Ganja, substantivo feminino: Feminine Hi-Fi lança o clipe de “Femina Ganja”

10/10/2019

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Brenda Vidal

Por: Brenda Vidal

Fotos: Filipa Aurélio/Divulgação

10/10/2019

A cannabis sativa. A ganja. A marijuana. A maconha. A língua brasileira já enuncia: ganja, ou como você queira chamar, é substantivo feminino. Mas, se ainda não ficou claro para alguém, as minas da Feminine Hi-Fi vão tentar facilitar: no single “Femina Ganja”, as potentes vozes de Lei di Dai, Shirley Casaverde, Laylah Arruda e Mis Ivy ao lado da jamaicana Sister Carol – uma das pioneiras do reggae mundial – reforçam as conexões entre a erva e a mulher. 

Canções sobre cannabis fazem parte da cultura do reggae jamaicano; em terras brasileiras, soam como sopros em prol do combate ao preconceito com a planta e suas formas de consumo, sua proibição no país e da exaltação de suas propriedades medicinais. “Femina Ganja” é o mais novo lançamento do selo da Feminine Hi-Fi, coletivo paulistano no qual as mulheres são as protagonistas da cultura sound system e reggae, e conta a produção de Digitaldubs. O clipe, que você confere mais abaixo, é um trabalho da diretora Bianca Hoffmann e da assistente de direção Karú Martins

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A novidade chega com exclusividade para a NOIZE! Abaixo, assista a “Femina Ganja” e confira um papo com a Feminine Hi-Fi sobre as parcerias, sobre o roteiro do vídeo e sobre fazer reggae com sotaque brasileiro.

Como rolaram as parcerias?
Na época em que planejávamos o próximo lançamento do selo, fizemos uma curadoria de diversas artistas e estabelecemos algumas combinações, de acordo com os temas propostos, que nesse caso foi um “Ganja Tune”, nomenclatura tradicional na cultura jamaicana para músicas que falam da cannabis. Então, a escalação desse time não poderia ter sido melhor, pois cada cantora tem sua característica de composição e voz. Como já tínhamos proximidade com todas elas – Laylah Arruda, que é integrante da FHF; Shirley Casaverde e Mis Ivy que já haviam participado de nossas sessões; unimos a vontade de termos a Lei di dai neste trabalho, conciliamos as agendas, tarefa mais difícil, e convidamos MPC do Digitaldubs, um ótimo produtor, para realizar o desenvolvimento da base musical.

Laylah Arruda, Lei di Dai, Mis Ivy e Shirley Casaverde (Foto: Karú Martins).

E como se deu a aproximação com a Sister Carol?
Com a Sister Carol foi literalmente um presente do universo. Carol veio ao Brasil em 2018 como atração da programação da exposição “Jamaica, Jamaica”, que ficou em cartaz por vários meses no Sesc 24 de Maio, na capital paulista. Nossa produtora Lys Ventura fazia parte da equipe curatorial da exposição. Coincidentemente, o estúdio para gravação de “Femina Ganja” com as cantoras daqui já estava marcado para a semana em que Carol viria ao país. Como temos o amor pela música jamaicana em comum, ela foi convidada a passar o dia conosco no estúdio, conhecer outras cantoras de reggae e estabelecer essa troca cultural. Ela aceitou, curtiu muito a base instrumental e os processos criativos. Houve uma conexão muito positiva entre todas nós e, quando vimos, ela já estava compondo e cantando junto.

O que cada uma das vozes trouxe para o som? 
Cada vocalista somou com grande potência na música. Em geral, todas trazem em suas letras a leveza e o bom humor em busca de desmistificar a discriminação cultural que há com a cannabis, já comprovadamente medicinal e muitas vezes a única saída eficaz no combate a diversos tipos de doenças sérias. As cantoras também trazem na canção a correlação do feminino da planta com o nosso feminino e a força da natureza. 

“Femina Ganja” é a combinação entre força canábica e feminina (Foto: Karú Martins).

A raiz jamaicana está em tudo que envolve o Feminine Hi-Fi. Entretanto, que elementos vocês acham que diferenciam o som que vocês fazem aqui no Brasil do tipo que som que rola na Jamaica? Vocês acreditam no diálogo entre as influências brasileiras em seus sons ou evitam essa mistura? 
Para a gente, uma raiz não funciona sem a outra. Bebemos profundamente da música da Jamaica, mas somos embebidas na cultura em que nascemos. Nas nossas apresentações e bailes, estarão presentes as vozes nacionais, os riddims (instrumentais) feitos na nossa terra; nossa MC canta em português e a comunicação mistura termos que são praxe de lá e daqui. O que torna o que fazemos em algo especial diante de todo universo da cultura de reggae sound system que vivenciamos é justamente poder enxergar os diálogos das harmonias, batuques e melodias feitas aqui com o que é feito na música jamaicana, tá nessa mistura de influências mútuas vindas de uma mesma origem e que se disseminaram nos mesmos períodos por toda a América. É o real caso de semelhanças não serem meras coincidências. Além disso, na própria maneira da gente se portar, é inevitável um calor propriamente nosso nessa cena. Podemos dizer que a Feminine apresenta música jamaicana com sotaque brasileiro. 

Como surgiu a ideia de fazer o clipe e seu roteiro? O que vocês estão sentindo ao ver o resultado final?
O clipe surge como uma forma de aprimoramento do trabalho do nosso selo. Já temos duas músicas lançadas pelo Feminine Hi-Fi Tunes, “Loba Leoa”, de Laylah Arruda, e “Resound”, de Nina Girassóis, mas sem produção audiovisual. Depois de ouvirmos “Femina Ganja” foi impossível não pensar em um clipe. Desde então, como artistas independentes, trabalhamos arduamente para viabilizar essa produção e, principalmente, sincronizar as disponibilidades. Para o roteiro, nos reunimos, fizemos um compilado de ideias, entramos num acordo sobre o que seria interessante e também viável dentro das nossas condições – afinal a produção é absolutamente independente e feita 100% com recursos da própria Feminine Hi-Fi – para, a partir disso, a direção criativa e a executiva caminharem. Estamos sentindo felicidade por viver essa conclusão, muito amor, e principalmente orgulho por reunir mulheres incríveis neste trabalho, desde as intérpretes até a equipe do vídeo. E o mais importante, passando uma mensagem pertinente sobre a natureza e suas nuances.

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10/10/2019

Brenda Vidal

Brenda Vidal