Iuri Rio Branco: “Não adianta fazer um som se ele parece uma cópia de algo que já existe” 

29/05/2023

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Hanier Ferrer

Por: Hanier Ferrer

Fotos: Bel Gandolfo/ Divulgação

29/05/2023

Desde o início de sua carreira, Iuri Rio Branco se dedicou a construir produções em que tocava todos ou a maioria dos instrumentos. Da época em que tocava em bandas de reggae em diante, o que impera é a sua vontade de extrair sons e sentimentos inéditos, aquilo que ele gostaria de ouvir se estivesse na plateia de um show. 

“Não adianta você querer meter uns beats, fazer um sample de tal jeito, se você não é um beatmaker, se você não vive aquela cultura, não convive com a rapaziada daquela cena”, afirma ao refletir sobre a importância do produtor musical ser versátil e circular nas cenas em que ele realmente circula. No seu discurso, fica muito claro que ele valoriza a relação do produtor musical com a cultura na qual bebe para a criação de suas obras. Em tempos de globalização, misturas intensas e insanas, ele destaca que a música precisa ter verdade para fazer sentido e para alcançar muita gente.

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“Imagina ser uma pessoa que fica só indo atrás de tendências? Ah, tá rolando trap ou pisadinha, mas e aí? A sua música fica datada porque ela vai ficar presa naquele período, será lembrada até ser esquecida. Não adianta você fazer um som se esse ele parece uma cópia de algo que já existe. Eu faço música pra ser atemporal, que soe atual independente de qualquer coisa e que você ouça e diga ‘po, isso tem o dedo do Iuri’.”

Em meio a conversa, ele exalta a música independente de gêneros ou estilos, pois não é sobre criar amarras ou caixinhas, pelo contrário, é sobre abrir as caixinhas, é sobre usar de tudo, mas “sempre com verdade, com a sua cara”.

Aqui, ele traz o exemplo do seu maior hit, “Por Supuesto”, criado junto de Marina Sena para o disco De Primeira (2021). “Nessa de escutar as guias em voz e violão, ela mandou algumas melodias, inclusive essa, que a Marina disse para esquecer porque ela não tinha curtido. Escutei, fiz o beat em 30 minutos e disse que tínhamos. Era tudo comigo, sem essa de escutar fulano para ver se baixa alguma ideia, a minha abordagem era experimentar em cima da melodia”. 

Ao falar sobre outra parceria de longa data, Jean Tassy, ele fala basicamente a mesma coisa: “Daria para dizer que o Jean tem uma pegada do Djavan, algo único, que é muito dele, que representa uma identidade brasileira r’n’b originalmente nossa. Mas independente disso, ele é um cara que vive e respira isso o que ele faz.” Com Jean, ele produziu, entre outras, as faixas estouradas “Diz Pra Mim” e “+ 1 Minuto”, do EP Ontem (2018) e do álbum Amanhã (2021), respectivamente. 

Para o futuro, está cozinhando um novo disco com grande elenco: “Quando eu retornar de Los Angeles, vou direto para casa pra gente fazer o álbum. É assim que funciona, você se fecha, fica só você e a sua criatividade, trabalhando em cima e testando ideias. É assim que rola comigo e Jean. A gente sabe que não vai terminar o disco todo, mas as músicas já vão ser definidas.”

Independente do artista, o maior valor que ele dá para a música é para a capacidade de criar sons que mexem com as pessoas e que despertam emoção. E aqui, ele compartilhou um pouco também de como o trabalho dele influencia diretamente no todo – seja na pesquisa visual ou na direção de palco. 

“Cada um faz o seu trampo, né? Mas assim, tudo da parte do som a gente influencia diretamente o que vai ser feito pelo time de visual e figurino. Aí eles fazem as pesquisas de referências deles. A base é o som, e o restante é construído a partir dele. Tem que fazer sentido, as coisas tem que casar, não dá pra ser uma parada viajada. Tipo, quando eu faço o som, eu imagino como as pessoas vão reagir. Precisa ser aquele tipo de som que você ouve geral vindo junto, a galera entregando tudo ali, sendo tocada pelo som, saca?”.

Além de tudo isso, falamos também sobre o novo álbum com Marina, Vício Inerente, e qual era a intenção dessa proposta, distinta do debut. Ele reforçou o quanto esse disco tem a cara dele, um olhar mais global da música, que dialoga com diferentes regiões, que atinge públicos em qualquer lugar do mundo e, sem dúvida, faz a galera querer dançar. “Queremos falar com mais gente, queremos experimentar outras coisas e a proposta era ir para um rolê mais dançado, jogar os sons pra bater bem na pista, pros DJs tocarem pro público ferver na pista”, explica o produtor musical. 

Ao ser perguntado sobre o único feat do disco, Iuri conta que rolaram várias ideias, mas que podem ter ficado para uma versão deluxe (será que vem aí?). No fim, contou que a faixa com Fleezus, “Que Tal”, rolou depois de uma noite em que ele estava com Marina em casa fazendo som e dando uma relaxada, até que decidiram chamar o rapper e resgataram algo que eles haviam gravado há um tempo. Após encontrar as linhas, foram lapidando os sons até a gravação final. 

Olhando para tudo o que o produtor compartilhou, uma coisa é certa, ele flui numa onda livre, deixa as coisas acontecerem e se conectarem. Iuri enfatiza a necessidade de perder o preciosismo, que muitas vezes limita a criatividade, e que segundo ele, tem a ver com a busca por referências externas, ao invés de olhar para si mesmo. “Mano, uma coisa que eu posso dizer é o seguinte: Não perde muito tempo com uma faixa que já tá pronta, se não você vai encontrar algo pra mudar toda hora. Finalizou? Melhora na próxima e joga essa pro mundo. Às vezes você estraga uma faixa só porque fica muito em cima dela tentando aperfeiçoar.”

Conversar com o Iuri e refletir sobre o que falamos, seja pelos próximos passos ou pelo que ele já realizou, trazem uma máxima à tona: já passou da hora do mercado musical tratar produtores musicais como artistas, tanto quanto cantores e intérpretes. Além disso, cada vez mais é necessário olharmos para aquilo que é vem da gente, em vez de procurar em type beats ou coisas parecidas. De fato, um resumo da mensagem de Iuri pra todo mundo é simples: acredite em você e bote isso pra fora.

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29/05/2023

Hanier Ferrer

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