Diário de um South By Southwest

24/03/2016

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Jéf

Por: Jéf

Fotos: Jéf/Divulgação

24/03/2016

Não sou o cara mais corajoso do mundo. Nunca havia saído do país, não sei falar inglês, não gosto de viajar sozinho. Tudo isso passou pela minha cabeça antes de ir ao South By Southwest. Mas às vezes, a gente não pode pensar, é preciso ir lá e fazer.

Minha chegada no Texas na segunda, dia 14 de março, já foi um susto ao ouvir as primeiras instruções em inglês. Até brinquei “agora tiraram a legenda”. Mas consegui me virar. Me atrasei na alfândega em Houston e tive que atravessar o aeroporto correndo, sendo que não tenho o melhor preparo físico pra isso, até chegar e ser o último a embarcar no vôo para Austin. Chegando lá, minha mala havia ficado em Houston, mais um problema. Cheguei no hotel e só pude ir pro quarto 4 horas depois. Até que tudo se resolveu, quarto, mala… Finalmente consegui descansar, tomar um banho e ir para o festival.
Pra quem nunca foi South By Southwest, vou tentar explicar: imagine uma cidade inteira (Austin, no Texas) respirando e vivendo música durante uma semana. Pessoas do de todos os cantos do mundo ali, conectadas. Além da música, o festival também engloba cinema e tecnologia. Há tanta coisa pra se fazer, que fica difícil escolher. Em todos os bares e pubs, restaurantes, alguns hotéis, esquinas, e na própria rua, há artistas mostrando sua arte. Uma grande experiência.

*

Na terça-feira saí para caminhar. Parei em alguns pubs, assisti a alguns shows e voltei pro hotel cedo, já que na quarta era o dia do meu show. Minha primeira apresentação fora do país, pra um público que provavelmente não entenderia nada do que eu iria cantar. Mas tudo bem. Nada melhor do que estar no palco, segurar meu violão e cantar minhas músicas. Não importa pra quem, não importa onde, não importa pra quantas pessoas.

Na quarta-feira cheguei cedo no local do show e já tinham uns rappers tocando por lá. Quando terminaram, a produção começou a ajeitar as coisas para passagem de som. Me apresentei no palco da MMF Latam (Associação da América Latina) com outras artistas latinos, mas eu era o único brasileiro. Alguns probleminhas com a montagem do equipamento, alguns atrasos… E finalmente começou. Primeiro uma banda do Chile, Spiral Vortex. Os guris são muito bons, vale a pena conferir. Depois de uma banda cheia de guitarra, delay e batidas loucas na bateria, cheguei ao palco sozinho, com meu violão, sem conhecer ninguém. Aliás, tive sorte de encontrar meu amigo Iuri que acabou tendo que operar a mesa de som pra mim.

Jéf

Comecei a tocar, calmo, fechei os olhos e me imaginei em casa, sozinho, como gosto de estar. Terminou a música e ouvi aplausos e vibrações. Gostaram. Segui assim, tocando minhas músicas, num país que nunca havia imaginado estar, pra pessoas que eu nunca vi na vida e que talvez nunca mais verei. Antes do show, um rapaz veio pedir uma foto, falou comigo com um português meio enrolado, e disse que era mexicano. Contou que conheceu meu trabalho na internet, através de alguns amigos, e que estava aprendendo português por causa disso. Falou que viu que eu ia tocar e que estava muito feliz por conseguir me ver. Ele sorria tanto! Dei uns três ou quatro abraços nele, de tão feliz que fiquei. Assim, no meio do show, eu via aquele mexicano, cantando minhas músicas, e a sensação era… bom, não sei dizer. Gratificante, talvez. Ao fim do show, todo mundo estava cantado o coro da última música e batendo palma. Consegui! Eu e um violão. Aliás, na o violão era do meu amigo Nicolas Molina, que iria tocar depois. Fiquei pra assistir ao Molina Y Los Cosmicos, banda uruguaia do Nicolas que também fez um ótimo show, e acabei ficando amigo de todos os integrantes.

