#BQVNC | O desconforto necessário da Filtro Dub

05/11/2015

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Por: Paula Moizes

Fotos: Caetano Salerno

05/11/2015

Há dois anos, a Filtro Dub jamais imaginaria que seu clipe de estreia seria baseado em fatos reais que fizeram a banda ser o que é. “À Queima-Roupa” explora o lado social e contextualiza um evento pessoal à altura de sua brutalidade. De 2013 pra cá, as guitarras de Rafael Medeiros soam ainda mais descontroladas, a fome por groove do baixo de Leonardo Storniolo está ainda maior e as letras de Lucas Barbosa ficaram ainda mais conscientes.

Um tiro na boca do vocalista. Ironia da vida ou não, a bala que parou na mandíbula de Lucas obrigou a banda a amadurecer rapidamente. Na cama do hospital, “À Queima-Roupa” ganhou seus primeiros versos. Enquanto o amigo se recuperava, baixista e guitarrista mergulharam em busca de novas sonoridades que expressassem o que estavam sentindo. O clipe abaixo foi lançado na semana passada pela Peregrino Filmes com um ângulo bem diferente da história toda.

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A direção é de Caetano Salerno, que acompanha a Filtro desde cedo: “Eu comecei a pensar no clipe no dia que ouvi ‘À Queima-Roupa’ pela primeira vez num ensaio deles. A ideia foi se desenvolvendo até o ponto que a gente viu que não precisava de uma ideia, mas retratar aquela história”. O vídeo pela visão do menino que atirou no vocalista conversa com a mensagem do single de que o problema é bem mais embaixo do que parece e, assim como o clipe, não é tão óbvio. Como explica Caetano, “é tudo uma suposição, a gente não sabe se isso aconteceu ou não com o garoto”. As filmagens foram feitas em um único dia, no interior do Rio Grande do Sul, em Encantado.

A sintonia das cordas é de sangue: Rafael e Leonardo são primos. Em 2012, se reuniram com Lucas pela vontade de fazer um som de atitude. “A gente tem muito gosto em comum e isso acaba refletindo no que queremos pro nosso som”, comenta o baixista. As influências da guitarra e do baixo vêm da potência de bandas como Red Hot Chili Peppers e Rage Against The Machine. Os vocais tem muito dos versos quebrados e marcados de Anthony Kiedis e da garganta de Zack de la Rocha, mas também buscam inspiração nas rimas e métricas do rap. O instrumental ainda bebe de bandas nacionais que vão além de um estilo absoluto, como Nação Zumbi, Ultramen e, mais recentemente, Criolo. Nas letras, o jogo com o sentido e o som das palavras é inspirado em artistas brasileiros como Gilberto Gil e Zeca Baleiro. “A ideia é ser diferente, é você não esperar a próxima nota que vai vir”, conta o vocalista. E o baixista completa: “A gente tava sentindo falta desse tipo de som”.

“À Queima-Roupa” é apenas a faixa de abertura do EP Nova Ordem, que saiu em janeiro de 2015. A incontida “Aura” aparece na sequência dos riffs estridentes e perturbados. Quem puxa é um baixo de ressaca, desconcertado. Não pelo álcool, mas pelo mar de revoltas que passou, e ainda vai voltar. A segunda música é a elevação mental e espiritual da banda, sem esquecerem de homenagear àqueles que tanto os inspiram.

Nos seis minutos de “Índole”, também conhecida entre a banda por “Renangate”, ainda falta tempo pra falarem tudo o que querem. É a composição mais vulnerável e, ao mesmo tempo, mais agressiva da banda. Toca na pena de morte e dá nome aos bois sem medo. Não há receios em “Índole”, afinal, o grito quando sai é descontrolado, impensado. É nesse caminho que a Filtro Dub pretende seguir: sem medo de espalhar seu pensamento e crescer com seus erros. Para eles, há um espaço na cena independente que ainda precisa ser melhor preenchido. “Tá faltando consciência lírica na hora de compôr as músicas”, expõe Lucas.

Por seu teor explícito, a apresentação de “Índole” foi censurada no programa de TV Radar, da TVE/RS. No lugar da faixa, a banda tocou “Sopros na Lua”, canção que vai estar no segundo EP e, mais tarde, no primeiro disco da Filtro. Indo do oriente ao sertão brasileiro, eles mostram que sua paz reside em um lugar chamado loucura.

Segundo Leonardo, “o EP mostra que foi por meio desse fato com nosso vocalista que desencadeamos nossa raiva e começamos a desenvolver melhor nosso estilo. Parece que a gente precisava tomar um tiro na cara pra se dar conta disso”. Foram alguns meses longe dos ensaios e dos palcos até que o vocalista estivesse pronto pra soltar a voz. Hoje em dia, a cicatriz da traqueostomia feita às pressas é a única marca aparente que ficou do assalto. Mas por dentro, tudo mudou: o osso agora é titânio, e o príncipio de uma mensagem se transformou em ideias sólidas prontas para serem expresadas a plenos pulmões.

Filtro porque nada que passa pela banda sai do jeito que entrou. Filtro porque o trio desconstrói suas próprias referências para compôr algo novo e diferente do que estamos acostumados a ouvir ultimamente. Um som que pode até causar estranhamento, mas que bom se for assim. “A gente tá experimentando, não estamos usando uma fórmula pronta, que é a que acaba ganhando muito mais espaço”. É por meio da bateria marcada – com grande contribuição de Rodrigo Jacques – e das cordas protagonistas dos primos Medeiros que o vocalista Lucas conduz e potencializa suas críticas sociais, nem que elas estejam nas entrelinhas.

Muitas filtragens ainda estão por vir. “Estamos produzindo a segunda música do segundo EP, que também vai ter três faixas. A ideia é lançar em janeiro do ano que vem e até o final do mesmo ano lançar um álbum com as músicas dos EPs e mais dez faixas que estão sendo criadas”. Eles ainda vão tocar sobre aborto livre, Monsanto, gênero e tudo mais que estiver escondido, esperando para ser escancarado.

Mais Filtro Dub:
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05/11/2015

InfinitA
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Paula Moizes