode se referir tanto às múltiplas linguagens sonoras costuradas no álbum quanto à língua como parte do corpo, que desperta paladares e conversa com uma temática hedonista.

No fim, o disco aponta para um criativo pop à brasileira. Leia o Faixa a Faixa abaixo:

“Temporal” feat. Fran

“É uma canção de abertura e chamamento do Mar e seus impactos sobre nós: pele,
sentidos, mistérios. A parceria com Fran faz essa ligação entre litorais, Pernambuco, Rio de
Janeiro e Bahia. É uma faixa com um acento mais forte no instrumental, com um compasso
composto (em 5) no tema, mas com uma fluidez e com um sentimento de latinidade praieira
permeando a sonoridade. Destaque para as percussões de Icaro Sá (Baiana System) e
os sopros de Henrique Albino.”


“Me Ter” feat. Marley no Beat

“Essa é a canção hedonista trazendo um clima de sensualidade de amálgama do violão com
o beat de funk carioca e as percussões que chamam as células de maculelê,
que traz a clave mãe usando pelo próprio funk. A canção afirma a parceira com dois nomes
importantes dos meus últimos anos, Marley no Beat e Jáder. Destaque para os efeitos e
processamento da voz de Guilherme Assis.”


“Deixa Acender” feat. Rachel Reis

“Puro deleite praieiro. Música que chama os amores permeados pelas praias da capital,
colocamos a localização especificamente na Praia do Pina (Recife) na Barraca do Pingo. A
voz da sereiona trás o clima para faixa nos primeiros segundos e um clima de mistério de
um amor poético a beira mar. A música afirma a parceria coroada nos últimos anos com
Rachel Reis. A faixa é a primeira parceria com Juliano Holanda do disco e introduz esse
forte parceiro na construção das letras do álbum. A sonoridade dela é bem híbrida com um
beat que trafega pelo afrobeats (amapiano), as panelinhas do bregafunk e uma atmosfera
kizomba.”

“Esqueça Tudo”

“É uma das músicas mais atmosféricas do disco. A vibe foi juntar algo leve do violão e dos
sons dos sintetizadores mais delicados com momentos de batida de pagodão e a panelinha
do bregafunk que permeia toda canção. Uma das letras mais viscerais do disco e
confessionais. “Só me atravesse se me transpassar”, “Esqueça tudo, somos absurdo”.
Sinto que ela sintetiza muito das minhas buscas sonoras dos últimos anos e, por isso, escolhi
para ser o último single, abrindo os caminhos para o disco.”

“Cobra Corta Caminho”

“Afirmação de caminhos coletivos, saber que não ando só e que hoje estou mais consciente dos
caminhos que preciso cortar. A ideia da cobra como um símbolo poderoso e decolonial. O
título ficou tão forte no meu imaginário que tatuei um Cobra-coral com o nome da música.
Uma ijexá, porque, sim, trazendo uma poética de imagens e aliterações, que deságua num
atmosfera Fela Kuti, com a bateria de Ricardo Fraga que me acompanha nos shows e
esteve presente em todos os meus 3 discos. O coro coração afetuoso de Beatriz Sena,
Ludmila Singa e Guilherme Assis acentua esse trem que comprova que não andamos sós.”

“Se for pra ver”


“Nos últimos anos, o pagode do Didi foi um ponto de encontro em Recife. Essa música surgiu
dessa vivência ali. Fiz a minha gafieira, um samba que veio pelo dedilhado do violão. A
única do disco que escrevi sem parceiros e onde escrevo de um ponto de vista novo. Na
canção,me coloco como um ex-amor que encontra e observa a sua antiga companheira,
feliz e vivendo uma nova paixão. O arranjo dela é orquestral, Lucas dos Prazeres fez uma
percussão brilhante, tocando cada instrumento do samba, Henrique Albino trouxe uma
atmosfera incrível nos sopros, Guilherme Assis botou texturas dialogando com esse
universo do samba. Também chamei meu amigo de infância Guilherme Almeida pra tocar o
cavaquinho. Nos vocais, Dimitria, Thaiis e Uana deram o toque dos coros de rodas de
samba.”

Vira-lata Caramelo feat. Chico César


“Canção que surge a partir do meme do vira-lata caramelo, enxergando ali um lugar de
potência e deboche, que expressa um pouco do que somos enquanto povo. O cachorro das
ruas me fez pensar sobre como nós brasileiros temos a sagacidade de traduzir culturas do
mundo inteiro com um jeito nosso, particular e autêntico. Presente especial ter a presença
de Chico César para cantar comigo, ele que traduz também a alma brasileira e latino-
americana há tanto tempo. Bateria poderosa de Thomas Harres criando um clima xote
reggae, Zé Nigro nas teclas, Gui Assis brilhando nos arranjos e a poesia afiada de Juliano
Holanda que somou lindamente comigo na letra.”

“Idioma”


“A canção fala de uma separação, sobre aquilo que se extingue e aquilo que permanece.
Uma das mais íntimas do disco e que também materializa meu amor pelas bachatas,
boleros e a cultura latino-americana. Nessa música, tive o baixo acústico de Filipe de Lima,
que deu um toque especial. Também conto com a presença de Santiago Prieto
Saraiba
, músico da banda colombiana Monsieur Periné. Nos conhecemos pessoalmente no
ano passado em Sevilla, mas já trocávamos ideia há quase 10 anos na internet. Ele gravou
os instrumentos de corda: Cuatro Porto-riquenho, Charango e Guitarra Lap Steel, que
deram um sabor especial a essa canção. Para fechar as percussões certeiras de Tainã
Trocolli.

“Minha Língua”

“Ao longo do disco, algumas camadas de língua vão aparecendo, mas essa é a canção que
traz isso de forma mais explícita. Essa música tem um violão muito marcante, com
uma percussão de Ícaro Sá que se funde com os beats de Guilherme Assis. Tive a honra de
ter meu parceiro de composição, Ed Staudinger, nos sintetizadores e teclas magistrais. Essa
canção tem algo leve e, ao mesmo tempo, denso nos caminhos sonoros que ela vai
percorrendo. Acho que tem uma amálgama rítmica muito brasileira, mas com um
sentimento de latinidade muito forte.”

“Água de Rio”


“Essa é a música mais instrumental do disco. Se que penso nela, penso como se fosse uma
música para a turma da bike que curte pedalar cidade ouvindo música. No início, eu e Juliano
Holanda
fizemos uma letra enorme desenvolvendo essa ideia dos rios e seus
desequilíbrios. Mas, no decorrer da criação, fui entendendo que essa música não precisava
de tanta letra e ela era mais forte abraçando as camadas instrumentais.”

“De Fato”


“Essa foi a primeira música composta para esse disco e a última do álbum, também a única
sem percussão. Ela é, em algum nível, um contraponto, toda minimalista, esculturada entre o
violão de nylon e um naipe de violão de aço. O piano delicado pontua os climas da faixa.
Essa música marcou minha retomada de parceria de composição com Juliano Holanda e
abriu os caminhos para essa extensa colaboração do meu disco. A letra e a sonoridade me
levam para um lugar mais sensível e de certa forma um ponto de chegada após as várias
camadas do disco. O que eu sou de fato, é o meu amor.”

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