Molina y Los Cosmicos

Na quinta-feira, passada a ansiedade da minha apresentação, resolvi caminhar um pouco pela cidade. Fui até uma loja de discos chamada Waterloo, e lá estavam rolando alguns shows também. Comprei alguns discos que eu queria muito e no Brasil são meio difíceis e caros pra encontrar. Me perdi pela cidade, mas foi tranquilo. Assisti mais alguns shows pelo caminho e voltei pro hotel. Não sou muito da noite, ainda mais sozinho. Se eu tivesse me programado melhor, poderia ter levado alguém comigo, e talvez aproveitado melhor a viagem, mas, vivendo e aprendendo.

Na sexta fui procurar algum lugar pra almoçar. Chegando ao centro de convenções do festival, vi que iria rolar o show de uma banda de meninas chamada Hinds. Uma amiga havia me enviado uma mensagem dizendo pra ir, e fui. Elas se apresentaram em um palco grande, onde várias bandas maiores já haviam tocado, mostrando que elas ainda vão dar muito o que falar. Gostei muito do show. Vi algumas pessoas falando mal, mas gostei. É um indie meio tosco, cru, que eu gosto bastante. Elas tocaram muito bem e têm carisma. Estavam fazendo 5 shows por dia no festival! (Por sinal, a NOIZE já entrevistou as garotas, leia aqui.)

Hinds

Caminhando por Austin, em uma esquina, vi uma menina com uma guitarra, se ajeitando pra começar a tocar. Ela chegou com um patinete e montou suas coisas. Quando ela cantou a primeira frase e eu tive que procurar um lugar pra me sentar. Era incrível. Porém, chegou alguém da produção e disse que ela não poderia tocar ali. Desligou as coisas dela e saiu. Ela esperou. Ligou novamente e começou a tocar de novo. O cara voltou, desligou. Ela esperou. Ligou e tocou. O cara voltou, ligou pra alguém da produção. Até que resolveram deixar a menina tocar. A voz dela era incrível. Peguei um cartãozinho no chão: Alice Phoebe Lou, da África do Sul. Assisti a umas 5 músicas e depois procurei a menina na internet. Os clipes dela são ótimos e têm muitas visualizações.

Alice Phoebe Lou

Saí dali e procurei o lugar onde o Far From Alaska iria tocar. Confesso que nunca tinha ouvido eles, só ouvido falar. Tomei um soco na cara com o som deles. Vocês já devem conhecer. Baita show. O público foi a loucura, apesar de o show ter sido curtinho.

No sábado fui a um show em um hotel meio chique pra ver uma menina que estava no meu show tocar. Ela se chama Florência Nuñes e faz um folk com seu violão. Me identifiquei muito. Certamente faremos alguma coisa juntos. Depois fui assistir o Rubel, um carioca que morou um tempo em Austin e gravou seu disco lá. A banda que o acompanhava foi a mesma que gravou com ele e nunca haviam tocado juntos em um show. Foi muito emocionante. O espaço lotado de amigos deles, os músicos com os olhos embargados de felicidade e alegria e uma energia muito bonita no ar. Eu conhecia algumas músicas dele da internet e o show teve uma vibração ímpar. Esse cara já está dando o que falar por aqui, e é outro que eu indico.

Florência Nuñes

Florencia Nunes

Voltei pro hotel, descansei, fiz a mala e encarei mais algumas horas de aeroporto. Caminhei muito pelo festival, parei em poucos e ótimos shows, consegui me comunicar com as pessoas mesmo sem saber falar direito a língua, comi pouco pois gastei muito em hotel, mas no final das contas deu tudo certo. Uma experiência de vida incrível e muita história pra contar. Se eu puder dizer algo pra vocês é: viajem. Tente acumular o máximo de experiências, boas e ruins. Tudo é válido. E se tiver medo, que vá com medo mesmo.

Saiba tudo sobre o músico e autor em: ojef.com.br

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24/03/2016

Jéf

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