Ian Anderson, do Jethro Tull: “Eu estou aqui para me fazer feliz”

06/10/2015

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Marília Feix

Por: Marília Feix

Fotos: Lucas Abreu

06/10/2015

O Jethro Tull tem o peso dos gigantes. São 47 anos de banda, mais de 30 discos lançados e 50 milhões de álbuns vendidos. O principal responsável por estas façanhas é o carismático líder do grupo: Ian Anderson. Flautista, guitarrista e compositor, o cara tem muitas histórias pra contar, afinal, já tocou no mesmo line up que o Led Zeppelin, os Beatles, The Who, Rolling Stones e Eric Clapton.

A banda está de volta ao Brasil para a turnê The Rock Opera, que começa hoje à noite em Porto Alegre, depois passa por São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte. Tranquilo e sem muitas cerimônias, o senhor Ian trocou uma ideia com a gente na tarde da última terça-feira, no saguão do hotel em que está hospedado em Porto Alegre.

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Você começou a se interessar por música através das revistas, como NME e Melody Maker. Ainda lê revistas impressas? Ou prefere se informar de outras formas?
Sim, eu continuo lendo revistas pra me informar, mas vejo muita televisão. Todas as noites assisto a CNN, BBC, Aljazira, Russian Television e Fox TV. Gosto de saber o que está acontecendo no mundo com diferentes pontos de vista e opiniões. Não sou um idealista em relação à política, mas procuro saber o que as pessoas estão pensando sobre a mesma história. Sempre achei interessante entender os eventos do mundo através dos olhos e ouvidos de diferentes jornalistas, cada um com a sua cultura e visão política. Alguns inclusive são meus amigos, então eu converso com eles e sei o que eles realmente pensam e acreditam.

E você coleciona vinil?
Definitivamente não. Eu passei provavelmente 20 anos da minha vida angustiado em relação a isso, não gostava de estar nos estúdios de produção onde se faziam os cortes dos discos de vinil. Você gravava e ficava feliz com o resultado do som. Mas depois, você levava pra a masterização e a qualidade acabava ficando comprometida. Agora, no mundo digital, vamos ser realistas: a partir do meio dos anos 80, começamos a captar o áudio de forma bem mais fiel. Então a segunda geração de CD’s soava muito bem. E hoje, é claro, você pode baixar um disco com qualidade exatamente igual a da gravação da master produzida em estúdio. Então, eu não sou um fã de vinil. É interessante porque é físico e as pessoas gostam, mas não acho que soem tão bem. Soa melhor hoje em dia porque os caras que trabalham em um ou dois lugares da Europa são muito bons. Só que nos anos 70 eles não entendiam direito o que estavam fazendo. Hoje sim, um disco de vinil prensado é bem melhor do que 30 anos atrás, mesmo usando a mesma tecnologia. A diferença é que o processo foi profissionalizado. Então, nessas condições um vinil pode ser muito bom, desde que haja o cuidado e limpeza adequados, porque é uma matéria prima frágil. Você também não pode derramar nada em cima, tipo cabelos (que eu já não tenho). É uma mídia perigosa, por melhor que seja a qualidade do disco, e vai se deteriorar muito rápido. Eu prefiro download de alta qualidade. Eu sou um cara digital, não vivo no passado.

Você aprendeu a tocar flauta durante os shows, certo? Foi melhor não ter tido aulas convencionais?
Nunca tive nenhuma aula. Eu sabia tocar um pouco de guitarra. Então eu tocava flauta imaginando que estava tocando guitarra. Eu imaginava a improvisação e as notas. Eu tocava flauta, mas com a lógica da guitarra. O que me fez um flautista diferente dos outros. Eu não tinha nenhum treino, nenhuma experiência, nenhuma aula. O meu jeito de tocar vinha do coração. Eu não sou o melhor flautista do mundo, sou só o mais barulhento.

No começo da carreira vocês trocaram muitas vezes de nome. O que lhes fez decidir por Jethro Tull?
Sim, acho que entre dezembro de 1967 e fevereiro de 1968 a gente teve uns 5 nomes diferentes. Porque a gente não fazia nenhum sucesso, então sempre tentávamos ser alguém diferente para garantir a volta do público. E os outros nomes eram ainda piores do que Jethro Tull (risos). Quando nos convidaram para ser residentes do The Marquee Club, o que era uma grande oportunidade para a época, nos tornamos o Jethro Tull.

Vocês fizeram uma turnê abrindo para o Led Zeppelin em 1969. Rolaram muitas polêmicas em relação à rivalidade entre as duas bandas. Qual foi a importância dessa tour na sua perspectiva? Teria alguma história em especial pra nos contar?
Eu tenho muitas histórias pra contar, mas não vou (risos). Foi importante porque a gente aprende com os outros. Led Zeppelin tinha um ano a mais como banda e já haviam feito uma turnê enorme no começo do ano, nos Estados Unidos. Foi uma boa oportunidade pra aprender com eles, assistindo-os no palco todas as noites.

Falando em shows históricos, você pode contar um pouco sobre o “The Rolling Stones Rock’n’Roll Circus”? Como foi essa experiência?
Foi um pouco assustadora, porque a gente estava começando. Eramos uma banda pequena e fomos tocar com os Rolling Stones, The Who, John Lennon e Eric Clapton. Eu estava apavorado porque nós não estávamos muito confiantes no que vínhamos fazendo. Foi legal estar lá, fazer parte daquilo. Mas foi meio assustador. Por muitos anos o projeto não foi lançado oficialmente, porque os Rolling Stones não estavam satisfeitos com a performance deles. Até que o Allen Klein, que tinha os direitos de reprodução, pediu a liberação ao The Who, Eric Clapton e a mim, e depois de todos terem aceitado, os Stones acabaram aprovando também. Mas foi um pouco triste, pois era uma das últimas vezes em que veríamos o Brian Jones, e ele já não estava muito bem. Era um cara muito legal, mas estava visivelmente no fim da vida… Foi interessante, até divertido, um aprendizado. Eu tinha uns 22 anos e aparecer com membros dos Beatles, Rolling Stones e The Who foi incrível. Até pela chance de assisti-los tão de perto. Eu também fico feliz por não ter participado do Woodstock. Eu sou o cara que disse “não” ao Woodstock. “Não muito obrigado, acho que estarei lavando o meu cabelo no dia”.

E hoje, você se diverte tocando?
Esse é o ponto. Não pense que eu atravessei milhares de quilômetros pra te fazer feliz. Eu estou aqui pra “me” fazer feliz. Porque “eu” quero me divertir. Esse é o grande lance da música. Você não vai pra agradar os outros, você faz porque você quer fazer, você faz porque se diverte fazendo.

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06/10/2015

Marília Feix

Marília Feix