Ir em um show de uma banda histórica com um novo nome é algo um tanto incomum. Chamar o Black Sabbath de Heaven and Hell é estranho, porém muito coerente. Partindo do principio de que o grupo não toca mais sons da fase Ozzy Osbourne, priorizando o trabalho que foi gravado com Ronnie James Dio nos vocais e, além disso, gravou um álbum de inéditas com este nome, é um sinal de enorme respeito aos fãs que, assim, não ficam com a sensação de estar vendo uma banda “tributo”. O Credicard Hall é um espaço bem grande – capacidade para em torno de sete mil pessoas – mas, no final das contas, não se mostrou o melhor local para um show de rock pesado. Além de um palco baixo, praticamente invisível para quem estivesse a mais de 20 metros do palco, a acústica não é das melhores. Foi bom poder ouvir todos os instrumentos em um volume ensurdecedor, mas volume não é qualidade. Meia hora atrasado – nem dá para chamar de atraso –, o show começou com uma energia forte no ar e um dos maiores sons da banda, “The Mob Rules”, de inicio com som meio embolado, mas resolvido nas músicas seguintes. É algo mágico poder assistir a esses quatro caras: Tony Iommi, Geezer Butler, Ronnie James Dio e Vinnie Appice, que colocaram suas composições para sempre na história do rock pesado. As primeiras lágrimas caem quando se escuta os dedilhados de “Children of the Sea”, com sua letra futuro-apocalíptica e cantada em coro pelo público que lotava a casa. Impressionante é ver como, mesmo com mais de 50 anos, Dio se comporta com sua voz: ela é simplesmente sem falhas e com aquele mesmo timbrezão que caracterizou seus primeiros álbuns no Sabbath e no Rainbow. Vinnie Appice na bateria parece um adolescente, tamanha a vontade com que conduz as baquetas. Geezer e Tony poderiam ficar sentados que já ganhariam a platéia, tamanha a energia que emana de seus acordes. Alguns sons do novo álbum The Devil You Know foram executados, muito bem por sinal, mas sem grande empolgação do público. Pontos altos do show, sem dúvida, ficaram por conta de “Die Young” – que foi tocada com um punch fora do comum – e a homônima “Heaven and Hell”, com todos os “ôôôs” e com direito a Dio falando ao público: “hey, agora é a minha vez de cantar!”.
Por: Ricardo Finocchiaro